Título: Incertezas na Grécia
Autor: Diniz, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2012, Economia, p. 11

No dia seguinte à eleição que assegurou a maioria do parlamento ao partido Nova Democracia, reduzindo a possibilidade de que o país abandone o Euro, a Grécia tenta juntar as peças do imenso quebra-cabeça criado pela recessão que se arrasta por cinco anos. Após a vitória nas urnas, o líder conservador, Antonis Samaras, tenta compor um governo de coalizão, comprometendo-se a afrouxar o programa de austeridade adotado pelo governo para viabilizar a ajuda internacional. Foi com esse discurso que o partido radical de esquerda Syriza e uma série de pequenas legendas conquistaram cerca de metade dos votos no último domingo.

Samaras ouviu do presidente da Grécia, Karolos Papoulias, que o país honraria os compromissos atrelados ao resgate de 130 bilhões de euros (US$ 164,12 bilhões). Mas, em seguida, o líder do ND acrescentou: "Vamos simultaneamente fazer algumas alterações necessárias no acordo de resgate, a fim de aliviar o povo do desemprego e das enormes dificuldades".

Irritação O líder do ND se reuniu com o líder carismático do Syriza, Alexis Tsipras, que descartou aderir ao governo, e com o terceiro colocado nas eleições, o socialista Pasok, que não se comprometeu. O pequeno partido Esquerda Democrática indicou que estaria disposto a apoiar Samaras se o acordo de resgate for atenuado.

Já irritada com o que vê como um ritmo lento das reformas gregas, a Alemanha descartou mais atrasos nas metas do pacote de resgate — o segundo recebido pela Grécia desde 2010. Durante a reunião de líderes do G-20, Angela Merkel afirmou que qualquer afrouxamento da reforma seria inaceitável e reiterou que os gregos tinham que se ater aos compromissos que já assumiram.

O chefe do Eurogroup, Jean-Claude Juncker, foi mais condescendente, e admitiu que os parceiros europeus podem concordar em realizar concessões às medidas e reformas de austeridade, mas sem alterá-las substancialmente. "Enviaríamos os sinais errados se realizássemos concessões sem bons motivos", afirmou Juncker, destacando a importância de que a chamada Troika — formada pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE) — determine o que é possível e onde a Grécia precisa melhorar.

Uma missão dos credores internacionais será enviada a Atenas tão logo seja formado o governo de coalizão, o que, de acordo com fonte ouvida pela Reuters, pode acontecer ainda hoje. O presidente da União Europeia, José Manuel Barroso, reconheceu que a Grécia realizou importantes ajustes orçamentários, mas não conseguiu implementar reformas estruturais necessárias, como a privatização de ativos do Estado.

Fora da Europa, o resultado das eleições foi recebido com alívio. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apontou para um cenário positivo sobre a formação de um governo para trabalhar com os parceiros internacionais em busca de uma solução para a crise. Em discurso no G-20, Obama defendeu que os líderes trabalhem para estabilizar o sistema financeiro mundial e evitar protecionismo.