O globo, n. 31109, 09/10/2018. País, p. 9

 

Apoio à Lava-Jato levou candidatos à vitória

Tiago Dantas

Gustavo Schmitt

Dimitrius Dantas

09/10/2018

 

 

Grupos criados para protestar pelo combate à corrupção ganham representantes no Congresso; dos nove senadores citados em investigações da operação que tentaram se reeleger, apenas três chegaram lá

A eleição premiou nomes que ficaram conhecidos por defender a Lava-Jato e puniu políticos investigados na operação. Integrantes de movimentos que organizaram manifestações contra a corrupção nos últimos anos, como o Brasil Livre (MBL ) e o NasRuas , elegeram representantes para o Congresso e as assembleias legislativas. Por outro lado, dos nove senadores citados na Lava-Jato que tentaram a reeleição, só três conseguiram a vaga.

Com presença forte nas redes sociais, o MBL conseguiu eleger um dos líderes do movimento, Kim Kataguiri, para a Câmara dos Deputados. Ele foi o quarto candidato mais votado por São Paulo para deputado federal, com 465 mil votos.

—O eleitorado se identifica com a bandeira do apoio à Lava-Jato que temos defendido. Isso com certeza contribuiu. Mas não só. Trabalhamos pelo impeachment da ex-presidente Dilma e pela mudança na mentalidade da população que se decepcionou com a esquerda —disse Kataguiri.

Outra deputada iniciante na Câmara dos Deputados é Carla Zambelli, líder do movimento NasRuas. Durante os protestos a favor do impeachment de Dilma, o movimento ficou conhecido por inflar bonecos gigantes do ex-presidente Lula vestido como presidiário, que ficou conhecido como “Pixuleco”.

Em suas postagens nas redes sociais, Carla faz ataques ao PT e apoia o candidato do seu partido à Presidência, Jair Bolsonaro.

Na Assembleia Legislativa de São Paulo, foram eleitos dois nomes ligados ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Janaína Paschoal bateu o recorde de votação para uma candidata a deputado estadual: 2.060.786.

Movimentos de renovação

Além de todas as caras novas eleitas na onda gerada pelo candidato do PSL, Jair Bolsonaro, os movimentos de renovação política criados com o objetivo de melhorar o nível do Poder Legislativo elegeram, somados, 15 deputados federais e dois senadores. Entre todos os grupos, o número de candidaturas chegou a 160.

Dos nove senadores citados na Lava-Jato que tentaram a reeleição neste ano, três deles conseguiram a vaga. Ciro Nogueira (PP) e Humberto Costa (PT) lideraram as votações no Piauí e em Pernambuco, respectivamente, enquanto Renan Calheiros (MDB) ficou com a segunda vaga em Alagoas.

Ficaram de fora medalhões como Romeró Jucá, Valdir Raupp e Eunício Oliveira, que é presidente do Senado. Garibaldi Alves Filho (MDBRN), Lindbergh Farias (PTRJ) e Edison Lobão (MDBMA) ocuparam a quarta posição em seus estados e também vão deixar o Congresso.

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Bancada feminina na Câmara sobe de 51 para 77deputadas federais

Renata Mariz

09/10/2018

 

 

Crescimento é de 51% em relação às eleições de 2014; no total, elas agora representam 15% da Casa; PT, PSDB e PSL são as siglas que mais elegeram

O número de mulheres eleitas para a Câmara cresceu 51% em relação a 2014. Foram 77 vencedoras, que ocuparão 15% das 513 vagas disputadas. Na última eleição, 51 candidatas se elegeram, o que correspondeu a 9,9% das cadeiras.

No Senado Federal, sete mulheres foram eleitas, que representam cerca de 13% das 54 vagas em disputa. Nas eleições de 2014, houve cinco vencedoras, que ocuparam 18,5% das 27 cadeiras abertas à época.

As eleições para o Senado são alternadas para renovar um terço, em um pleito, e dois terços, no seguinte, do total de 81 cadeiras. Já na Câmara, todas as 513 cadeiras de deputado são disputadas a cada eleição.

Os partidos com mais mulheres eleitas para a Câmara são PT (10), PSDB (9) e PSL (8). As demais estão pulverizadas em quase 20 outros partidos. No Senado, PSL tem duas eleitas. E PSB, PPS, PP, PHS e PSDB fizeram uma senadora cada.

A bancada feminina da Câmara trará diferentes perfis a partir do ano que vem. Em São Paulo, a jornalista Joice Hasselmann (PSL), ligada a Jair Bolsonaro, teve a segunda maior votação no estado, com mais de um milhão de votos. Ela simboliza a bancada de direita, que ganha espaço nestas eleições. É usuária assídua das redes sociais e tem como bandeira o combate à corrupção.

Tabata Amaral (PDT-SP) é um outro rosto da renovação na Câmara, com vitória expressiva de quase 270 mil votos. Filha de um cobrador de ônibus e uma diarista, a jovem da periferia se notabilizou pela dedicação aos estudos. Disputou uma vaga para cursar astrofísica em dez universidades americanas. Passou em seis e escolheu Harvard. Tem como principal plataforma a melhoria da educação.

Há também deputadas veteranas que se reelegeram, como Luiza Erundina (PsolSP), Benedita da Silva (PTRJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). São exemplos de parlamentares experientes e com forte base popular.

Apesar dos avanços da lei eleitoral, que estimula a presença feminina, o Brasil ocupa a 152ª posição num ranking de 192 países sobre representatividade de mulheres no Parlamento.