O globo, n. 31109, 09/10/2018. País, p. 11
Resultado em dez cidades consolidou voto 'Bolsowitzel'
Juliana Castro
09/10/2018
Municípios em que presidenciável do PSL obteve melhores votações são os mesmos em que Witzel somou maiores percentuais
Com um crescimento surpreendente na reta final da campanha de primeiro turno, alavancado pela proximidade coma família Bolsonaro, o candidato ao governo do Rio Wilson Witzel (PSC) conseguiu atrelar seu desempenho nas urnas aos resultados do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), a quem defendeu ao longo dos debates na TV e em entrevistas, garantindo uma votação casada, o “Bolsowitzel”.
Os municípios em que o postulante do PSL ao Planalto alcançou seus melhores percentuais de voto do Rio são praticamente os mesmos em queWitzel também somou suas maiores porcentagens. Das 15 cidades em que Bolsonaro teve seu melhor desempenho no estado, em dez o candidato do PSC também impôs as maiores vantagens sobre Eduardo Paes (DEM), com quem vai disputar o segundo turno.
Das 92 cidades do estado, o candidato do PSC conseguiu mais da metade dos votos válidos em 15 e o presidenciável do PSL, em 82 municípios. Bolsonaro teve seu melhor desempenho em São José do Vale do Rio Preto e São Pedro da Aldeia, dois municípios em que Witzel também registrou seus melhores índices.
Nos municípios fluminenses em que Bolsonaro obteve um percentual menor, Witzel seguiu o mesmo caminho. O candidato do PSC encerrou sua campanha no primeiro turno junto ao senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho de Jair. Ganhou apoio dos partidários do presidenciável nas redes sociais enos grupos deWhatsApp.
O município onde houve a maior diferença entre a votação de Bolsonaro e de Witzel foi em Carapebus. Nas cidades em que essa divergência foi maior são justamente nas que o candidato do PSC consegue vislumbrar um avanço maior.
Com laços estreitos coma família Bolsonaro, o candidato do PSC construiu vantagem em cima de Paes, que tinha o maior tempo de TV e a maior coligação, que incluía o MDB, sua antigo partido. Os emedebistas tiveram a hegemonia no estado por quase duas décadas e sempre se orgulharam de ter forte capilaridade, com amplo número de prefeitos, vereadores e deputados.
O mapa de votação aponta que Witzel venceu não só na capital que foi governada por Paes como em cidades do interior —foi nelas que o candidato do PSC alcançou seus melhores índices
Ontem, Witzel fez sua primeira agenda de segundo turno na Central do Brasil:
— Eu tenho uma agenda mais conservadora que defende, por exemplo, uma aplicação mais rigorosa do Código Penal. E essa é uma pauta também do PSL de Jair Bolsonaro. Há uma identidade.
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Placa de Marielle foi quebrada em ato de ex-juiz
09/10/2018
Vídeo mostra deputado eleito pelo PSL destruindo homenagem a vereadora assassinada em março
Mensagem nas redes sociais diz que a placa de rua em homenagem a Marielle Franco, assassinada em março, foi quebrada num ato de campanha do candidato do PSC a governador do Rio Wilson Witzel. A informação é #FATO.
Um vídeo gravado em Petrópolis mostra Witzel com Daniel Silveira (PSL), eleito deputado federal, e Rodrigo Amorim (PSL), deputado estadual mais votado, num ato de campanha. Witzel pede votos para Silveira e depois a câmera mostra Amorim falando :“Esses vagabundos foram na Cinelândia e,à revelia de todo mundo, pegaram uma placa da Praça Marechal Floriano e botaram uma placa escrito Rua Marielle Franco. Eu e Daniel fomos lá e quebramos a placa.” Witzelsef ilma e diz :“É isso aí pessoal, olha a resposta .”
Em nota, ele disse que discursava sobre suas propostas quando o candidato quebrou a placa. O candidato reiterou que lamenta a morte de qualquer ser humano em circunstâncias criminosas. Pouco mais de seis meses após o assassinato de Marielle, o Rio elegeu quatro deputadas ligadas a exvereadora: Renata Souza, Dani Monteiro e Mônica Francisco para a Alerj, e Talíria Petrone para a Câmara dos Deputados, todas pelo PSOL. Houve, ainda, outras eleições simbólicas, como a de Áurea Cristina (PSOL), que era amiga de Marielle, ao cargo de deputada federal de Minas; Olivia Santana (PCdoB), primeira negra na Assembleia Legislativa da Bahia; e Érica Malunguinho (PSOL), primeira transgênera na Assembleia Legislativa de São Paulo.
A bancada feminina na Alerj passou de oito deputadas para 12. Já na Câmara dos Deputados foram eleitas 50% de mulheres a mais que em 2014. O número de negras cresceu de 10 para 13, e o de negros de 93 para 113.
—A gente diz que não existe sucessora da Marielle, mas surgiu uma grande disposição de mulheres. É uma resposta à execução. Vamos levar adiante pautas firmes, de enfrentamento ao genocídio do povo negro, de gênero, e outras mais que a Marielle encampava — afirmou Talíria, que era vereadora de Niterói e amiga de Marielle, e somou 107 mil votos, a nona deputada federal mais votada no Rio. — Depois do atentado houve uma discussão importante e decidimos que precisávamos de uma resposta política. A gente quer estar no congresso. A campanha foi muito emocionante e potente.
A deputada estadual mais votada pelo PSOL foi Renata Souza, com 63.937 votos. Exchefe de gabinete de Marielle, ela também foi criada na Maré, e trabalhou no gabinete de Marcelo Freixo, outra figura cujo trabalho ela pretende dar continuidade.
—Com a execução de Marielle, nos sentimos chamadas a ocupar esses espaços, que historicamente nos foram negadas — afirmou ela, que quer presidir a Comissão de Direitos Humanos.
Entretanto, o aumento da representatividade negra e feminina é acompanhado de uma apreensão, explicitada pelas futuras deputadas, com a conjuntura do país e a eleição de diversos candidatos de oposição à pautas como identidade de gênero e movimento negro. Para Mônica Francisco, há um misto de sentimentos após o resultado nas urnas.
— Ainda nem sabemos quem executou a Marielle, mas estamos aqui, sendo resposta a essa barbárie. Mas gente chega num momento difícil da história, com aumento do conservadorismo — explicou Mônica, que quer se colocar como uma liderança evangélica progressista.
A mais jovem dentre as mulheres eleitas é Dani Monteiro, de 27 anos. Apesar de já ter participado de outras campanhas, pela primeira vez ela foi candidata, num processo em que a figura de Marielle lhe deu mais força, disse, para superar o preconceito contra uma jovem negra.
—Foi difícil virar deputada, mas seria muito mais difícil sem a figura dela — afirma Dani, que destaca que a semente de Marielle nasceu na sua eleição em 2016, e não no seu assassinato. — A gente já vinha sendo construída por ela. Era necessário viabilizar outras vozes, de mulheres.
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Desempenho de Paes nas urnas foi pior que em 2012
09/10/2018
Embora o eleitorado do estado seja bem maior que o da capital, total de votos foi menor que o alcançado em sua reeleição a prefeito do Rio
O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) vai para a disputa de segundo turno pelo governo do Rio com um resultado pior do que o esperado. O candidato do DEM somou no primeiro turno desta eleição 1.494.831 votos — 1,64 milhão a menos que Wilson Witzel (PSC), que começou a campanha com apenas 1%. O número de votos em branco e nulos atingiu 1,7 milhão e também foi maior do que a votação de Paes.
Embora o eleitorado do estado seja mais do que o dobro da capital fluminense, o desempenho de Paes no pleito do fim de semana foi pior do que em 2012, quando ele foi reeleito para a prefeitura do Rio no primeiro turno. Naquela ocasião, ele obteve 2.097.733 votos —602 mil a mais do que agora.
Estratégia readaptada
O segundo lugar inesperado se soma à surpresa do exprefeito de ter que enfrentar um adversário que não era cogitado pela campanha. Depois da saída de Anthony Garotinho (PRP), barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a equipe de Paes dava como certo que enfrentaria Romário (Podemos), que terminou apenas na quarta colocação. Por isso, o ex-prefeito se viu obrigado a readaptar sua estratégia eleitoral.
A ampla vantagem de Witzel no resultado do primeiro turno também ficou evidenciada na capital que foi governada por Paes. Somente na cidade do Rio, o candidato do PSC obteve uma vantagem de 456 mil votos sobre o adversário do DEM. O ex-prefeito só ganhou de Witzel em duas zonas eleitorais na capital, ambas no Jardim Botânico.
No primeiro dia de campanha do segundo turno, Paes fez uma caminhada no calçadão de Belford Roxo, na Baixada Fluminense e se disse “animadíssimo” e feliz por estar no segundo turno:
—Comigo as coisas funcionam ao contrário. Um desafio desses me dá enorme energia e disposição — disse Paes.