O Estado de São Paulo, n. 45645, 07/10/2018. Política, p. A4

 

Nova polarização marca 1 º turno sem propostas

 

 

 

 

07/10/2018

 

 

 

 

Votação. Com 13 concorrentes, disputa pela Presidência se afunila nas candidaturas de Jair Bolsonaro, do PSL, e do petista Fernando Haddad, rompendo o duelo PT x PSDB

Não são poucos os dados e fatos que reforçam o caráter singular desta eleição presidencial. A campanha mais curta - a disputa oficial começou há 35 dias - chega hoje à votação em primeiro turno polarizada em duas candidaturas que romperam a tradição da disputa PSDB x PT, duelo recorrente há24anos. Pesquisas indicam um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), embora o capitão reformado tenha apresentado tendência de crescimento nos últimos dias.

Desde 1989, uma eleição não reunia tantos concorrentes ao Palácio do Planalto. Treze postulantes se apresentaram em meio a um cenário de forte desgaste da classe política e de impopularidade recorde do governo do presidente Michel Temer. O centro fragmentado, resultado do racha da coalizão que sustentou Temer após o impeachment de Dilma Rousseff, ajudou a configurar a nova polarização.

Bolsonaro capturou dos tucanos o papel de contraponto ao PT e se consolidou como a principal opção do eleitorado antipetista - o que ajuda a explicar a resiliência do líder desde que a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva foi barrada pela Justiça Eleitoral.

Esta campanha já teve um candidato preso, caso de Lula, condenado na Operação Lava Jato, e outro internado em um hospital, caso de Bolsonaro, que foi alvo de uma facada em Juiz de Fora (MG). Os episódios ilustram o grau elevado de acirramento da atual disputa, marcada pela inédita onda de desinformação e notícias falsas. Somente o projeto Verifica, núcleo de checagem do Estado, recebeu, de meados de junho até o momento, 90 mil mensagens com pedidos de verificação de conteúdo.

Haddad assumiu a candidatura presidencial do PT sob o impacto do impeachment de Dilma e da prisão de Lula por corrupção. Bolsonaro expôs ideias radicais e compete com o petista no tamanho da rejeição.

Com este ambiente eleitoral, até as candidaturas de centro apelaram para a agressividade. Além de radicalizar o debate, a predominância das candidaturas situadas nos extremos deixou em segundo plano a discussão sobre as reformas estruturantes e medidas para tirar o País da crise. Os 147 milhões de brasileiros aptos a votar vão às urnas sem um repertório concreto de propostas para resolver os problemas que o próximo presidente terá de enfrentar a partir de 2019.