Título: Assédio no Congresso
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2012, Política, p. 7

"Quem tem um passado de tanta crueldade com a democracia brasileira não pode ter o direito de protagonizar ou de participar de uma aliança como a nossa", Luiza Erundina (PSB-SP), deputada federal, sobre Paulo Maluf

Um dia depois de anunciar sua retirada da chapa do petista Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) não hesitou em capitalizar politicamente o burburinho provocado pela sua decisão e disparou pesadas críticas contra o deputado Paulo Maluf (PP-SP), articulador da aliança entre o PP e o ex-ministro da Educação. "Quem tem um passado de tanta crueldade com a democracia brasileira não pode ter o direito de protagonizar ou de participar de uma aliança como a nossa", atacou Erundina.

"É normal que se faça inflexões na política. O que não pode acontecer é fazer concessão de princípios. A aliança com Maluf é uma concessão dos princípios que o PT cultivou", disse a deputada, que chegou pela manhã à Câmara buscando evitar os trajetos mais movimentados da Casa, como o Salão Verde, no caminho para sessão de votação de projetos da Comissão de Ciência e Tecnologia, iniciada às 9h30.

A postura discreta de Erundina mudou ao longo do dia, reagindo ao assédio e à repercussão de sua desistência de ser vice de Haddad. "O telefone dela não parou", disse um assessor. Na comissão, a deputada foi se soltando. Brincou com os fotógrafos que perseguiram cada gesto seu. Diante da insistência, chamou-os para um café em seu gabinete. Lá, desabafou. Na avaliação de Erundina, o encontro entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Maluf, na segunda-feira passada, foi "fatal". "A aliança criou um clima de perplexidade, um desconforto entre a militância petista. A militância tem exigências, não são pessoas indiferentes que os dirigentes decidem as coisas e elas seguem", analisou.

Foi um ensaio para a dureza dos ataques que fez ao adversário político, durante a coletiva. "Ele (Maluf) só quis aparecer em outra imagem que não aquela de estar sendo procurado pela Interpol", criticou Erundina.

"Ele se higieniza ao lado de forças que não têm nada a ver com o malufismo. Somos do outro lado. Só quem ganha nisso é ele, aparecendo, falando comemorando junto. É todo o significado que tem", disse Erundina, interrompida brevemente pelo deputado petista Paulo Teixeira (SP), que entrou na sala para lhe dar um abraço. Na saída da entrevista, a deputada quase parecia ser candidata de novo. Tirou fotos com visitantes, abraçou um segurança, apertou a mão de uma funcionária da limpeza que passava distraída na frente da comissão. "Vem cá, minha filha. Fala comigo", insistiu Erundina, chamando a moça.