Título: Cachoeira espionou juiz
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2012, Política, p. 8

Bicheiro escalou aliados para investigarem magistrado, dias antes de ser preso pela Polícia Federal

Às vésperas de sua prisão, Carlinhos Cachoeira escalou um delegado da polícia federal, um advogado e um comparsa que tinha bom trânsito com a família de um magistrado para monitorar os trabalhos do juiz Paulo Augusto Moreira Lima, até então substituto da 11ª Vara Federal em Goiás e responsável por autorizar as escutas e a prisão do bicheiro. Escutas telefônicas registradas em 2, 6 e 8 de fevereiro deste ano registram a movimentação de Cachoeira em busca de informações.

Exatos 22 dias antes de ser preso, Cachoeira liga, em 2 de fevereiro, para o delegado Fernando Byron, apontado como colaborador da organização criminosa comandada pelo bicheiro, e pede que ele descubra informações sobre as escutas realizadas pelo Núcleo de Inteligência Policial de Goiás. Byron responde que "tudo passa pelo Raul", em referência ao delegado Raul Alexandre Marques de Souza, que chefiou a Operação Vegas, e que se o colega estiver fazendo algo, ele descobrirá.

Em outra ligação, Cachoeira pede ao policial federal detalhes sobre o processo da 11ª Vara Federal. Byron afirma que chegou a pedir para fazer parte do "grupo de corrupção" escalado para atuar no processo, mas foi impedido. "Segunda-feira eu dou uma olhada mais aprofundada porque hoje foi só assim, falei com o Raul rapidinho no corredor, porque não deu tempo de falar direito com ele. Aí na segunda eu resolvo. Mas pode ficar tranquilo é 11ª é alguma coisa ligada ao grupo de corrupção", afirmou Byron, prometendo dar detalhes a Cachoeira em 6 de fevereiro. O delegado também se refere a uma "fonte" que teria na 11ª Vara Federal e que poderia informar se o processo que interessava o bicheiro referia-se apenas a obras do Parque Mutirama ou se atingia integrantes da organização criminosa.

Apreensão Em 8 de fevereiro, Cachoeira mostrava-se nervoso e procurava saber se o processo da 11ª Vara Federal teria mandado de prisão e de busca e apreensão. Diálogo entre o advogado Leonardo Gagno — que atualmente representa o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo — e um dos irmãos de José Olímpio Queiroga revela que um advogado de Cachoeira entrou com um pedido de certidão na 11ª Vara Federal solicitando informações sobre processos que o atingissem. Na iminência de a operação ser estourada, a principal preocupação do bicheiro era apagar provas concretas da atuação criminosa, uma vez que já sabia dos monitoramentos telefônicos.

"Henrique me falou que o advogado de Carlinhos Cachoeira entrou com um pedido de certidão lá e o juiz deu na hora a certidão falando que não existe nenhum processo contra o Carlinhos Cachoeira e que se existisse teria registro e seria informado a ele. O cara não ia botar o dele na reta dessa forma, botar isso no papel, e botou no papel", afirma o advogado em um escuta gravada 21 dias antes da prisão de Cachoeira. O juiz titular da 11ª Vara Federal, Leão Aparecido, mantém vínculos de amizade com a família Queiroga. Telefone do juiz teria entrado no grampo da PF, por supostamente ter sido usado pela mulher do magistrado.

Apesar de dividirem a 11ª como substituto e titular, Moreira Lima tentou preservar as informações sobre o processo, temendo que a proximidade entre o titular e integrante da organização criminosa de Cachoeira pudesse comprometer o curso das investigações. Por isso, quando o advogado de Cachoeira solicitou certidão de citação em processos tinha certeza do conteúdo da Monte Carlo, antes mesmo de sua prisão.

Colaborou Larissa Leite

"O juiz deu na hora a certidão falando que não existe nenhum processo contra o Carlinhos Cachoeira e que, se existisse, teria registro e seria informado a ele" Leonardo Gagno, advogado de Idalberto de Araújo, o Dadá

Habeas Corpus A Justiça determinou, na manhã de ontem, a soltura de Gleyb Ferreira da Cruz, suposto braço direito do esquema liderado por Carlinhos Cachoeira. Gleyb está preso no Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO) desde 29 de fevereiro como resultado da Operação Monte Carlo, que apurou esquema de corrupção e exploração ilegal de jogos no Centro-Oeste. Apesar do alvará, até o fechamento da edição, Gleyb continuava preso, já que ele também responde a um mandado de prisão referente à Operação Saint-Michel, comandada pelo Ministério Público do Distrito Federal.