Título: Ritmo lento nos EUA preocupa
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Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2012, Economia, p. 12
Banco central norte-americano reduz para até 1,9% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto em 2012
A crise que afeta as maiores economias do mundo não dá sinais de trégua. Não bastassem as indicações de que a situação na Europa pode se agravar, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) reduziu ontem a estimativa de crescimento da economia norte-americana, a maior do planeta, para a faixa de 1,9% a 2,4% neste ano. Em abril, a previsão era de expansão de 2,4% a 2,9%. Também foram revistas as projeções para 2013 e 2014.
Em comunicado distribuído depois de uma reunião de dois dias, o Fed considerou que, ao contrário do que se acreditava no início do ano, a partir de agora a recuperação da economia americana será "muito lenta", após alguns trimestres de crescimento moderado. Informou também que, diante do visível enfraquecimento da atividade econômica, decidiu prorrogar até o fim de 2012 uma medida de estímulo adotada no ano passado, conhecida como "Operação Twist".
Por meio dela, a autoridade monetária procura criar uma pressão de baixa sobre as taxas de juros de longo prazo, que balizam, por exemplo, o financiamento de investimentos. Para obter esse efeito, a instituição vende títulos de curto prazo de sua carteira e recompra papéis de vencimento mais dilatado. Uma primeira operação, no valor de US$ 400 bilhões, feita no ano passado, termina no fim deste mês, mas, ontem, foi anunciada a compra de mais US$ 267 bilhões em ativos de longo prazo. O Fed decidiu ainda manter as taxas de juros de curto prazo entre zero e 0,25% e indicou que elas devem continuar nesse patamar até pelo menos o fim de 2014.
Compra de bônus
Para completar, a instituição reconheceu que o mercado de trabalho deve fazer progressos muito mais inexpressivos do que se previa dois meses atrás: a taxa de desemprego, que em maio ficou em 8,2% da força de trabalho, deverá se manter acima de 8% no resto do ano. O presidente da instituição, Ben Bernanke, admitiu que as avaliações anteriores eram excessivamente otimistas, mas garantiu que está pronto para tomar novas ações para dar fôlego à economia, que corre o risco de estagnar. "Estamos preparados para fazer o que for necessário", disse Bernanke, numa declaração que produziu reações desencontradas nos mercados.
Para muitos economistas, é provável que o governo promova uma terceira rodada de compra generalizada de bônus que estão na carteira dos bancos (o chamado quantitative easing), para aumentar o volume e dinheiro em circulação na economia. "O Fed está indicando que fará mais, caso se mostre necessário", disse o economista do TD Securities Eric Green. O próprio Bernanke indicou que a medida está sendo avaliada. "Compras adicionais de ativos estão entre as opções que certamente vamos a considerar caso seja necessário adotar medidas adicionais para fortalecer a economia", disse ele.
Volatilidade
O mercado de ações norte americano operou sob forte volatilidade logo após o anúncio do Fed. As projeções pessimistas para a economia e a falta de medidas mais ousadas da autoridade monetária fizeram as cotações recuar, mas boa parte da queda foi revertida ainda durante o pregão. No fim do dia, o índice Dow Jones, referência da bolsa de Nova York, fechou com baixa de 0,10%, e o Standard & Poor"s 500 teve desvalorização de 0,17%. Já termômetro de tecnologia Nasdaq subiu 0,02%. "À luz das estimativas, que nos deixaram desapontados, esperávamos que o Federal Reserve fosse muito mais agressivo", disse o administrador de portfólios do Stifel, Nicolaus & Co. Chad Morganlander.
As decisões do Fed tiveram impacto também na Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou em ligeira queda, de 0,05%. Na Europa, prevaleceu a expectativa favorável de novas medidas de socorro dos bancos centrais. Com isso, as ações fecharam em alta, auxiliadas pelo avanço de papéis do setor bancário, como os dos espanhóis BBVA e Santander. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações europeias, subiu 0,43%. O indicador Euro STOXX 50, que abrange as blue-chips do continente, também avançou 0,43%. Houve altas ainda em Londres (0,64%), Frankfurt (0,45%), Paris (0,28%), Milão (2,13%), Madri (1,53%), e Lisboa (1,36%).