O globo, n. 31105, 05/10/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro aumenta vantagem

Marcello Corrêa

05/10/2018

 

 

Candidato do PSL cresce e chega a 39% dos votos válidos; Haddad tem 25%

O candidato do PSL à Presidência Jair Bolsonaro aumentou a vantagem em relação a Fernando Haddad (PT) e tem agora 35% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. Na sondagem anterior, de terça-feira, ele tinha 32%. Haddad oscilou de 21% para 22%. Agora, a distância entre os dois é de 13 pontos, a maior desde que a candidatura do petista foi oficializada, em meados de setembro. Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro lugar, com 11%, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) tem 8%.

Os números foram divulgados a três dias das eleições e antes do último debate entre presidenciáveis do primeiro turno, ontem à noite, na TV Globo.

A vantagem de Bolsonaro em relação a Haddad chegou a ser de apenas 6 pontos, na última pesquisa do mês passado. Na ocasião, o capitão reformado tinha 28% das intenções de voto, contra 22% do rival, que estava em tendência de alta. As três divulgações seguintes, no entanto, mostraram uma estagnação do petista, diante de uma trajetória ascendente do líder da corrida eleitoral.

A pesquisa é a quarta a ser divulgada desde que Bolsonaro recebeu alta do Hospital Albert Einstein, onde ficou internado após ter sofrido uma facada há cerca de um mês. O candidato não fez campanha e, após avaliação médica, decidiu não participar do último debate presidencial.

Fora das ruas, Bolsonaro atua por meio das redes sociais. Na reta final, parte da estratégia tem sido tentar conquistar eleitorado onde o PT é forte. Ontem, em entrevista a uma rádio de Pernambuco, o deputado federal lamentou a prisão do expresidente Lula, em um aceno ao Nordeste.

A tendência de alta de Bolso na rose reflete na sondagem de votos válidos, que excluem brancos e nulos, mostra o Datafolha. Nesse caso, ele tem 39% das intenções de voto, à frente de Haddad, com 25%. Caso a sondagem se confirme, haverá segundo turno. Para ser eleito em primeiro turno, um candidato precisa de 50% dos votos válidos mais um voto.

Mudança de voto

Oscilando dentro da margem de erro tanto no Datafolha como no Ibope, o candidato do PT tem buscado um tom mais enfático às vésperas das eleições. Em vídeo divulgado ontem, a campanha do PT compara o capitão reformado ao ditador nazista Adolf Hitler. A peça é encerrada pelo bordão “Ele não”, usado nas manifestações contra Bolsonaro do último fim de semana.

Segundo análise dos diretores do Datafolha Mauro Paulino e Alessandro Janoni, publicada no jornal “Folha de S. Paulo”, o cenário indica que há uma possibilidade de mudança de votos. De acordo com a análise, um quarto do eleitorado cogita trocar o voto até o dia das eleições. Esse percentual é maior entre os eleitores de Marina Silva (Rede): 61% consideram a hipótese.

“Em 2014, 23% dos eleitores definiram candidato para presidente na última semana. Neste ano, esse índice pode aumentar, embalado pelo acirramento da disputa numa eleição”, destacam, no artigo.

Para Eugênio Giglio, professor de marketing político da ESPM, esse é um fenômeno histórico das eleições.

— O eleitor médio costuma decidir no final. Isso fica mais forte em uma eleição curta como essa —afirma.

O cenário de segundo turno indica uma disputa apertada, exceto quando o confronto é entre Ciro Gomes e Bolsonaro. Em uma disputa entre Bolsonaro e Haddad, a sondagem indica vantagem apenas numérica para o candidato do PSL, 44% a 43%, o que significa empate técnico, considerando a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.

Entre Bolsonaro e Alckmin, o resultado seria de 43% a 42% para o tucano, também empate técnico. Ciro derrotaria o candidato do PSL por 48% a 42%.

Os dois líderes da corrida presidencial mantiveram altas taxas de rejeição. Segundo a sondagem, 45% dos eleitores não votariam de jeito nenhum em Jair Bolsonaro, o mesmo percentual apontado na divulgação anterior. A taxa de Fernando Haddad é de 40%, um ponto percentual a menos que o do levantamento anterior. A taxa, no entanto, parou de crescer para ambos os candidatos. Entre setembro e o início deste mês, a rejeição a Haddad chegou a saltar de 32% para 41%

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Pesquisa sugere formação de onda na reta final

Letícia Sander

05/10/2018

 

 

Eleições geralmente ocorrem em ondas, e a pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite deixou claro que a surfada por Jair Bolsonaro só ganha força. Desde segunda-feira, quando foi registrada a ascensão de Bolsonaro depois de um período de fortes ataques, choveram adesões no campo do candidato do PSL.

A bancada ruralista, os evangélicos e até empresários entusiastas do partido Novo passaram a pedir voto abertamente para o capitão reformado. Candidatos a governador e a deputado também abandonaram as próprias legendas e correram para tentar pegar carona no líder das pesquisas.

Há cada vez mais cheiro de voto útil antipetista nos dados deste mais recente Datafolha. Bolsonaro teve seu melhor desempenho entre os mais ricos, onde subiu nove pontos e chegou a 53% dos votos totais. Neste mesmo segmento, Geraldo Alckmin (PSDB), que começou a eleição achando que a bandeira contrária ao petismo seria dele, perdeu quatro pontos.

A pesquisa também escancara o alto preço que o PT paga por ter se atrapalhado na estratégia política. O partido achava que Fernando Haddad ia chegar ao segundo turno olimpicamente. Foi atropelado. E mesmo ao reagir tardiamente, segue dando sinais de que não sabe muito bem o que fazer para virar o jogo daqui para frente.

Assim que saíram os números do Datafolha, petistas se digladiavam em busca de culpados. Dali ouviase um diagnóstico duro: o de que as forças políticas de centro e de centro-esquerda disputaram a eleição de 2018 com o olho no retrovisor, em moldes antigos, confiando no lulismo, no tempo de TV, em um arco amplo de alianças a despeito do eventual desgaste trazido pela ficha suja de seus integrantes. Bolsonaro desviou para outro lado, para o mundo digital, para grupos de WhatsApp.

A pesquisa de ontem não capta as reações ao último debate, o da TV Globo, o mais importante justamente por ter mais audiência e repercussão, e que ocorreu horas depois da divulgação dos números, sem a participação de Bolsonaro. Feita esta ressalva, vale dizer que a sondagem praticamente enterra as chances de uma terceira via, estagnada até agora nas pesquisas.

Faltando apenas três dias para a eleição, a pesquisa do Datafolha mostra que o candidato do PSL alcançou 39% dos votos válidos. Resta saber se a onda terá força suficiente a ponto de resolver a eleição no primeiro turno.