O Estado de São Paulo, n. 45642, 04/10/2018. Política, p. A10

 

‘Não é hora de fazer autocrítica no PSDB’, diz Aloysio

Vera Rosa

04/10/2018

 

 

Chanceler critica colegas de partido que ameaçam deixar campanha de Alckmin, estagnado nas pesquisas ao Planalto

Único sobrevivente do PSDB no governo, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira passou um “pito” nos colegas de partido que começaram a abandonar o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, e disse ficar “espantado” com o tom das cobranças de correligionários.

“Não é hora de fazer autocrítica nem de discutir rumos da campanha e do PSDB, muito menos em público”, afirmou o ministro das Relações Exteriores ao Estado. “Será que não estão vendo que uma coisa dessas joga água no moinho do PT? O que me espanta é que ninguém cobra que o Haddad faça autocrítica de nada”, emendou ele, em uma referência ao candidato do PT, Fernando Haddad.

O “fogo amigo” tomou conta do PSDB, e vários tucanos desfiaram um rosário de críticas à atuação de Alckmin – estagnado nas pesquisas de intenção de voto. Houve até quem se aproximasse do deputado Jair Bolsonaro (PSL), que lidera a corrida ao Planalto, estimulando traições nas fileiras de outros partidos aliados.

Ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) chegou a dizer ao Estado, no mês passado, que o partido cometeu “erros memoráveis”. O principal deles, na avaliação de Tasso, foi a entrada no governo de Michel Temer, com a ocupação de quatro ministérios. “Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder”, afirmou o senador, que em 2017 substituiu Aécio por alguns meses, no comando do PSDB, após o colega virar alvo da Lava Jato.

Aloysio voltou a defender a sustentação do PSDB à gestão Temer, na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT), e disse que o clima eleitoral – marcado por “tensão, injúrias e propostas sumárias” – não se presta a análises serenas. “Depois da eleição, quando baixar a poeira, o PSDB poderá fazer um balanço desapaixonado”, disse. “Agora, temos de lutar até o último minuto para o Alckmin ir ao segundo turno.”

‘Estado de espírito’. Na semana passada, uma declaração de Aloysio à BBC News Brasil provocou comentários de que ele estaria apoiando Bolsonaro. Na entrevista, o ministro disse que o parlamentar “joga de acordo com as regras da democracia” e sua eventual eleição não traria “nenhum retrocesso” para as relações internacionais do Brasil.

“Eu apoiando Bolsonaro? Qual é o partido do Bolsonaro? Eu mesmo já disse que ele é um estado de espírito, não tem uma proposta política”, insistiu Aloysio, ao lembrar que estava respondendo a uma pergunta sobre reportagem de capa da revista britânica The Economist, segundo a qual o triunfo do candidato do PSL representaria uma “ameaça à democracia”.

Apesar da ressalva, repetiu que não haverá mudanças nas diretrizes do Itamaraty, seja qual for o vencedor das eleições. “A política externa segue determinados padrões há muitas décadas, com compromissos lastreados por interesses concretos, como, por exemplo, a relação comercial com a China. O Bolsonaro iria romper com a China? Obviamente que não. É fato que a ênfase de um aspecto ou outro dessa política varia, como é o caso agora da Venezuela, mas não creio que haja grandes reviravoltas”, disse. “Existe um antiamericanismo ginasiano do PT e um filoamericanismo (pró-americanismo) ingênuo do Bolsonaro, mas a política externa não será mudada pelos humores do presidente.”

Apoio. “Eu não tenho a menor identidade política com nenhum desses campos”, disse ele, recusando-se a responder quem apoiará no segundo turno, caso Alckmin não passe. Em vez disso, preferiu ironizar os efeitos de declarações polêmicas do general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, e do exministro José Dirceu, correligionário de Haddad, sobre as campanhas dos adversários. “Dirceu está para o Haddad assim como o Mourão está para o Bolsonaro. Nós não podemos, no PSDB, trilhar esse caminho.”

 

‘Desapaixonado’

“Depois da eleição, quando baixar a poeira, o PSDB poderá fazer um balanço desapaixonado. Agora, temos de lutar até o último minuto para o Alckmin ir ao segundo turno.”

 

“Eu apoiando Bolsonaro? Qual é o partido do Bolsonaro?”

Aloysio Nunes​, MINISTRO DE RELAÇÕES EXTERIORES

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Alckmin apresenta o pior desempenho entre tucanos em SP

Adriana Ferraz e Matheus Lara
04/10/2018

 

 

 Recorte capturado

Ex-governador tem 16% das intenções de votos no Estado, porcentual inferior ao de Serra em 2010 e de Aécio em 2014

O presidenciável Geraldo Alckmin chega ao primeiro turno com o pior índice de intenção de votos obtido por um tucano em São Paulo – reduto histórico do PSDB e maior colégio eleitoral do País – desde 2006, ano em que ele próprio foi o candidato da sigla ao Planalto. Alckmin governou o Estado quatro vezes e, após deixar o cargo com 36% de aprovação, em abril deste ano, só tem 16% da preferência entre os paulistas.

Segundo analistas, o resultado no Estado tem significativa influência no baixo desempenho de Alckmin no cenário nacional – ele continua em quarto lugar nas pesquisas, com 7% das intenções de voto.

Segundo a mais recente sondagem Ibope/Estado/TV Globo, divulgada ontem, Jair Bolsonaro (PSL) tem 32%, Fernando Haddad soma 23% e Ciro Gomes (PDT), 10% (mais informações na pág. A4). Em São Paulo, Alckmin tem apenas um ponto a mais que o candidato petista, e metade das intenções de voto em Bolsonaro.

Levantamento feito pelo Estado mostra que, até esta eleição, o menor porcentual de apoio de um candidato à Presidência pelo PSDB entre os paulistas tinha sido registrado por Aécio Neves, em 2014. Pesquisa Ibope de 1.º de outubro daquele ano – divulgada quatro dias antes do primeiro turno –, dava a ele 22% dos votos em São Paulo. Patamar que dobrou no dia da

eleição, chegando a 44% dos votos válidos – com isso ele foi para o segundo turno com a então presidente Dilma Rousseff.

Quando a comparação se dá com o próprio Alckmin – candidato tucano ao Planalto em 2006–, a diferença fica maior: uma semana antes da eleição, ele já tinha 42% da preferência em São Paulo e na data do primeiro turno alcançou 54%, a maior vitória até agora de um tucano no Estado.

Antipetismo. É certo que o contexto atual é distinto dos demais, mesmo o de 2014. Após o impeachment de Dilma, o antipetismo talvez tenha atingido seu ápice hoje e o candidato que representa esse movimento não é mais o do PSDB, como ocorria desde 1994.

Com Bolsonaro cada vez mais fortes nas pesquisas nacionais e, especialmente em São Paulo, a campanha de rua de Alckmin em São Paulo quase passa despercebida. Anteontem, na zona norte da capital, o tucano fez caminhada acompanhado de poucos correligionários. A difícil relação com João Doria, candidato do partido ao governo do Estado, também ajuda a disseminar “traições” a Alckmin dentro e fora do Estado que governou por mais de 13 anos. “O presidente estadual do partido, Pedro Tobias, tem de levantar quem deserdou. É uma barbaridade que prejudica não só o Geraldo, mas o partido”, disse o deputado Floriano Pesaro, que tenta a reeleição.