O Estado de São Paulo, n. 45642, 04/10/2018. Política, p. A10

 

Xico Graziano deixa o PSDB e vai apoiar Bolsonaro

Pedro Venceslau

04/10/2018

 

 

Eleições 2018 Tucanos / Ex-chefe de gabinete de Fernando Henrique Cardoso no Planalto diz que partido cometeu ‘erros’ e que seu voto agora será anti-PT

Ex-partidário. Graziano evita falar sobre como FHC recebeu sua decisão de sair do PSDB

Um dos mais próximos amigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e exchefe de gabinete do tucano na Presidência da República, o engenheiro agrônomo Xico Graziano decidiu deixar o PSDB e criticou os “erros” cometidos pelo partido desde o fim da eleição presidencial de 2014. Ao Estado, Graziano afirmou que vai apoiar Jair Bolsonaro (PSL) na disputa.

“Venho tendo divergências com o PSDB desde o fim da eleição de 2014. Fui virando um patinho feio no partido. Achei um erro questionar a eleição daquele ano e depois tirar a Dilma (Rousseff) sem tirar o (Michel) Temer. Meu voto agora será anti-PT”, afirmou Graziano.

Ex-deputado federal pelo PSDB, Graziano também foi secretário de Meio Ambiente de José Serra no governo paulista. Em 2014, foi um dos coordenadores da área digital da campanha presidencial de Aécio Neves.

Graziano foi também um dos principais diretores do Instituto Fernando Henrique Cardoso. “Mantenho a admiração e a amizade com o ex-presidente. Tenho relações pessoais com ele até hoje. Nos vemos toda semana”, disse o agora ex-tucano.

Questionado se não há constrangimento em apoiar um candidato que sugeriu “fuzilar” FHC quando o tucano era presidente, Graziano minimizou. “Eu estava lá (no governo) quando ele disse isso. Não é o caso de levar ao pé da letra. Conheço o Bolsonaro. Nunca tive nada contra ele do ponto de vista moral”, afirmou.

O ex-deputado, porém, evita falar sobre como o amigo recebeu a sua decisão e não se arrisca a dizer quem FHC vai apoiar no segundo turno, caso o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) não chegue lá.

A decisão de Graziano reforçou a debandada de aliados de Alckmin, que permanece estagnado nas pesquisas de intenção de voto a quatro dias do pleito.

A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada ontem mostrou o tucano com 7%. Auxiliares de Alckmin tentam manter o otimismo e apostam agora no debate entre presidenciáveis da TV Globo, que será exibido hoje. Os tucanos também minimizaram decisão de Graziano e o apoio de candidatos da coligação de Alckmin a Bolsonaro.

“O oportunismo é muito comum nas campanhas. Isso ocorre em todas as eleições e faz parte da cultura política brasileira”, disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), um dos coordenadores da campanha do ex-governador.

Projeções. O discurso oficial dos tucanos é de que o resultado do primeiro turno é imprevisível, mas o PSDB já tem uma narrativa para o dia seguinte a votação.

A sigla projeta eleger 50 deputados federais, pelo menos 6 senadores e tem grandes chances de vencer em Estados importantes como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

“Apesar das pesquisas, nós acreditamos que o Geraldo vai para o segundo turno. Mas em qualquer circunstância o PSDB vai sair muito forte dessa eleição. Vai ser protagonista do quadro político”, disse Torres.

Otimismo à parte, os tucanos também projetam de forma reservada um racha no segundo turno. Enquanto boa parte da bancada no Congresso defende o apoio a Bolsonaro, os chamados “cabeças brancas”, grupo de fundadores do partido vai atuar para impedir esse movimento e prefere apoiar Fernando Haddad (PT).

A tendência é de que o PSDB libere seus quadros nos Estados. Já Alckmin fica numa posição delicada. Não teria como apoiar Bolsonaro, que foi o alvo principal de sua campanha, nem o PT, que é um adversário histórico do partido.

 

‘Oportunismo’

“O oportunismo é muito comum nas campanhas. Isso ocorre em todas as eleições e faz parte da cultura política brasileira.”

Silvio Torres​, DEPUTADO FEDERAL (PSDB-SP) E UM DOS COORDENADORES DA CAMPANHA DE GERALDO ALCKMIN