Título: Na era das incertezas
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2012, Economia, p. 16
Diante do cenário pouco animador, as empresas que precisarem se capitalizar agora terão de pagar juros altos pelos recursos captados. "Embora haja boa disponibilidade de recursos nos mercados mundiais, por conta das injeções realizadas pelos bancos centrais, vivemos um momento de aversão ao risco, o que dificulta o sucesso das emissões", diz a economista do Santander Adriana Dupita. Mas adiar um projeto de captação necessário pode não ser uma boa opção. "Há tantas incertezas que, se as empresas forem esperar o melhor momento para fazer emissões, esse momento pode nunca chegar", adverte.
O diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Cláudio Amitrano, concorda. "Com a deterioração da situação econômica da Europa, os investidores avessos ao risco vão preferir migrar para os ativos mais seguros, os títulos do Tesouro norte-americano", opina. Segundo ele, o caminho preferido por muitas empresas será o de buscar os recursos indispensáveis ao pagamento das dívidas nas fontes de financiamento governamentais. "O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), assim como Banco do Brasil e a Caixa, terão papel importante na capitalização das empresas", aponta.
Zona do Euro Assim como para as empresas e as pessoas físicas, a alta do dólar também tem um efeito importante sobre as contas do governo. "Há um impacto por meio da conta financeira. Com a valorização do real, havia recursos entrando por todos os lados do balanço de pagamentos: para investimento em títulos de renda fixa, em ações. Agora, a incerteza é muito grande", lembra Amitrano. "Não se sabe qual será a intensidade da queda da Selic (taxa de juros básica da economia) e precisamos acompanhar a trajetória da inflação para ver se ela vai convergir para a meta, o que depende também do ritmo de desaceleração da China, que terá impacto no preço das commodities (produtos primários cotados internacionalmente). Se houver uma solução razoável para a Europa, pode haver um retorno dos recursos para os emergentes", acrescenta.
Na última sexta-feira, a pressão dos mercados foi aliviada pela decisão dos líderes da Alemanha, França, Itália e Espanha em criar um pacote de 130 bilhões de euros para reavivar o crescimento na região, o que pode ter reflexo positivo em todo o mundo. O fato de auditorias independentes terem apontado que a Espanha necessitará de 62 bilhões de euros, no pior cenário, para ajudar os bancos crises, quando os parceiros europeus haviam reservado 100 bilhões para socorrer o país, também ajudou na mudança de humor, com impacto favorável nas bolsas.