O globo, n. 31103, 03/10/2018. País, p. 8

 

Centrão inicia desembarque da campanha tucana

Cristiane Jungblut

03/10/2018

 

 

Partidos da coalização de Geraldo Alckmin protagonizam traições e planejam reunião no início da próxima semana para discutir etapa final da eleição. Se o tucano não passar, tendência é não dar apoio formal aos finalistas

Partidos do centrão — DEM, PR, PP, PTB, PRB e S D—que apo iama candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, planejam uma reunião na próxima semana para decidira estratégia para o segundo turno a partir do resultado da votação do próximo domingo. Em meio a traições públicas de filiados nesta reta final, integrantes do bloco acreditam que, concretizado o cenário com Alckmin fora da etapa final da eleição, a união das legendas do centrão deve ser desfeita. A tendência é que os caciques se dividam entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Organizada por ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, a conversa está inicialmente prevista para terça-feira. Se Alckmin naufragar no domingo, os caciques partidários avaliam liberar seus filiados no segundo turno. Como tucano patinando nas pesquisas, os aliados reconhecem que parte dos integrantes dos partidos já começou ase definir entre Bolsonaro ou Haddad.

Os dirigentes que pretendem apoiar o candidato do PSL no segundo turno admitem que farão uma espécie de campanha silenciosa por ele. Isso porque o discurso de Bolsonaro é baseado na negação ao atual sistema político. Daí o motivo de liberarem seus filiados, sem apoio formal.

— Vou com Geraldo até o fim. Mas Bolsonaro tem condição de fazer as reformas. O populismo vai nos levar a um ambiente pior. Para o PSDB, o pior é ficar em cima do muro —disse o deputado Danilo Forte (PSDB-CE).

ACM Neto tenta segurar

O apoio do centrão foi considerado um dos principais trunfos da campanha de Alckmin. Com nove partidos, a coligação mais ampla deu a ele o maior tempo de TV no horário eleitoral: 5 minutos e 32 segundos. Avantagem, no entanto, não se traduziu em intenções devoto até agora, a poucos dias do pleito.

Dentro do bloco, ACM Neto é o mais fiel a Alckmin e vem tentando segurar uma debandada já no primeiro turno. Para dirigentes do centrão, as traições dentro do próprio partido de Alckmin dificultam a tentativa de manter os partidos da coligação alinhados ao tucano.

No PR, controlado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, há uma divisão entre Bolsonaro e Haddad. Mas Costa Neto já tinha liberado parlamentares para acordos conforme interesses regionais.

O líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), já faz campanha para Haddad. Já o deputado Lincoln Portela (PR-MG) está com Bolsonaro. Sem falar no senador Magno Malta (PRES), engajado na campanha de Bolsonaro desde o começo.

— Já estava acertado que os deputados estavam liberados para apoiar Bolsonaro. No meu caso, já no primeiro turno. E isso vai se consolidar no segundo turno —disse Lincoln Portela.

No PP, o racha já ocorre no primeiro turno. A ala do Rio Grande do Sul do partidos e dividiu: a senador agaúcha Ana Amélia é vice de Alckmin. Já o candidato do PP à vaga dela no Senado, deputado Luis Carlos Heinze, e o ex-governador gaúcho Jair Soares formalizaram apoio a Bolsonaro.

A traição mais emblemática foi protagonizada pelo presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Logo após o anúncio do apoio do centrão ao tucano, ele apareceu em campanha ao lado do petista Fernando Haddad fazendo o “L” de Lula em uma das mãos.

No PTB, o presidente Roberto Jefferson também adota a postura de lealdade a Alckmin até o final, mas nas redes sociais já deixa claro que não tem como apoiar o PT no segundo turno.

O Solidariedade (SD) já tentou antecipar a posição do centrão, mas os demais não aceitaram. A tendência é de apoio a Haddad, segundo dirigentes.

No PRB, o deputado Marcos Pereira disse que somente depois de domingo haverá uma análise do quadro. Nos bastidores, porém, a maioria do PRB deve ficar com Bolsonaro. O partido é ligado à Igreja Universal, cujo líder, o bispo Edir Macedo, já manifestou apoio a Bolsonaro.