O globo, n. 31103, 03/10/2018. Economia, p. 23

 

Não há nada que justifique crise com os EUA, diz ministro

Eliane Oliveira

03/10/2018

 

 

Chanceler Aloysio Nunes minimiza declaração de Trump sobre tratamento a empresas americanas. Embaixador afirma que Brasil é ‘ficha limpa’ no comércio

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, minimizou a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, feita na segunda-feira, de que o Brasil trata mal as empresas americanas e que, por isso, buscará um comércio “mais justo” para os EUA. Nunes disse que o episódio não justifica uma crise.

— Não é um assunto dramático. A relação econômica é positiva e proveitosa para os dois lados. Podemos ter um ou outro contencioso, mas nada que justifique uma crise —disse o ministro ao GLOBO.

Barreiras protecionistas

Ao discursar sobre o novo acordo que substituirá o Nafta, na América do Norte, Trump incluiu o Brasil e a Índia no rol de países com os quais é difícil negociar acordos comerciais. Disse que os brasileiros “cobram de nó soque querem” eque as empresas americanas se queixam de que o país está entre os “mais duros” do mundo.

— As regras brasileiras para a proteção de propriedade intelectual estão em funcionamento e, se considerarmos o intercâmbio de comércio e investimentos, não dá para singularizar o Brasil como um país que pode ter práticas desleais em relação às empresas americanas. O Brasil é um país ficha limpa — afirmou o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral.

O diplomata vai divulgar, nesta semana, em versões em português e inglês, um estudo elaborado em agosto denominado “Desafios e oportunidades à exportação de produtos brasileiros aos Estados Unidos”. O levantamento enumera as principais barreiras enfrentadas pelos exportadores brasileiros nos EUA. Elas estão nos setores agrícola, siderúrgico, de alumínio, têxteis e confecções. São subsídios e programas de apoio à produção e exportação concedidos pelo governo dos EUA, quotas tarifárias, proibições fitossanitárias, picos tarifários e entraves técnicos sobre bens e serviços que dificultam o ingresso no mercado americano.

— O que queremos mostrar é que o comércio com os EUA apresenta oportunidades, mas também tem uma série de barreiras protecionistas que cobrem grande quantidade de produtos —disse o embaixador.

O material é dividido em três partes: desafios, problemas que já foram resolvidos e oportunidades que podem ser aproveitadas nos EUA. No último caso, são citados como exemplos bioativos (nutrientes, sais minerais e alimentos funcionais), carne suína, vinhos e etanol, além de comércio eletrônico e educação à distância.

Sobre o tratamento dado a empresas brasileiras que estão nos EUA, o estudo cita o Buy American, programa de incentivo à indústria americana. O setor público só adquire produtos cuja composição for, em sua maioria, de insumos fabricados nos EUA.

Em propriedade intelectual, a legislação americana permite sanções comerciais unilaterais, se houver suspeita de violação de direitos industriais. Os agentes alfandegários têm autonomia para suspender ou reter mercadorias. Já os investimentos estrangeiros enfrentam restrições específicas. Os setores mais afetados são bancário, aeronáutico, de transporte marítimo, mineração, energia, de propriedade de terra, comunicações e compras governamentais.