Título: Barrado no Mercosul
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2012, Mundo, p. 14

Governo instalado após o impeachment de Fernando Lugo é suspenso do bloco e deve ser excluído também das reuniões da Unasul O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, caminha para o isolamento na vizinhança com velocidade comparável à do impeachment relâmpago aprovado na noite de sexta-feira contra Fernando Lugo pela maioria oposicionista do Congresso. Brasil, Argentina e Uruguai, os sócios do Mercosul, anunciaram ontem a suspensão automática do novo governo paraguaio, sanção inédita na história do bloco e já em vigor para a reunião de cúpula desta semana em Mendoza, na Argentina. A punição foi assinada também pelos Estados associados — Venezuela, Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru — e deve ser estendida prontamente também ao âmbito da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), cujos governantes se reunirão na quarta-feira, no Peru, que assumirá antecipadamente o lugar do Paraguai na presidência rotativa da organização.

Simpatizantes de Lugo protestam contra o novo presidente em Assunção: Federico Franco sofre isolamento fulminante na região

A suspensão do governo paraguaio pelo Mercosul, costurada ao longo do fim de semana pela diplomacia brasileira com os vizinhos, deve vigorar até a eleição presidencial marcada para abril de 2013. A sanção foi acompanhada pelo rebaixamento das relações bilaterais. Depois da Argentina, que decidiu ainda na noite de sábado retirar seu embaixador de Assunção até "o restabelecimento da ordem democrática", seguiu-se o anúncio do Brasil, que momentos depois convocou para consultas o embaixador Eduardo dos Santos. Ontem, Equador e Venezuela seguiram os passos do governo argentino, enquanto Uruguai, Chile e Colômbia acompanharam o gesto brasileiro. O denominador comum, em todas as represálias, foi a condenação à "ruptura da ordem democrática" no Paraguai. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi além e ordenou a suspensão do fornecimento de petróleo até que se restabeleça a ordem constitucional. O revés diplomático jogou água fria nos planos de Franco e do chanceler nomeado por ele horas depois da posse, José Félix Fernández, que pela manhã havia anunciado que o novo governo estaria presente à cúpula de Mendoza. Internamente, o novo mandatário também teve de lidar com protestos durante o fim de semana. No domingo, cerca de 200 simpatizantes de Fernando Lugo se concentraram diante da sede da tevê pública, em Assunção, gritando lemas e exibindo cartazes contra o "golpe de Estado", repetindo a manifestação feita na noite anterior. O presidente destituído apoiou os protestos e destacou que acompanha "todo tipo de manifestação pacífica para que retorne a ordem constitucional, interrompida na sexta-feira".

Brasil

O governo brasileiro aguarda para hoje a chegada do embaixador Eduardo dos Santos, a Brasília, convocado para consultas na noite de sábado, após uma reunião de emergência realizada no Palácio da Alvorada. A presidente Dilma Rousseff discutiu a crise paraguaioa por cerca de uma hora e meia com os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Celso Amorim (Defesa) e Edison Lobão (Minas e Energia), além do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e do diretor brasileiro da usina de Itaipu, Jorge Samek. Duas horas após a saída dos assessores, foi divulgada uma nota oficial na qual o governo condenou o impeachment. Eduardo dos Santos fará um relato ao chanceler Antonio Patriota, que tinha reunião com a presidente agendada para esta manhã.

De acordo com o Itamaraty, a convocação para consultas não equivale à retirada do embaixador, mas não há data prevista para o retorno do diplomata a Assunção. "Normalmente, mantemos relações com as outras nações mesmo em situações difíceis. Evitamos qualquer tipo de ruptura mais grave, mas a chamada já sinaliza a preocupação brasileira com a ruptura da ordem democrática", indicou a assessoria do ministerio. Como não há prazo para que Santos permaneça no Brasil, uma fonte do governo brasileiro contou à Reuters que, inicialmente, não deve voltar ao Paraguai.