O Estado de São Paulo, n. 45692, 23/11/2018. Economia, p. B1

 

Indiacdos por Guedes para BB e caixa terão missão de vender ativos

Luciana Dyniewicz e Aline Bronzati

23/11/2018

 

 

Novo governo. Pedro Guimarães foi o escolhido para presidir a Caixa Econômica Federal e Rubem Novaes, o Banco do Brasil, na gestão Bolsonaro; nomes indicados pelo futuro ministro da Economia enfrentavam restrições da ala política da equipe de transição

 

Embate. Nomes escolhidos por Paulo Guedes enfrentaram resistência da ala política

Em uma demonstração de que continua com carta branca do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para comandar a área econômica, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, escolheu pessoas de sua cota pessoal para comandarem os dois maiores bancos públicos do País. Recomendou, ontem, ao presidente a nomeação de Rubem de Freitas Novaes para o Banco do Brasil e de Pedro Duarte Guimarães para a Caixa Econômica Federal.

Os dois indicados por Guedes para assumirem os bancos estatais terão pela frente a missão de vender ativos e reduzir despesas. Guimarães, sócio do banco de investimentos Brasil Plural, é especialista em privatizações e foi um dos responsáveis por fazer o levantamento das estatais que poderiam ser vendidas na gestão Bolsonaro. Ele trabalhou com Guedes no BTG Pactual, na época em que o futuro ministro era sócio do banco de investimentos.

Novaes é amigo pessoal de Guedes. Ambos estudaram Economia na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e rezam a cartilha do liberalismo econômico. O futuro presidente do Banco do Brasil já foi diretor do BNDES. Ele será o primeiro a comandar a instituição sem ser funcionário da casa desde Cássio Casseb, no início do governo Lula. Ontem à noite, ele disse a jornalistas que as orientações de Guedes são no sentido de reduzir o papel do Estado, ganhar eficiência, enxugar e privatizar o que for possível. “Vamos buscar bons resultados e tornar o banco mais competitivo, mas de uma maneira enxuta.”

Os nomes de Guimarães e de Novaes para os bancos públicos enfrentavam restrições da ala política da equipe de transição, segundo apurou o Estado. O indicado para a Caixa é genro de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, responsável pelas obras no triplex do Guarujá e no sítio em Atibaia, ambos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e condenado pela Lava Jato. Bolsonaro não quer na sua equipe pessoas envolvidas com corrupção. A indicação de Guimarães mostra que as desconfianças foram superadas, inclusive porque não foi encontrado nada que pese contra o executivo.

Já Novaes foi investigado no escândalo de vazamento de informações de integrantes da cúpula do Banco Central para os bancos Marka e Fonte Cindam, ocorrido em 1999, quando houve uma mudança brusca da cotação do dólar. Na época, era um economista atuando no setor privado e foi apontado como repassador dessas informações a clientes. Em 2005, foi absolvido da acusação de peculato. Ontem, ele frisou que o Ministério Público não recorreu da absolvição. “Isso é quase um arrependimento pela denúncia”, disse.

O trabalho dos novos presidentes dos bancos públicos tende a seguir, segundo fontes do mercado, a estratégia da gestão atual, que já cortou gastos e vendeu alguns ativos. O BB enxugou seu quadro em mais de 12.380 funcionários e fechou cerca de 700 agências. A Caixa já desligou 12,3 mil funcionários e fechou 100 agências em três anos.

Ontem, Guedes também anunciou que o pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos von Doellinger foi escolhido para presidir a instituição. Economista pela UFRJ, ele já foi presidente do Banerj e ocupou, durante a gestão de Delfim Netto no Ministério da Fazenda (1967-1974), um cargo análogo ao de secretário do Tesouro Nacional.