O globo, n. 31107, 07/10/2018. País, p. 7

 

Bolsonaro amplia vantagem sobre Haddad

Paulo Celso Pereira

07/10/2018

 

 

Em dez dias, deputado do PSL cresceu quase dez pontos nos levantamentos de Ibope e Datafolha; após trajetória de alta, iniciada com oficialização de candidatura, petista permanece com 25% dos votos válidos

As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas ontem à noite mostram que Jair Bolsonaro (PSL) chega ao primeiro turno da eleição presidencial em trajetória ascendente, mas a tendência é que dispute um segundo turno contra Fernando Haddad (PT). O capitão da reserva cresceu quase dez pontos percentuais em ambas as sondagens nos últimos dez dias.

A arrancada do candidato do PSL se iniciou no mesmo momento em que o candidato do PT interrompe a trajetória ascendente iniciada logo após ser lançado candidato em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Nos últimos dias, Ciro Gomes (PDT) fez intensa campanha pregando o voto útil para impedir que o segundo turno se desse entre os dois nomes mais rejeitados. O exgovernador do Ceará até conseguiu crescer numericamente em ambas sondagens divulgadas ontem, mas apenas dentro da margem de erro. Assim, na véspera da eleição ainda estava a pelo menos dez pontos percentuais de distância de Haddad. No entanto, é impossível prever se haverá uma movimentação de última hora.

— Nós temos observado, em algumas eleições passadas, como a nacional de 2014 e a de São Paulo em 2016, mudanças no próprio dia da eleição. Ciro tem uma curva ascendente. Ainda é possível crescer entre hoje e amanhã, não dá para saber com qual intensidade. Bolsonaro também

cresce. O retrato é de hoje até o meio da tarde —explicou Mauro Paulino, diretor do Datafolha. — Movimento sempre pode ocorrer, porque as pesquisas mostram a opinião dos eleitores até hoje (sábado). Os fenômenos que podem ocorrer daqui para frente, com rede social, são coisas que não foram medidas —explica Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope. Os índices de rejeição dos candidatos também mantiveram-se estáveis nas pesquisas divulgadas ontem — com flutuações apenas dentro da margem de erro. Ainda assim, são os maiores patamares desde as eleições de 2002. Bolsonaro passa a barreira de 40% de rejeição nos dois institutos, enquanto Haddad fica acima de 35% em ambos. A disputa final, portanto, deve se dar entre nomes de despertam hoje no eleitorado mais incômodo do que apoio.

— É uma eleição atípica. Aqueles que não votaram nem em um candidato nem no outro, no segundo turno vão ter que repensar esta rejeição. Aí, é imprevisível o que vai acontecer — avalia Mauro Paulino.

O tucano Geraldo Alckmin, que montou a mais ampla aliança da eleição e dominou o horário eleitoral de rádio e TV, manteve conseguiu terminar a corrida em um claro quarto lugar, com pouco mais da metade das intenções de voto de Ciro Gomes. Ironicamente, desde a primeira pesquisa realizada após o início da campanha, o tucano só conseguiu flutuar dentro da margem de erro. Assim, a tendência é que leve o PSDB à maior derrota eleitoral de sua história. Desde 1994, o partido polarizou a disputa presidencial com o PT, vencendo duas e perdendo quatro. Agora, figura apenas como uma força regional. Márcia Cavallari afirma que a estagnação de Ciro e Alckmin nas pesquisas se deve ao foco da disputa ter ficado entre Bolsonaro e o PT.

— A polarização da campanha entre Bolsonaro e o PT é o que faz com que esses candidatos mantenham os patamares de voto —diz. Se há uma surpresa neste final de campanha é a possibilidade de João Amoêdo, do Novo, terminar a corrida à frente de Marina Silva. Terceira colocada nas duas eleições presidenciais anteriores, das quais saiu com

cerca de 20% dos votos, Marina Silva (Rede) continuou em queda nas sondagens divulgadas ontem e chegou a 3% de intenções de voto, numericamente empatada com o candidato do Novo.

Na última década, Marina teve como pilar de suas campanhas presidenciais a narrativa de que era necessário pôr fim à polarização PTPSDB. A eleição deste ano sepultou esse dualismo, mas a partir da ascensão de um nome à direita dos tucanos. Ironicamente, Marina derreteu justamente nesse mesmo momento. Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e Guilherme Boulos (PSOL) saem da campanha nanicos, apesar do espaço que tiveram no noticiário e nos debates da TV —e no caso do ex-ministro da Fazenda, também nas propagandas de rádio e TV.