O globo, n. 31119, 19/10/2018. País, p. 8

 

Ao CNJ, Moro diz que não quis influenciar a eleição

19/10/2018

 

 

Juiz teve que explicar divulgação de depoimento de Palocci e afirmou sentir-se intimidado pelo PT

Em documento entregue ao Conselho Nacional de Justiça ( CNJ ), o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato, negou que tenha tentado influenciar as eleições deste ano ao divulgar, pouco antes do primeiro turno, uma parte da delação do ex-ministro Antônio Palocci com denúncias ao PT. O partido, que se sentiu prejudicado, acionou o CNJ para apurar a conduta do magistrado. Em resposta, Moro disse que alguns agentes do PT querem intimidálo e “cercear decisões da Justiça que contrariam os seus interesses partidários”.

“Não foi, ademais, o Juízo quem inventou o depoimento de Antônio Palocci Filho ou os fatos nele descritos”, anotou o juiz. Moro destacou ainda que, além do que já foi divulgado, há outros depoimentos, alguns “mais contundentes”, ainda sob sigilo. Afirmou também que o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo da delação, sequer era candidato. Ele foi substituído por Fernando Haddad, que, segundo Moro, não foi citado por Palocci.

“Caso fosse intenção deste Juízo influenciar as eleições, teria divulgado a gravação em vídeo do depoimento, muito mais contundente do que as declarações escritas, e que seria muito mais amplamente aproveitada para divulgação na imprensa televisiva ou na rede mundial de computadores. O fato é que o Juízo não pode interromper os seus trabalhos apenas porque há uma eleição em curso”, escreveu Moro.

Moro disse que a liberação do depoimento, incluído numa ação penal de Lula, era necessária, porque, em caso de condenação, será necessário analisar a efetividade da delação para aplicar uma pena a Palocci. Além disso, ele entendeu que esse trecho da delação, uma vez público, não atrapalharia as investigações. “Publicidade e transparência são fundamentais para a ação da Justiça, e não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção”, acrescentou.