Título: Ritmo cada vez mais lento
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2012, Economia, p. 15

A economia brasileira precisará ter um desempenho excepcional nos dois últimos trimestres do ano para que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB (soma das riquezas produzidas no país) consiga chegar em 2012 pelo menos perto dos 4% esperados pelo governo. Ontem, o Banco Central divulgou a variação do IBC-Br de abril — um indicador que serve como uma espécie de antecipação do PIB. O crescimento foi somente de 0,22% em relação a março. Os economistas correram para fazer as contas e chegaram à conclusão que um resultado tão tímido aponta para uma expansão econômica de apenas 0,50% no segundo trimestre e inferior a 2% no ano.

Pelo indicador do BC, em 12 meses a variação da atividade está em apenas 1,55%. No primeiro quadrimestre, a alta em relação ao mesmo período do ano passado foi de mero 0,35%. E em abril, com o enfraquecimento da atividade econômica, o IBC-Br teve uma contração de 0,02% na comparação com abril de 2011. Foi a primeira queda nessa base de comparação desde setembro de 2009, quando o banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers quebrou, agravando a crise financeira global. Naquela ocasião, o IBC-Br recuou 1,79% em relação a setembro de 2008.

"Trata-se de um desempenho muito fraco diante do potencial de crescimento do PIB, de 4%", frisou o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Para Newton Rosa, do Sul América Investimento, só no segundo semestre a economia deverá ter comportamento um pouco melhor. No entanto, mesmo que o ritmo da atividade se acelere, ele não espera um PIB superior a 2% em 2012.

Avaliação semelhante tem o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, para quem 2%, hoje, é uma previsão otimista. "Acreditamos na perspectiva de um declínio na produção industrial e no IBC-Br de maio. Isso aumenta, significativamente, o risco de o crescimento no segundo trimestre ficar abaixo da nossa projeção de 0,8% e de que o resultado de 2012 nem alcance 2%", explicou.

Defensiva Um dos principais motivos do pessimismo dos analistas é o baixo nível de investimentos — elemento que funciona como o grande dinamizador da economia. Enquanto o governo não consegue investir mais por incapacidade de gerenciamento e má qualidade dos projetos, o setor privado se mantém na defensiva porque os empresários, principalmente os do setor industrial, estão assustados com a crise global e não têm segurança de que aplicações feitas em máquinas e novas instalações terão o retorno desejado. Nesse cenário, os estímulos ao consumo disparados pelo governo não vêm tendo o efeito esperado pela equipa econômica, até porque o endividamento das famílias já está muito alto, o que limita a capacidade de consumo da população.

Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do ABC Brasil, no entanto, espera que as medidas comecem a se refletir nos indicadores de maio. O IBC-Br fraco de abril não o fez mudar de idéia. Ele prevê 0,8% para o PIB do segundo trimestre e 2,4% para o ano como um todo, um percentual, de qualquer forma, muito abaixo do potencial do país.

A previsão oficial do Ministério da Fazenda para o crescimento da economia brasileira em 2012 ainda está em 4%. Diante das dificuldades em atingir essa meta, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, só tem se comprometido com o objetivo de crescer mais do que em 2011 (2,7%) e, nos bastidores, já fala em um desempenho pior do que o do ano passado. O Banco Central trabalha com expectativa de 3,5%, mas deverá revisá-la no relatório trimestral de inflação que será divulgado no fim do mês.

Mais do que a variação do IBC-Br em abril, que veio no intervalo esperado pelo mercado, o que chamou a atenção foi a quantidade de revisões promovidas pelo Banco Central nos números divulgados anteriormente. A contração observada em março, por exemplo, foi de 0,61% em vez de 0,35%. Em janeiro, a queda do indicador alcançou 0,38%, e não 0,13%. Já em fevereiro, em vez de um recuo de 0,23%, houve expansão de 0,56%. Desse modo, o número do primeiro trimestre melhorou: a atividade cresceu 0,49% e não apenas 0,15%, como havia sido informado inicialmente.

Segundo os economistas, como o indicador não é aberto — ao contrário dos números do PIB divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que são detalhados por setores —, não é possível saber o motivou dessas revisões.

» Calote em alta

O Indicador de Inadimplência do Consumidor subiu 6,2% em maio, acumulando a terceira alta consecutiva, informou a Serasa Experian. Em relação a maio do ano passado, o aumento foi de 21,4%. No acumulado dos cinco primeiros meses ante o mesmo período de 2011, o índice teve elevação de 20%. Houve aumento da inadimplência em todos os tipos de dívida analisados, com destaque para a não bancária — cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços.