O globo, n. 31155, 24/11/2018. País, p. 4

 

Cirurgia de Bolsonaro será em 2019

Jussara Soares

24/11/2018

 

 

 Recorte capturado

Mourão vai assumir Presidência durante período de reabilitação

A equipe médica que acompanha o presidente eleito, Jair Bolsonaro, decidiu adiar a cirurgia de reversão da colostomia a que o então candidato foi submetida após o atentado a faca durante a campanha eleitoral, em 6 de setembro. Por conta de uma inflamação do peritônio (membrana da parede do abdome), ele só passará por novo procedimento após a sua posse, marcada para o dia 1º de janeiro. Inicialmente, havia a previsão de a nova cirurgia ser feita no dia 12 de dezembro, com tempo suficiente para a recuperação total antes da cerimônia em que ele assumirá o governo. Agora, o adiamento fará com que Bolsonaro tome posse ainda portando a bolsa de colostomia. Além disso, fará com que, no início da recuperação, que durará ao menos duas semanas, a Presidência seja assumida pelo vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão.

Ao longo da campanha, após algumas declarações do candidato a vice consideradas desastradas pela cúpula da campanha, Bolsonaro pediu para que o então colega de chapa evitasse polêmicas. Mourão chegou a sugerir uma nova Constituição escrita por notáveis, disse que famílias apenas com mãe e avó eram “fábricas de desajustados” e que o 13º salário pago aos trabalhadores é uma “jabuticaba”, numa crítica de que só aconteceria no Brasil. Com o adiamento, não há previsão de quando a nova cirurgia ocorrerá. Bolsonaro voltará ao Albert Einstein para uma nova avaliação médica em janeiro, quando será marcada a operação.

Cinco dias de internação

Os médicos calculam que, assim que for operado, Bolsonaro terá de ficar pelo menos cinco dias hospitalizado novamente no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Inicialmente, numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Depois, permanecerá cerca de dez dias em casa. No início de novembro, Bolsonaro afirmou que, por conta da cirurgia, a data para a primeira viagem internacional como presidente eleito, que seria ao Chile, ainda não havia sido definida. Não há um novo cronograma sobre a agenda de compromissos no exterior. Em relação ao presidente eleito, os médicos ainda verificaram aderência entre as alças intestinais. Esse foi um dos diagnósticos que retardaram sua alta quando esteve internado.

O então presidenciável voltou para a casa, no Rio, 24 dias após ter passado pela primeira cirurgia, ainda em Juiz de Fora, onde ficou apenas dois dias depois de ter sido vítima do desempregado Adélio Bispo, que o atingiu com o golpe durante agenda de campanha pelas ruas da cidade. Reavaliado ontem, Bolsonaro está “bem clinicamente” e mantém “ótima evolução” do seu quadro clínico, apesar da inflamação, segundo os médicos. De acordo com a assessoria do Einstein, Bolsonaro passou por uma coleta de sangue para medir o nível de plaquetas. O procedimento serve para indicar a capacidade de cicatrização do paciente. Ele ainda passou por uma ressonância magnética. Após quase quatro horas de avaliação médica, Bolsonaro deixou o hospital por volta das 14h30m e, sem dar entrevistas, seguiu para o Aeroporto de Congonhas, de onde voou para o Rio, onde passará o fim de semana. Ele decolou de Brasília pela manhã, acompanhado da mulher Michelle, e pousou em Congonhas às 10h05m. De lá, seguiu para o hospital em um comboio da Polícia Federal. O presidente entrou por uma entrada pela qual os jornalistas não tinham acesso.

A avaliação foi feita pelos médicos que já acompanham Bolsonaro: o cirurgião Antonio Luiz Macedo e o cardiologista Leandro Echenique. Foram realizados exames de sangue e de imagem para avaliar o estado de saúde dele antes da nova cirurgia. Devido à cirurgia até então marcada para o dia 12 de dezembro, a diplomação do presidente eleito e do general Hamilton Mourão, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi antecipada para o dia 10 de dezembro.

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Onyx tenta aproximar presidente eleito do Congresso

Catarina Alencastro

24/11/2018

 

 

Chefe da transição tem buscado diminuir resistência dos partidos, e vai montar time de ex-parlamentares para ajudar articulação

Enquanto o presidente eleito, Jair Bolsonaro, segue no discurso de combate à “velha política”, ignorando partidos e líderes do Congresso na montagem do seu ministério, um de seus principais auxiliares, o futuro ministro Onyx Lorenzoni, já começou a aproximação com os caciques do Parlamento. Desde o início da transição, há três semanas, o gabinete de Bolsonaro se deu conta de que não conseguirá implementar uma agenda legislativa valendo-se apenas de governadores e de bancadas setoriais, como gostaria Bolsonaro. Para avançar nas votações, será preciso melhorar o clima com a “política tradicional”, o que Onyx, em almoços, jantares e reuniões reservadas, vem tentando fazer. O GLOBO apurou que o futuro ministro da Casa Civil passou a dedicar parte do seu tempo a reuniões com lideranças partidárias para ouvi-las e expor planos. Fazer a “corte” aos parlamentares, no jargão político, é um gesto que costuma facilitar a vida dos presidentes no Legislativo.

Nesse esforço político, Onyx já almoçou com o presidente do Congresso, Eunício Oliveira (MDB-CE), com o presidente do PRB, Marcos Pereira, esteve com o presidente do DEM, seu partido, ACM Neto, e jantou com o presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab. O futuro ministro também conversou com o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi, e deve ter um encontro na semana que vem com o deputado José Rocha, o líder do PR de Valdemar Costa Neto. Ao GLOBO, Marcos Pereira disse ter gostado do que ouviu. O pastor almoçou há 20 dias com Onyx num restaurante vizinho ao gabinete de transição, no Clube de Golfe de Brasília. Ele conta que, no encontro, o futuro ministro relatou um plano “bem-acabado” sobre como negociar com o Congresso. Segundo Pereira, Onyx disse que pretende montar um time de ex-parlamentares experientes, escolhidos por região do país e área temática de atuação, para fazer a interlocução direta com o Parlamento. Cada um teria a obrigação de ouvir as demandas parlamentares e dar uma resposta em até sete dias. A conversa foi boa, e teve até abertura para que Pereira sugerisse nomes para essa equipe de apoio. O ex-ministro de Michel Temer saiu animado. Dias depois, com a intenção de abrir um canal mais perene de comunicação, mandou uma mensagem de WhatsApp para o ministro de Bolsonaro, mas diz que está até hoje esperando um retorno.

— Ele até perguntou para mim se eu tinha alguém para indicar, disse que tinha que ser uma pessoa limpa. Mas de lá pra cá não teve nenhum desdobramento. Alguns dias depois, eu mandei para ele uma mensagem e nunca tive resposta — contou o presidente do PRB. Nas conversas, Onyx também tem recebido conselhos. O mais recorrente é que precisará ter alguém abaixo dele e sob seu guarda-chuva para cuidar do chamado varejo do Congresso —pedidos de toda ordem dos deputados.

No fim da semana, o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS) circulou como possível escolha. Ela conversou longamente com o presidente eleito na quinta-feira passada e está animada para assumir alguma função. —Eu senti que há uma disposição clara de me integrar à equipe dele. Não sou de fazer chacrinha, de fazer conchavo. Fico na minha, mas também não levo desaforo para casa —disse a senadora. O escolhido terá muito trabalho. Há entre os políticos uma reclamação comum sobre a falta de unidade de pensamento no time de Bolsonaro, perdido entre os vários núcleos de poder: o de Onyx, o dos militares, e o familiar.