O globo, n. 31155, 24/11/2018. País, p. 8

 

Governo anuncia ocupação de 92% das vagas do Mais Médicos

André de Souza

Renata Mariz

24/11/2018

 

 

Edital do Ministério da Saúde abriu 8.517 postos após a saída dos cubanos, dos quais 7.871 já foram preenchidos

O Ministério da Saúde informou que já foram selecionados 7.871 médicos para as 8.517 vagas abertas no último edital do programa Mais Médicos, lançado no início da semana. O número divulgado representa 92% do total de postos a serem preenchidos após a saída dos profissionais cubanos. Ontem, 40 médicos se apresentaram nos municípios onde vão trabalhar. As vagas ficaram disponíveis após o anúncio do governo de Cuba de retirar seus profissionais do programa, em reação às mudanças planejadas no Mais Médicos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. Ele é contra a retenção de parte dos salários dos profissionais cubanos, e a favor da obrigatoriedade de passar por um exame de revalidação do diploma obtido no exterior. A inscrição, no entanto, não é garantia de que as vagas serão de fato preenchidas. Em 2017, houve uma seleção de brasileiros para o Mais Médicos: eram 2.320 vagas e 6.285 profissionais se inscreveram, mas apenas 1.626 médicos compareceram quando foram chamados. O balanço divulgado contempla os dados registrados até as 16h30m de ontem. O relatório mostra 25.90 inscrições, das quais 17.519 são de profissionais com registro válido no Conselho Regional de Medicina (CRM). Deste total, pouco mais de 7.800 médicos já tiveram um destino escolhido. O prazo para inscrição iria até amanhã, mas, na quintafeira, o Ministério da Saúde anunciou a prorrogação até 7 de dezembro. A extensão ocorreu em razão de instabilidade no sistema que, segundo o ministério, foi causada por “ataques cibernéticos”. De acordo com o edital, são 8.517 vagas para atuação em 2.824 municípios e 34 distritos indígenas que antes eram ocupadas por médicos cubanos.

Desde que o governo de Cuba anunciou que deixaria o Mais Médicos , na quartafeira da semana passada, com retirada imediata do país de todos os profissionais da ilha, 22 cubanos conseguiram registro de residência no Brasil. É uma média de 2,4 autorizações concedidas por dia a pessoas de Cuba, segundo dados da Polícia Federal obtidos pelo GLOBO.

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Dilma omitiu negociações com Cuba

Francisco Leali

24/11/2018

 

 

A revelação do conteúdo de telegramas produzidos por diplomatas brasileiros indica que o governo Dilma Rousseff omitiu deliberadamente a negociação feita com autoridades cubanas para trazer médicos ao Brasil em 2013. Enquanto publicamente dizia que o programa Mais Médicos, lançado naquele ano, seria aberto aos brasileiros e a qualquer estrangeiro, a gestão de Dilma já tinha acertado valores e número de profissionais com Cuba. Para o país caribenho, a negociação com o Brasil também representou uma chance de estreitar laços comerciais e prospectar futuros investimentos. Como os contratos previam que a maior parte dos salários fossem direcionados ao governo cubano, o acerto com o Brasil possibilitou ainda a entrada de recursos em Cuba. Remetidas pela embaixada brasileira em Havana e liberadas a partir de pedido feito via Lei de Acesso à Informação, as mensagens foram divulgadas pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Diplomatas brasileiros relataram ao Itamaraty que as tratativas com os cubanos começaram em abril de 2012. Várias autoridades do governo brasileiro, incluindo o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foram a Cuba para negociar o acordo naquele ano. Nas conversas, falaram de valor do salário dos médicos, números de profissionais que poderiam vir ao Brasil e até detalhes de como seria feito o pagamento. No início de 2013, quando o então chanceler brasileiro Antonio Patriota comentou publicamente que estava em curso uma negociação com Cuba para vinda de médicos, o Ministério da Saúde apressou-se em dizer que o governo estudava abrir oportunidades para profissionais brasileiros e estrangeiros, de qualquer país, que quisessem ampliar a rede de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). O governo Dilma omitiu que já tinha negociado com os cubanos.