Título: Desconfiança mina PIB
Autor: Nunes, Vicente; Alexandre; Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2012, Economia, p. 14

Da sala de reuniões contígua ao gabinete da presidência do Banco Central, Alexandre Tombini tem uma vista privilegiada de Brasília. É possível notar claramente o plano urbanístico da capital federal, magistralmente concebido por Lucio Costa. Em um plano oblíquo e linear, edifícios residenciais se harmonizam com áreas verdes até a cidade mergulhar em direção ao espelho do Lago Paranoá. A paisagem encantadora na manhã da última sexta-feira destoava do quadro desolador traçado pela presidente Dilma Rousseff em conversa com governadores, poucos quilômetros dali, no Palácio do Planalto. Taxativa, ela disse não “ver luz no fim do túnel” para a crise que arrasa a Europa e atormenta o mundo. Dilma resumia o que, na visão de Tombini, está travando a economia brasileira: falta de confiança. Mesmo com todos os estímulos dados pelo governo — corte de juros e redução de impostos —, os consumidores preferem manter o pé no freio nos gastos. Entre os empresários, o sentimento é de que, neste momento, o melhor é deixar projetos de expansão industrial engavetados do que correr o risco de prejuízos mais à frente. Por isso, admite o presidente do BC, os efeitos dos benefícios dados pelo governo à economia vão demorar mais tempo do que o desejado para aparecer. Na tentativa de reverter a desconfiança e evitar que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) decepcione mais uma vez neste ano — nos primeiros quatro meses, o avanço foi próximo de zero —, Tombini dispara: “Essa crise não é nossa; a crise é lá de fora”. Ele garante que, mesmo com o agravamento da situação na Zona do Euro, com a Espanha e a Grécia à beira de um colapso, o Brasil já atingiu o fundo do poço e, no início de 2013, terá recuperado as forças, puxado pelo emprego, renda, crédito e queda da inflação. O otimismo não impedirá, porém, o BC de revisar para baixo, no fim deste mês, a sua própria projeção para o PIB deste ano , atualmente de 3,5%. Tombini não faz projeções. Reforça, contudo, que, apesar de o consumo das famílias ser importante para o crescimento, será a retomada dos investimentos produtivos que dará a dinâmica da atividade econômica daqui por diante. Sereno e voraz por informação — às 7h da manhã ela já se interou de todo o noticiário —, Tombini assegura que o mesmo mercado que errou ao criticar o BC por ter se antecipado ao agravamento da crise internacional e cortado os juros vai se convencer da capacidade da economia brasileira de reagir. Posição semelhante ele tem em relação aos que ainda duvidam da possibilidade de seu time do coração, o Internacional, chegar à liderança do Brasileirão. “O time vai pegar velocidade”, diz. E mais: na luta para garantir o barateamento do crédito, aconselha os órgãos de defesa do consumidor que sejam mais ativos na fiscalização das taxas de juros e das tarifas bancárias para denunciarem possíveis abusos. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista que o presidente do BC concedeu ao Correio.

Nos 12 meses terminados em abril, a economia cresceu apenas 1,55%. O que aconteceu? Por que o Brasil parou? O crescimento, e aí não é o Banco Central que está falando, é o mercado que está indicando, estará em 4,1% no último trimestre deste ano e rodando a 4,6% no primeiro semestre de 2013. Então, o crescimento vai acelerar ao longo deste ano. Com base em que eu digo isso? Com base no que a gente conhece de defasagem de política monetária, de política econômica. Desde o fim de agosto, estamos dando estímulos à economia, ajustando a política monetária (juros menores) para fazer frente a essa nova realidade. Há ainda os estímulos na área tributária (como a redução de impostos sobre carros e eletrodomésticos), que foram colocados no terceiro e quarto trimestres do ano passado. Temos uma série de fatores que apontam para um contínuo crescimento da demanda no país. Entre eles, o mercado de trabalho, que ainda gera 1,4 milhão de empregos, e a renda real, que cresce na faixa de 3%. Combinando a criação de empregos com a renda real, a massa salarial real avança na faixa de 5% em 12 meses. Portanto, temos fatores para sustentar a demanda interna.

O senhor diz que tudo aponta para o crescimento. Mas dados do próprio BC mostram uma economia estagnada, com expansão próxima de zero nos primeiros quatro meses do ano. Vários analistas estão jogando as projeções do PIB para baixo. O que o BC está vendo para ser otimista que o mercado não consegue enxergar? Estamos com a mesma história do ano passado. Só que, lá atrás, falávamos de inflação. E o que o BC está vendo que o mercado não vê? O que nós estamos vendo hoje é que (as vendas) do varejo desaceleraram de 12% para 7% em um período de 13 meses, mas ainda mantêm um crescimento elevado. Além disso, a inflação vem caindo consideravelmente. Do pico em setembro do ano passado, de 7,33%, baixou para 4,99% em maio. Isso está repercutindo. Não é à toa que a massa salarial real está tendo um ganho de 5% e empregos estão sendo criados.

Mas, daqui por diante, a tendência é de o mercado de trabalho sentir o baque da crise mundial. A indústria já está cortando vagas há meses. Se olharmos para o gráfico de alta frequência (do emprego industrial) se chega a essa conclusão. Mas, anteontem, saiu um dado do Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), que aponta para a recuperação do emprego industrial. O que estou falando é que há fatores que sustentarão a demanda ao longo deste ano: o emprego, o salário e o controle da inflação. Há ainda o crédito, que desacelera, mas o mercado espera que o saldo cresça na faixa de 15% neste ano. Por outro lado, tem os estímulos que foram colocados na economia e que operam com defasagem.

Mas é visível que a atividade está demorando a reagir. Talvez a defasagem (dos estímulos) se alongue um pouco em função do ambiente internacional, mas os estímulos aparecerão. Nós já reduzimos em quatro pontos percentuais (de 12,50% para 8,50% ao ano) a taxa básica de juros. Estamos vendo reduções no spread bancário e nas taxas de juros ao tomador final. Temos a perspectiva de crescimento do crédito. Estamos perto do pleno emprego. Nós batemos no vale. Agora, pela defasagem das políticas monetária e fiscal, teremos um crescimento que vai se acelerar ao longo do ano, no segundo semestre. Entraremos em 2013 em uma velocidade maior.

Mas as preocupações com a crise mundial só aumentam. Qual o impacto dela nesse quadro de retomada de crescimento? Nós sinalizamos essa influência em 31 de agosto de 2011, quando tomamos a decisão de cortar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual. No nosso comunicado, que foi até longo, explicamos os canais de transmissão que nós víamos. Por exemplo, o comércio internacional. A Europa representa 20% das exportações da China, mais ou menos a faixa (das vendas) do Brasil. Tem um comércio grande com os EUA. Outro canal importante é a confiança. Quando começa o ambiente de crise lá fora, isso gera uma queda da confiança do empresário e, eventualmente, do consumidor, esse é um canal bastante importante. Há os canais financeiros, de fluxos de capitais e de financiamento ao comércio. Mas foi esse segundo ponto, o da confiança, que bateu mais rápido. As pessoas começaram a repensar seus planos, tanto no consumo de mais longo prazo quanto de investimentos. Olhando para frente, é bom que se diga que essa crise não é nossa; a crise é lá de fora. O Brasil vem adiantado nesse processo (de enfrentamento). Inclusive, foi criticado por ter se adiantado. O BC foi muito criticado. Cortamos juros. Outros países não cortaram porque estavam com taxas baixas e talvez não estivessem com a percepção que tivemos. De agosto para cá, ajustamos nossos instrumentos para esse novo ambiente.

Desde que começou a cortar juros, o BC vinha ressaltando, em seus documentos, que o impacto da crise internacional sobre a economia brasileira seria equivalente a um quarto do estrago de 2008, quando explodiu a bolha imobiliária norte-americana. Por que tal estimativa desapareceu da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom)? Isso quer dizer que o impacto será maior? Vamos observar o desenrolar da situação internacional. Eu falei recentemente que melhor do que especular sobre eventuais desdobramentos é estar preparado para enfrentá-los. A situação na Europa melhorou muito em dezembro, em janeiro e fevereiro. Depois, houve uma recaída com a Grécia. Mas, na nossa visão, o cenário internacional já era de baixo crescimento e de ampla liquidez, que, em momentos como agora, vai para os EUA. Trata-se de um cenário sujeito a sobressaltos e turbulências ao longo do caminho. A nossa visão permanece a mesma em relação ao cenário internacional. Estamos fazendo nosso dever de casa para proteger a economia brasileira. Cuidamos da inflação no ano passado. Ela está convergindo para o centro da meta e, desde o fim de agosto, tomamos várias medidas para reativar o crescimento, e isso vai acontecer ao longo do ano.

O senhor deixou claro que os efeitos das políticas de estímulo à economia vão demorar mais para aparecer. Ou seja, a defasagem entre o anúncio delas e os resultados efetivos aumentou. A política de juros perdeu efetividade? Não. A política monetária hoje é mais efetiva do que foi no passado por uma série de questões. O canal do crédito está muito mais desenvolvido do que era há 10 anos. A bancarização do brasileiro é muito maior do que no início da década. Então, estruturalmente, a política monetária está mais efetiva. Nosso instrumento tem mais efeito lá na ponta. Por outro lado, dissemos que confiança é um dos canais de transmissão da crise, que afeta todo o processo. Mas é uma questão conjuntural, que está fazendo com que a recuperação da economia venha mais lentamente do que se supunha inicialmente. Esse atraso, esse alongamento da defasagem das políticas neste momento tem, sim, a ver com a conjuntura internacional mais desafiadora nos últimos tempos.

Além do agravamento da crise da Europa, a China, maior parceira comercial do Brasil, pode crescer abaixo de 7% neste ano. Isso prejudica ainda mais a economia brasileira? A China, na nossa visão, tem capacidade e instrumentos para arquitetar e conduzir um pouso suave de sua economia. De fato, há alguns meses, o governo chinês declarou que seu objetivo de crescimento é de 7,5% e não mais 8% ou 8,5%. Os 7,5% são parte dessa estratégia. Esse crescimento é bom para nós, pois tira a pressão inflacionária, mas mantém os preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional) em níveis historicamente elevados.

Por que o Brasil cisma em estimular tanto o consumo em vez de investimentos produtivos, como fez a China ao longo de anos? Em economias como a do Brasil e a dos Estados Unidos, o consumo domina dois terços do PIB, mas quem dá a dinâmica do crescimento é o investimento, que é mais volátil. Temos de cuidar do consumo para dar a propagação de crescimento. E nós estamos atentos a isso. Porém, é o investimento que vai dar a tendência, se vai crescer mais ou menos. O Brasil tem um programa de investimento de R$ 1,2 trilhão para os próximos cinco anos na construção civil, em petróleo e gás, na área de energia, transporte e outros. Esse é o investimento público que, obviamente, tem impacto, um caráter pedagógico sobre a economia. No momento em que as pessoas concluem que o país está acelerando o seu crescimento, o investimento privado vai fortalecer esse processo.

Mas os investimentos públicos estão atrasados. A indústria se queixa muito da infraestrutura ineficiente que lhe tira competitividade e provoca desequilíbrios. O setor produtivo está sendo relegado? Não sou o responsável por essa área, mas obviamente analisamos. O governo tem uma série de medidas para a indústria, como a desoneração da folha de pagamento, que já beneficiou 15 setores. Também há desoneração nas áreas de portos, ferrovias e aeroportos. Há uma série de medidas sendo tomadas para aumentar a produtividade, como o Pronatec, que prevê a capacitação de 8 milhões de pessoas no próximo ano. Há um conjunto de iniciativas que diz respeito à competitividade da indústria e que vai ter repercussão sobre a economia. Além disso, a taxa de câmbio está em um nível diferente. Ela flutuou em função do próprio regime, mas está diferente do que estava há alguns meses. Junto com os investimentos programados, esse conjunto de medidas milita no sentido de resgatar e melhorar a competitividade da economia e da indústria.

Como o senhor avalia as críticas de que o governo privilegia setores mais organizados, como o automobilístico, em vez de dar benefícios lineares para todos, sobretudo na área tributária? Vou falar da minha área de responsabilidade, que é a macroeconomica. Temos hoje o país em desenvolvimento, talvez com o melhor resultado fiscal do mundo, com superavit primário de 3,1% do PIB e uma relação entre a dívida e o PIB de 35%. O país está criando condições de financiamento que não se tinha. Não é à toa que o BC conseguiu reduzir a taxa básica da economia em quatro pontos percentuais e trazer a inflação para baixo, criando melhores condições de custo de capital. Há preocupações de aumentar a produtividade do trabalho no governo. Lá fora, realmente está complicado. Mas nós fortalecemos nossa estrutura e nos preparamos para dias difíceis. Temos um setor público credor em dólares. Quando o real desvaloriza, a situação fiscal, num primeiro momento, melhora, permitindo a adoção de políticas contracíclicas, como em 2008. Temos reservas internacionais na faixa de US$ 370 bilhões. Em termos de liquidez em reais, também estamos bem. Não só temos movido nossa estrutura para manter a inflação na meta e retomar o crescimento mais sólido, como estamos preparando o Brasil para enfrentar um cenário internacional adverso como nesse momento.

Enquanto os investimentos produtivos não vêm, o consumo das famílias evita o pior neste ano? O consumo da família vai bem, cresceu no primeiro trimestre na faixa de 1% ou 4% anualizado. O BC tomou as medidas necessárias no começo dessa gestão e no fim da anterior para evitar que a inadimplência fosse um problema de estabilidade. A inadimplência está sob controle, vai se estabilizar agora e cair no fim do ano. Se pegarmos as safras de crédito de agosto de 2011 para cá, a inadimplência já está mostrando recuo. Não é todo brasileiro que passa mais de 20 dias no cheque especial.

As medidas de estímulo ao consumo não podem inverter essa curva de redução do calote? Não. Com a redução dos juros, do spread, das taxas ao tomador final, com a economia crescendo, com o emprego firme e a inflação recuando, as condições de financiamento melhoram, inclusive as de refinanciamento, que agora estão em bases mais favoráveis do que as do crédito original. Vamos olhar além. É fato que a inadimplência subiu. Por isso, as medidas que adotamos no fim de 2010 e no começo de 2011. Estou falando isso tudo para conseguirmos ver para daqui a quatro, cinco, seis meses.

Com quase 45% da renda das famílias comprometidas com dívidas, há ainda espaço para mais endividamento? Do ponto de vista de dinâmica, sim. Dívidas vão sendo pagas. Se pegarmos o prazo médio dos débitos, no Brasil é menor que em outros países. Então, o conserto no balanço das famílias é muito mais rápido. O brasileiro pega o 13º salário e vai lá pagar a dívida. O endividamento também vai ficando mais barato com a redução dos juros.

Como o BC avalia o comportamento dos bancos nesse cenário de juros em baixa? Eles estão agindo de acordo com a expectativa? Temos participado de algumas discussões sobre esse tema, sobre o que o BC, como regulador, gostaria de ver. A regulação tem de ser mais neutra ao longo do ciclo econômico. Quando a economia cresce, a fase é boa, o país avança acima do produto potencial, as pessoas consomem mais, as empresas investem mais, o governo tende a gastar mais. Não só fazem isso, como usam mais recursos de terceiros (por meio de empréstimos). E os bancos acompanham esse processo, emprestando mais. Mas quando a economia desacelera, as instituições ficam mais arredias, reduzem o crédito. Queremos, e esse é o nosso diálogo, que os bancos não exagerem na concessão de empréstimos quando a economia vai bem nem se tornem tão conservadores quando a atividade desacelerar. Mas tudo está no começo.

O governo reverteu o IOF de 6% sobre os empréstimos no exterior para conter a alta do dólar e facilitar a rolagem de dívidas de empresas brasileiras no exterior? Há riscos de companhias ou mesmo de bancos menores darem calote em débitos lá fora? Condições financeiras mudam ao longo do tempo e estamos lidando com uma crise internacional, que tem repercussões sobre fluxos de capitais. Se pegarmos as linhas externas do Brasil, o estoque se mantém constante em US$ 70 bilhões, R$ 35 bilhões só para o comércio exterior. Houve retração lá atrás, no segundo semestre de 2011, quando os bancos europeus travaram. Mas outros bancos tomaram o lugar deles, como os norte-americanos, os canadenses e os asiáticos. Em relação às fontes de financiamento para as instituições financeiras, lá fora ficou pior do que era antes. O anúncio que foi feito pelo ministro (Guido Mantega, da Fazenda) reflete a piora das condições de financiamento lá fora. Aquilo que era excessivo antes (o excesso de linhas de crédito) deixa de ser nesse momento. Então, acho que o ajuste veio no momento certo.

Serão necessários novos ajustes nessa área cambial para equilibrar o sistema? Não. Mas, naturalmente, estamos sempre monitorando. Nossa visão é de um mundo que cresce pouco, em um processo de turbulência. Não temos bola de cristal. Melhor do que falar sobre desdobramentos de crise é se preparar. E nossa economia está preparada e tem avançado nesse processo. Em relação ao que ocorreu em 2008, houve o travamento das linhas de crédito internacionais com repercussão sobre os mercados do mundo inteiro, inclusive no país. E, quando o Brasil se deparou com aquele cenário, reagiu. Não estamos num cenário semelhante ao de 2008. Ao contrário, o Brasil tem liquidez, tem capital e o sistema financeiro está lucrativo.

O senhor trabalha com um cenário semelhante ao de 2008, quando o banco norte-americano Lehman Brothers quebrou e a economia global entrou em colapso? Não. Não está no nosso horizonte. Uma coisa que falamos é que, mesmo ocorrendo um novo evento extremo, é preciso avaliar a situação, as repercussões dele. Quando ocorreu um evento extremo em 2008, com o Lehman Brothers, o mundo estava mais alavancado do que hoje, estava mais interconectado financeiramente. Houve processo de desalavancagem forte nos últimos anos. Ainda que ocorra um evento extremo, isso tem de ser avaliado com rapidez, com critério, com precisão.

Por que a queda da taxa Selic está demorando tanto a ser repassada para o consumidor? O BC tem feito um esforço para fazer com que o custo do capital do financiamento seja reduzido. A demora para o repasse, entre outras coisas, reflete na inadimplência referente ao que foi feito no passado. Mas nós, como reguladores, induzimos as instituições a olharem para frente e não serem essencialmente conservadoras na concessão de crédito.

E as tarifas bancárias, por que sobem tanto? Temos um elevado grau de transparência, que nos permite ajudar os clientes a escolher em que banco tomar crédito e em que banco estabelecer relação de médio e longo prazos. As tarifas têm estabilidade, só podem ser revistas de seis em seis meses. O BC obrigou as instituições a fornecerem também as tarifas de pacotes. Às vezes, uma tarifa é boa, mas no pacote pode ser melhor. Essa informação está disponível para os correntistas e para os órgãos de defesa do consumidor, que podem ser mais atuantes. Isso vale, inclusive, para a portabilidade de contas e de crédito.

Questionou-se muito o papel do BC no caso Cruzeiro do Sul, agora, sob intervenção. O sistema financeiro está saudável? O BC está cada vez melhor nessa área de fiscalização. Está cumprindo seu papel de regulador, com uma supervisão intensa, bastante intrusiva para a identificação e correção de práticas ilegais. Temos trabalhado para que o sistema financeiro seja cada vez mais sólido e cumpra seu papel de intermediador de recursos.

Abuso por lucro O governo vem batendo pesado sobre os bancos para cortar o spread, a diferença entre o que pagam aos investidores e o que cobram dos devedores. O spread no país vem girando em torno de 40 pontos percentuais. É o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas do Zimbábue. Quando se analisa o spread, constata-se que cerca de 35% são referentes aos lucros das instituições financeiras. Elas, por sua vez, garantem que a culpa por tamanho abuso é do aumento do calote. O Banco Central discorda.

8,5% Atual taxa básica de juros. Desde agosto do ano passado, já caiu quatro pontos percentuais. A atividade ainda não sentiu esse benefício.

7% Ritmo anual de crescimento das vendas do varejo. Há 13 meses, o comércio avançava a uma velocidade quase duas vezes maior: 12%.

Avanço rebaixado O Banco Central vai anunciar, no fim deste mês, a nova projeção para o Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, a previsão está em 3,5%, mas tudo indica que pode cair para menos de 3%, diante do atual quadro da economia. O presidente do BC, Alexandre Tombini, diz que o mercado não deve se apegar ao número, pois, já no fim no ano, a economia estará crescendo a um ritmo bem mais forte, acima de 4%, como torce a presidente Dilma Rousseff.

R$ 1,2 trilhão Total de investimentos públicos programados para até 2015. O governo acredita que, se conseguir destravar os desembolsos, dificultados pela necessidade de se manter o ajuste fiscal, estimulará a iniciativa privada a desengavetar projetos que ampliem a produção.

Benefício escondido O Banco Central está apostando firme na portabilidade do crédito e de contas para que as famílias possam baratear o custo de suas dívidas. A regulação assegura o direito de se levar para outro banco o cadastro do correntista, a conta-corrente e o crédito. O instrumento da portabilidade ainda é pouco utilizado, muito por desconhecimento do grande público e pela falta de disposição do sistema financeiro em dar publicidade a essas facilidades.

US$ 370 Bilhões

Reservas internacionais do país, que podem ser usadas para suprir a escassez de dólares no país, caso a crise mundial entre em um estágio de gravidade extrema. Em 2008, foi preciso recorrer a elas para garantir crédito aos exportadores.

Saúde importante Os bancos pequenos e médios respondem hoje 17% dos ativos do sistema financeiro nacional, 15% dos depósitos e 13% das operações de crédito. Atuam em segmentos especializados, atendendo, especialmente, pequenas e médias empresas e os trabalhadores que optam pelo crédito consignado. Por isso, o BC está tão atento às dificuldades enfrentadas por essas instituições depois que houve a intervenção no Cruzeiro do Sul.