O globo, n. 31161, 30/11/2018. Rio, p. 12

 

Delator liga empresa de postes a esquema de Cabral e Pezão

Elenilce Bottari

Gisele Ouchana

30/11/2018

 

 

Delator liga empresa de postes a esquema de Cabral e Pezão

Parte das placas de energia solar do sistema de iluminação do Arco Metropolitano, que custaram R$ 96,7 milhões ao governo, já foi roubada

Cenário de crimes e retrato do abandono, o Arco Metropolitano é apontado como um dos motivos que levaram Luiz Fernando Pezão à prisão. Em delação premiada, o economista Carlos Emanuel Carvalho Miranda, ex-operador da propina de Sérgio Cabral, citou uma suposta ligação do governador com a High Control, responsável pela instalação das placas de energia solar nos postes da rodovia. Sócios da empresa, os irmãos Luís Fernando e César Augusto Craveiro de Amorim também foram alvos da Operação Boca de Lobo.

As obras do Arco custaram R$ 1,9 bilhão —R$ 1,1 bilhão a mais que o previsto. As placas de energia solar dos 4.310 postes custaram R$ 96,7 milhões, mais de R$ 22 mil por unidade. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Miranda afirmou que Cabral deu ordem para pagar R$300 mil à empresa dos irmãos, especializada em painéis solares, como remuneração por serviços prestados (a instalação de um home theater) na casa de Pezão, em Piraí.

A entrega dos 72 quilômetros que ligam Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada, atrasou quase quatro anos. O trecho foi inaugurado em julho de 2014. Desde então, a rodovia acumula problemas, como construções clandestinas nas margens, comércio improvisado, apropriação de terras públicas e abertura de acessos ilegais, conforme mostrou reportagem do GLOBO em junho. A insegurança, contudo, é a principal queixa de quem ainda trafega por lá. Apesar do alto investimento em iluminação, o abandono por parte das autoridades favoreceu a ação de criminosos que, além de derrubarem boa parte dos postes, roubaram as baterias que armazenavam a energia solar. Vários trechos da rodovia ficaram às escuras depois que dezenas de equipamentos foram levados. Assaltos a motoristas também são frequentes.

Até então realizado pelo Batalhão de Polícia Rodoviária estadual (BPRv), o patrulhamento do Arco Metropolitano chegou a receber reforço da Força Nacional durante uma força-tarefa para coibir roubos de cargas, no ano passado. Desde outubro, no entanto, a segurança na rodovia está exclusivamente a cargo da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Isso porque, naquele mês, o estado passou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) a responsabilidade pela via.

Em fevereiro, o secretário de Obras, José Iran Peixoto Junior, preso na Boca de Lobo, havia pedido ajuda ao governo federal para a manutenção do Arco Metropolitano, alegando falta de condições financeiras do estado.

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Propina poderia pagar mais de 22 mil salários no estado

Gilberto Porcidonio

Nelson Lima Neto

30/11/2018

 

 

Servidores comemoram prisão do governador na porta da Alerj com bolo e fogos de artifício

Em valores atualizados, a propina que Pezão recebeu,segundo o MPF, daria para pagar vencimentos de mais de 22 mil servidores. Em valores atualizados, a propina que teria sido recebida pelo governador Luiz Fernando Pezão, segundo acusação do Ministério Público Federal( M PF ), seria suficiente parapa garos salários de 22.614 servidores estaduais por um mês. O cálculo é baseado nos vencimentos entreR $800 e R $1.600, os mais baixos do funcionalismo estadual. Segundo o MPF, foram recebidos por Pezão exatamente R$ 39.105.292,42 entre 2007 e 2014.

Os servidores estaduais enfrentaram quase dois anos de atrasos nos pagamentos, até o Estado do Rio entrar no Regime de Recuperação Fiscal. Muitos chegaram a viver o drama de enfrentar filas para receber cestas básicas. Atualmente, o estado tem 88 mil servidores na ativa e 160 mil aposentados.

Mesmo com o salário em dia desde o início do ano, muitos funcionários públicos comemoraram a prisão de Pezão. Um grupo levou um bolo de um metro emeio para aporta da Assembleia Legislativa (Alerj). A frase “Pezão, ladrão, seu lugar é na prisão” era uma das principais entre as palavras de ordem.

O bolo de doce de leite e cobertura de frutas foi cortado ao som de “Parabéns a você” e distribuído a pedestres. O primeiro pedaço, no entanto, foi dedicado à Polícia Federal. Houve fogos de artifício lançados por agentes penitenciários, que foram aplaudidos ao promover um buzinaço com uma viatura.

Um dos presentes, o servidor público Ramon Carrera, disse esperar que o vice-governador Francisco Dornelles, agora no comando do estado, cumpra o calendário de pagamentos do 13º salário:

—O funcionalismo do estado sofreu muito por causa do atraso dos salários e do 13º desde 2015, que se arrastou até 2017. Todo mundo ficou convivendo com incertezas.

O bombeiro reformado Antônio Blois disse que ainda passa por dificuldades depois de ter ficado sem o pagamento de sua pensão de R$ 3 mil:

—Pago muitas dívidas.