O globo, n. 31161, 30/11/2018. Rio, p. 14

 

Série de prisões abalou o poder público no Rio

Ludmilla de Lima

30/11/2018

 

 

 Recorte capturado

Quatro governadores eleitos foram detidos nos últimos 20 anos. Só a Lava-Jato levou 188 pessoas para a cadeia desde 2015, incluindo secretários e deputados estaduais, além de conselheiros do TCE

Todos os governadores eleitos do Rio de 1999 para cá já foram presos. Faltando pouco mais de um mês para deixar o Palácio Guanabara, Luiz Fernando Pezão (MDB) é o quarto a ser levado pela Polícia Federal para o xadrez. Todos fizeram parte da cúpula do antigo PMDB no estado. Anthony Garotinho (PRP) chegou a ser detido três vezes, sendo nas duas primeiras acusado de fraude eleitoral em Campos, com compra de votos por meio do programa social Cheque Cidadão. Na última, em 22 de novembro do ano passado, sua mulher, a ex-governadora Rosinha Garotinho (Patriota), também foi presa. O casal é suspeito de integrar uma organização criminosa que arrecadava recursos de forma ilícita com empresários para o financiamento de campanha. Ela acabou sendo solta no mesmo mês, enquanto Garotinho saiu da cadeia em dezembro.

Já dentro das investigações da Lava-Jato, foram presas no Rio nos últimos três anos 188 pessoas. Parte já ganhou a liberdade. O ex-governador Sérgio Cabral está atrás das grades desde 17 de novembro de 2016. Ele foi preso pela Polícia Federal dentro da Operação Calicute. Acusado de chefiar a quadrilha que devastou o caixa do estado ao desviar R$ 224 milhões, ele está em Bangu 8 e já foi condenado a 170 anos e oito meses de reclusão. Do primeiro escalão do Palácio Guanabara, entre os que seguem presos estão Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde; Hudson Braga, que comandou a pasta de Obras; e Wilson Carlos, ex-secretário de Governo de Cabral.

A Lava-Jato no Rio também abalou as estruturas do Palácio Tiradentes, colocando na cadeia dez deputados estaduais. Dois são ex-presidentes da Assembleia Legislativa (assim como Sérgio Cabral): Jorge Picciani e Paulo Melo. Picciani foi preso no exercício do comando da Casa em novembro do ano passado junto com Paulo Melo e Edson Albertassi, os três do MDB, na Operação Cadeia Velha. Eles fariam parte de um esquema de propina junto a empresários de ônibus. Quase um ano depois, a Operação Furna da Onça decretou a prisão de dez deputados —incluindo os três já encarcerados. Todos são suspeitos de corrupção, com distribuições de mesadas e de cargos para votar de acordo com interesses do governo.

As investigações ainda varreram o Tribunal de Contas do Estado (TCE), em maço de 2017, prendendo de uma só vez (Operação Quinto do Ouro) cinco dos sete conselheiros, como o então presidente, Aloysio Neves, por receberem dinheiro em troca de “vista grossa” em processos de irregularidades. O grupo foi solto. Outro ex-presidente do TCE, Jonas Lopes de Carvalho, virou delator. Todos estão impedidos de voltar ao tribunal.