Título: Itália socorre banco secular
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Fonte: Correio Braziliense, 27/06/2012, Economia, p. 13

Fundado em 1472, Banca Monte dei Paschi di Siena receberá ajuda de 2 bilhões de euros do governo de Mario Monti

Sede da instituição que é símbolo de uma importante cidade da Toscana: alicerces financeiros abalados e prejuízo de bilhões de euros

O governo italiano aprovou ontem o resgate com o máximo de 2 bilhões de euros do banco mais antigo do mundo, o Banca Monte dei Paschi di Siena (BMPS), fundado em 1472, na cidade de Siena, na Toscana. Além da ajuda, o governo substituirá empréstimo de 1,9 bilhão de euros concedido em 2009 por outro, o que deverá somar no total 3,9 bilhões de euros. Com essa medida, o banco contará com fundos de recurso próprio que respeitará as exigências da autoridade bancária europeia. Muito exposto à dívida italiana, o BMPS fechou o ano de 2011 com um prejuízo de 4,69 bilhões de euros. A decisão do governo italiano procura evitar que um dos alicerces da formação das instituições financeiras do país desabe com a crise. Além disso, explicou uma autoridade do governo, que pediu anonimato, o BMPS é símbolo da solidez italiana, "e não poderia ir à lona".

Ao socorrer a tradicional institucional financeira, o primeiro-ministro Mario Monti espera conquistar apoio em momento decisivo para sua permanência no cargo. Ele ganhou os primeiros dois de quatro votos de confiança convocados para acelerar a aprovação de sua reforma trabalhista, criticada tanto por sindicatos quanto pelo setor empresarial. As duas votações finais e consequente aprovação da reforma devem acontecer hoje. Monti tem inclusive o apoio do antecessor, Silvio Berlusconi, na empreitada. Berlusconi disse ontem, em Roma, que o mais importante, neste momento, é salvar o país.

A crise bancária europeia é o principal item da agenda de dois dias de reunião de cúpula da União Europeia, que começa amanhã. A ideia de criar mecanismo de fiscalização e unificação bancária e fiscal estará na mesa de discussão.

Protestos Entre o novo imposto predial, a alta dos impostos ao consumo, o IVA, e a caça às evasões fiscais lançada pelo governo de Monti, os italianos se dizem estrangulados pelo Fisco em plena recessão da economia. "Não terminamos nunca de pagar multas, faturas, recibos. Cada dia a corda está mais estreita e a cada dia menos podemos pagar. Este governo corre muito para cobrar impostos", diz o empresário Gianbattista Tagliani. O jovem empresário havia acabado de sair de uma filial de Equitalia, a agência pública para a arrecadação de impostos, onde estava pagando as cotações atrasadas de um empregado. Especializado em monitoramento de mídias, ele conta a situação absurda na qual se encontra: a Câmara dos Deputados, ou seja, o Estado italiano, lhe deve 20.000 euros por serviços prestados, os quais lhes serão pagos com 180 dias de atraso.

O imposto predial, que Silvio Berlusconi eliminou em 2008 e que foi reintroduzido por Monti, e o IVA, que subiu de um ponto a 21% e que pode chegar a 23%, converteu-se em um pesadelo para os italianos. Monti tem procurado atenuar a situação com o compromisso de estimular o crescimento, mas com o aumento de custos da dívida italiana em face do risco, a espera por dias melhores ainda é incerta na Zona do Euro.

Tesouro comum A Zona do Euro poderá criar um Tesouro para o bloco monetário e emitir eurobônus no último estágio de uma união fiscal que pode levar anos para ser construída, de acordo com documento preparado para a cúpula dos líderes, que começa amanhã. "Numa perspectiva de médio prazo, a emissão de dívida comum pode ser explorada como um elemento de tal união fiscal e sujeita ao progresso da integração fiscal", diz o relatório.