O globo, n. 31160, 29/11/2018. País, p. 8

 

Com Osmar Terra na Cidadania, Bolsonaro frustra evangélicos

André de Souza

Eduardo Bresciani

Jussara Soares

Mateus Coutinho

Natália Portinari

29/11/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Bancada religiosa tinha sugerido três nomes para a pasta. Nomeação também deixa Magno Malta mais longe do governo

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), exministro de Desenvolvimento Social na gestão Michel Temer, foi indicado a ministro da Cidadania no governo Jair Bolsonaro. A pasta agregará as áreas do atual Ministério do Desenvolvimento Social, Esportes, Cultura e a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, segundo o próprio ministro.

O anúncio, feito nesta quarta-feira (28), desagradou evangélicos que haviam enviado, no dia anterior, uma lista indicando três nomes para o posto, a pedido do próprio presidente. Também não contemplou o pastor e senador Magno Malta (PR-ES), cotado para o posto desde que Bolsonaro foi eleito. O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus e um dos maiores apoiadores de Malta, criticou a nomeação de Terra.

Para evangélicos ouvidos pelo GLOBO, porém, há ainda a possibilidade de Bolsonaro manter uma pasta de Direitos Humanos e Mulheres, como ele mesmo admitiu, nesta quarta, e de abrigar lá uma das indicações da bancada: Gilberto Nascimento (PSC-SP), Marco Feliciano (Podemos-SP) ou Ronaldo Nogueira (PTB-RS).

Já Magno Malta, que chegou a se autoproclamar ministro, enfrenta mais rejeição do entorno do presidente. A provável exclusão de Malta gerou as primeiras críticas de Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ao futuro governo.

— Apoio integralmente o Bolsonaro, mas não vou concordar 100% com as ações dele. A unanimidade é burra. Para mim, Bolsonaro disse três vezes que estava pensando em colocar o Magno na Cidadania .

13º no Bolsa Família

Osmar Terra é o primeiro ministro do MDB no governo e o segundo nome do governo Temer, depois de Wagner de Campos Rosário (Controladoria-Geral da União), a seguir com Bolsonaro. Ele confirmou que haverá 13º salário no Bolsa Família e que o governo vai procurar diminuir o número de pessoas que precisam da benefício.

Médico de formação, Terra é contra a liberação das drogas e já foi secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, estado onde nasceu. No período como ministro de Desenvolvimento Social, criou o programa Criança Feliz, voltado à primeira infância.

Quando saiu do ministério, Terra afirmou que promoveu cortes de 4,4 milhões de famílias do Bolsa Família que, segundo ele, ganhavam mais do que declaravam, além de 1,8 milhão de pessoas que recebiam indevidamente o auxílio-doença do INSS.

Ao anunciar o nome de Osmar, Bolsonaro afirmou que uma nova ferramenta será usada na busca de fraudes nos programas sociais. Ele afirmou que em um primeiro cruzamento o número de irregularidades foi “assustador”. A ferramenta cruza dados dos beneficiários com informações de renda e patrimônio deles.

— Hoje tive acesso a uma nova ferramenta para busca de fraudes. E foi mostrado ali, e é até um alerta para quem está fazendo coisas erradas, pessoas que recebem Bolsa Família e tem um rendimento acima de X por ano. O número foi assustador. Com essa ferramenta, nós vamos, sim, fazer um grande pente fino nesses projetos sociais. Queremos preservá-los, mas com saúde —disse Bolsonaro.

O parlamentar não deu mais detalhes de como serão obtidos os recursos para o décimo terceiro do Bolsa Família e nem se haverá um reajuste do valor da bolsa paga aos beneficiários no ano que vem.

— Por enquanto, não. Temos que ver como que vai evoluir a receita e despesa. Na verdade houve um aumento importante do Bolsa Família nestes últimos dois anos ne? Se deu um reajuste bem acima da inflação, mas agora depende do comportamento também da economia —afirmou.

“Nós vamos, sim, fazer um grande pente fino nesses projetos sociais. Queremos preservá-los, mas com saúde”

Jair Bolsonaro, presidente eleito

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Futuro governo deve chegar a 22 ministérios

Adriana Mendes

André de Souza

Eduardo Bresciani

Mateus Coutinho

29/11/2018

 

 

Deputado que socorreu Bolsonaro após facada e ex-chefe de gabinete de Helder Barbalho são confirmados na Esplanada

Além de Osmar Terra para a pasta da Cidadania, o presidente eleito Jair Bolsonaro confirmou ontem mais dois ministros de seu futuro governo. O deputado federal reeleito Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) assumirá o Ministério do Turismo, conforme O GLOBO noticiou na terça-feira. Já Gustavo Henrique Canuto, atual secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional será o titular do Desenvolvimento Regional, pasta a ser criada e que reunirá os atuais ministérios da Integração e das Cidades.

Até agora, o presidente eleito já anunciou 19 ministros. Ainda faltam os nomes de Meio Ambiente e Minas e Energia. Caso se confirme a tendência da criação de uma pasta para Direitos Humanos e Mulheres, o número total chegará a 22.

Álvaro Antônio é o primeiro parlamentar do PSL, partido de Bolsonaro, a virar ministro. Até então, o outro representante do partido no futuro governo era Gustavo Bebianno, que presidiu a legenda no último ano, é dos mais próximos do presidente eleito e ocupará a secretaria-geral da Presidência.

Desde a vitória de Bolsonaro, parlamentares eleitos pelo PSL vinham reclamando da falta de interlocução com o comando da transição de governo. Apoiador de Bolsonaro, Álvaro Antônio foi o deputado mais votado em Minas Gerais, eleito com mais de 230 mil votos.

Quarto partido

Ligado à Igreja Maranata, ele integra a frente religiosa do Congresso. Foi em um encontro com a bancada evangélica, na terça-feira, que Bolsonaro anunciou aos parlamentares a escolha pelo deputado para a pasta de Turismo.

Os dois se aproximaram no momento mais marcante da campanha presidencial: Álvaro Antônio estava ao lado de Bolsonaro na caminhada em Juiz de Fora, no dia 6 de setembro, quando o então presidenciável levou uma facada. O deputado foi um dos que ajudaram a socorrê-lo logo no primeiro momento.

Entre 2012 e 2014, o futuro ministro foi vereador de Belo Horizonte, cidade onde nasceu. Em 2016, concorreu à Prefeitura da cidade pelo PR. Ele também já foi filiado ao PRP e ao MDB.

Os líderes da bancada evangélica afirmaram que sua nomeação foi uma escolha do presidente eleito, e não uma indicação da bancada.

Sobre Gustavo Canuto, Bolsonaro afirmou se tratar de uma indicação técnica, destacando, no anúncio de seu nome, que ele é “servidor efetivo do Ministério do Planejamento”.

Cedido à Integração Nacional, ele já foi chefe de gabinete do ex-ministro da pasta Helder Barbalho (MDB), governador eleito do Pará. Helder é filho do senador Jader Barbalho (MDB-PA), há décadas um dos principais líderes políticos do partido.

Canuto disse que sua indicação não tem relação com Helder Barbalho, ministro no governo Temer:

— De maneira alguma, o ex-ministro Helder não tem nenhum papel nessa indicação, a indicação veio da equipe de transição.

O Ministério do Desenvolvimento Regional vai acumular as funções hoje exercidas pelo das Cidades e pelo da Integração Nacional, de forma que cada um deles será uma secretaria executiva na nova pasta.

Canuto, porém, disse que ainda não tratou com o presidente eleito Jair Bolsonaro sobre se o Programa Minha Casa Minha Vida ficará sob sua responsabilidade.

— Ainda não pude falar com o presidente para saber como vai ficar esses programas que tem um lado mais social que de infraestrutura urbana—disse, acrescentando que anova pasta deverá te rum orçamento de R$ 6 bilhões aR$ 8 bilhões.