Título: Haddad confirma vice do PCdoB
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2012, Política, p. 7

Dez dias depois de perder Luiza Erundina (PSB) como vice na disputa pela prefeitura de São Paulo, o pré-candidato do PT Fernando Haddad confirmou ontem o nome de Nádia Campeão (PCdoB) como vice na chapa para as eleições de outubro. Contou a favor de Nádia — presidente do diretório estadual do PCdoB — o fato de os comunistas terem aberto mão da candidatura de Netinho de Paula. "Por ser mulher e por ser coerente, ela terá um papel importante na nossa campanha", completou Haddad.

A comunista não é uma estranha nas hostes petistas. Ela foi secretária de Esporte na gestão de Marta Suplicy, entre 2000 e 2004, e vice do atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na disputa pelo governo de São Paulo em 2006. Tanto Marta quanto Mercadante foram derrotados pelo atual candidato do PSDB à prefeitura, José Serra.

Haddad corre para reverter as notícias ruins que recebeu logo pela manhã. A pesquisa Datafolha apontou que 64% dos petistas não aprovaram a coligação do PT com o deputado Paulo Maluf (PP). E que 62% dos eleitores também rejeitaram a parceria. "Foi péssimo. Ganhamos um minuto e meio no horário eleitoral, mas teremos que ter outros três para explicar por que fizemos isso", reclamou um petista ao Correio.

O parlamentar lembra que o PT sempre foi adversário histórico do malufismo, responsável por boa parte das investigações que tornaram o deputado do PP procurado pela Interpol. "Nossos adversários não vão usar durante o horário eleitoral apenas a foto do aperto de mão (entre Lula e Maluf). Vão nos mostrar chamando o Maluf de corrupto, como chamávamos no passado", disse o integrante da campanha de Haddad.

O PT também observa com atenção outros movimentos. O mesmo levantamento eleitoral detectou algo que os petistas já haviam percebido: a candidatura de Celso Russomanno (PRB) pode ser viável. Considerado azarão meses atrás, o ex-deputado federal subiu de 21% para 24% nas intenções de voto de acordo com a pesquisa divulgada ontem.

Evangélicos Mais do que o aumento na intenção de votos — que isola Russomanno em segundo lugar entre os candidatos à prefeitura de São Paulo — alguns setores do PT estão preocupados com a provável linha da campanha de Russomanno. Figura já conhecida pelo eleitorado paulistano, sobretudo por comandar programas jornalísticos com teor mais popular — nos últimos meses abordou os direitos do consumidor —, Russomanno tem agora ao seu lado a Igreja Universal, da qual o PRB é o braço político.

Segundo apurou o Correio, os evangélicos estão dispostos a fazer uma boa bancada de vereadores e, para isso, interessa ter um candidato a prefeito com uma votação considerável. Além disso, Russomanno também tem apoio de uma emissora de televisão forte, o que lhe garante espaço nos noticiários.

Esses elementos já haviam sido percebidos pelo governo federal quando a presidente Dilma Rousseff decidiu convidar o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para ser ministro da Pesca. O governo federal e o PT não conseguiram atrair a simpatia dos evangélicos, tampouco a retirada da candidatura de Russomanno.

Outro que também provoca apreensões, embora ainda esteja estacionado nos 6% nas intenções de voto, é o peemedebista Gabriel Chalita. Ele não tem um partido estruturado no estado nem na capital, mas conta com um bom tempo de televisão, o que permite espaço para apresentação das propostas do partido. Além disso, Chalita não fez o lançamento da candidatura em um hotel ou ginásio esportivo. Fez na Igreja da Sé, após participar de uma missa, o que reforça sua ligação com os católicos.

Análise da notícia

Enigma paulista A disputa pela prefeitura de São Paulo continua um enigma difícil de ser decifrado. O candidato do PSDB, José Serra, segue no topo das pesquisas, estático por volta dos 30% de intenções de voto e espremido por uma rejeição maior que o número de seus admiradores. Não conseguiu definir o vice e ainda foi multado ontem em R$ 5 mil por propaganda eleitoral antecipada.

Fernando Haddad, do PT, subiu dos 3% para os 8% e agora voltou para os 6%. Os petistas tiveram ojeriza à união com Maluf. Haddad perdeu a companhia de Luiza Erundina (PSB), mas ganhou a de Nádia Campeão, do PCdoB. Ele aposta no carisma do ex-presidente Lula, que promete "morder a canela dos adversários", mas que, desde janeiro, vê despencar seu poder de transferência de votos. No início do ano, eram 49%, depois, 36%, e agora, 33%, segundo eleitores ouvidos pelo Datafolha que admitem votar em alguém indicado por Lula.

Netinho de Paula (PCdoB) deixou a disputa, mas sobraram Celso Russomanno (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB). Ambos chegaram a ensaiar um casamento, já que o peemedebista Chalita é forte nas classes A e B, entre os professores e os católicos. Já o candidato do PRB tem inserção na periferia. (PTL)