O globo, n. 31159, 28/11/2018. Rio, p. 17
Deputados presos prestam depoimentos na PF
Antônio Werneck
28/11/2018
Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo são ouvidos durante nove horas sobre esquema de corrupção montado na Assembleia Legislativa que, segundo investigadores, movimentou R$ 54 milhões em propinas
Presos sob a acusação de corrupção, os deputados estaduais Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo (MDB) prestaram depoimentos por aproximadamente nove horas, ontem, à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Os três foram ouvidos porque se tornaram alvos da Operação Furna da Onça, deflagrada no último dia 8: de acordo com a investigação que deu origem ao inquérito, eles e outros sete parlamentares, também detidos, transformarem a Assembleia Legislativa (Alerj) numa “propinolândia”.
Picciani (ex-presidente da Alerj), Albertassi e Melo chegaram à sede da Polícia Federal, na Praça Mauá, às 10h, e foram interrogados pela delegada Xênia Soares e pelo procurador regional da República Carlos Aguiar. As perguntas eram referentes a pagamentos de propina para votações de projetos favoráveis ao governo estadual e a empresas. Além disso, o grupo é suspeito de lotear cargos no Detran. Segundo investigadores, o esquema montado pelos deputados durou quatro anos (de 2011 a 2014) e movimentou R$ 54 milhões. O conteúdo dos depoimentos não foi divulgado.
A Furna da Onça cumpriu 22 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal Regional Federal, sendo dez contra deputados — além de Picciani, Albertassi e Melo, foram detidos André Correa (DEM), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (MDB), Luiz Martins (PDT), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinicius Neskau (PTB) e Marcelo Simão (PP). Apenas o último não cumpre prisão preventiva.
O secretário estadual de Governo, Affonso Monnerat, também está entre os presos. Investigadores o acusam de cuidar do pagamento de propinas, fazendo uma ponte entre a Alerj e o Palácio Guanabara. Mas, segundo procuradores da República, não há indícios de envolvimento do governador Luiz Fernando Pezão no esquema.
O inquérito aponta que os deputados recebiam“mensa linhos ”, que variavam de R $20 mil aR $900 mil. O dinheiro seria proveniente de sobrepreço de contratos firmados entre o estado e empresas. A investigação começou após uma delação de Carlos Miranda, que era conhecido como “o homem da mala” do ex-governador Sérgio Cabral.
A Furna da Onça também levouà cadeia Leonardo Jacob, presidente do Detran até o dia em que a operação foi desencadeada, e Vinícius Farah, que comandou o órgão e foi eleito deputado federal pelo MDB.