O globo, n. 31159, 28/11/2018. País, p. 10

 

Nova cirurgia de Bolsonaro tem baixo risco de complicações

Elisa Martins

28/11/2018

 

 

 Recorte capturado

Especialistas dizem que a retirada da bolsa de colostomia é mais simples do que os procedimentos anteriores

A nova cirurgia que Jair Bolsonaro fará em janeiro será mais simples que as anteriores, com baixa possibilidade de complicações. A operação, adiada de dezembro para depois da posse, tem o objetivo de retirar a bolsa de colostomia que o presidente eleito mantém desde setembro, quando sofreu um ataque a faca, e reconstituir o trânsito intestinal.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem que, no pior cenário, há um risco, pouco comum, de que a sutura do intestino se rompa na recuperação, o que criaria a necessidade de novo procedimento e outra colostomia. Menos alarmantes, a formação de aderências no intestino e infecções no lugar do corte também são consideradas em quadros desse tipo.

A previsão era que Bolsonaro passasse por uma última cirurgia de intestino no dia 12 de dezembro, a tempo de se recuperar para assumir a Presidência, em 1º de janeiro. Mas exames pré-operatórios feitos na semana passada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, detectaram, segundo boletim médico, uma inflamação do peritônio — a membrana que reveste a parede abdominal.

A operação foi remarcada para a segunda quinzena de janeiro, a depender do quadro clínico de Bolsonaro. Nesse tipo de cirurgia, o paciente fica de três a cinco dias internado, e depois mais duas semanas de repouso em casa.

—Bolsonaro fez uma colostomia de urgência. A facada furou o intestino, fez vazar fezes na barriga, que causam inflamação do peritônio. Ao voltar para o hospital, agora, os médicos disseram ter detectado uma peritonite. Não convém fechar o intestino em um quadro desse tipo —disse Carlos Walter Sobrado, médico e professor de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Sobrado, esse quadro não é incomum em pessoas que tiveram que colocar uma colostomia de urgência.

Para Fábio Campos, professor da Faculdade de Medicina da USP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, o adiamento da operação pode ter sido também prudência, para não atrasar a posse em caso de problemas.

— O risco mais grave é de deiscência da anastomose, que é a sutura do intestino abrir. Depende da expertise do médico e das condições do paciente. Bolsonaro parece estar em ótima condição de saúde, não é idoso nem obeso. Mesmo assim, o risco de deiscência é em torno de 4%. Se acontecer, deve ser feita nova cirurgia, e seria colocada nova colostomia. Mas é algo pouco provável —diz Campos.

Depois da cirurgia, há complicações clínicas possíveis, como infecção urinária ou arritmias. Mas, em pacientes com boa condição física, são consideradas raras.

— Para viagens internacionais, seria indicado esperar uns dois meses —diz Sobrado.