Título: Em busca de apoio
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2012, Mundo, p. 20

Depois de minimizar a pressão internacional, o novo presidente do Paraguai, Federico Franco, pediu ontem apoio interno, durante seu primeiro encontro com o Congresso desde que assumiu o cargo. O presidente destituído, Fernando Lugo, por sua vez, começou a articular um "plano B" e sinalizou para uma possível candidatura ao Senado pela Frente Guasu, a coalizão de 19 siglas políticas que o apoiou na última campanha eleitoral. Na região, as articulações de repreensão ao impeachment relâmpago de Lugo continuavam na véspera da cúpula do Mercosul, realizada hoje e amanhã, em Mendoza, na Argentina. Segundo fontes do governo brasileiro, a expectativa é de que a reunião condene a destituição do ex-mandatário, mas não inclua sanções econômicas contra o Paraguai, suspenso do bloco (leia nesta página). O próprio Lugo rejeitou medidas punitivas a seu país.

Franco pediu ontem que, passada a convulsão política, o Congresso paraguaio destrave projetos dos setores agrícolas e de obras públicas, na tentativa de impulsionar a economia paraguaia. Os programas, muitos dos quais financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), são da ordem de centenas de milhões de dólares, segundo noticiaram os jornais locais. Ao falar com a imprensa, em Assunção, um dos principais colaboradores do novo governo, o ministro da Fazenda, Manuel Ferreira Brusquetti, disse que o Legislativo — a quem propôs uma "sociedade" — detém responsabilidade sobre cerca de US$ 480 milhões em projetos.

Enquanto isso, Lugo articulava sua volta ao poder pelas vias eleitorais. O pré-candidato à Presidência pela Frente Guasu, Mario Ferreiro, confirmou à rádio local Monumental que a coalizão de partidos a que pertence quer chegar a um consenso sobre uma lista única ao Congresso, encabeçada por Lugo para as eleições de 2013. "A realidade agora é outra e temos de ser mais pragmáticos", afirmou, descartando as chances de o ex-bispo voltar a ser presidente. Lugo não se pronunciou sobre o tema, mas Ferreiro afirmou que a decisão sobre o futuro do ex-mandatário deverá ser tomada nas próximas semanas.

Fernando Lugo deixa a sede do Partido País Solidário, em Assunção: lista única

Golpistas Por meio de um comunicado, o partido País Solidário, que tem funcionado como a sede da chamada Frente para a Defesa da Democracia no Paraguai, denunciou que setores "golpistas" estão semeando a "desinformação". Segundo o grupo, ao contrário do que havia sido noticiado, nem Lugo nem seu "governo de restauração democrática" apoiam sanções econômicas contra o Paraguai. A frente responsabilizou Franco sobre qualquer resultado negativo ao país nas relações internacionais. Ainda de acordo com o comunicado, a frente vai reiterar ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, a ilegalidade do impeachment de Lugo. Insulza deve chegar ao país nesta semana, para se reunir com autoridades do novo governo e com o próprio Lugo. A decisão de enviá-lo foi tomada durante reunião de emergência da OEA, anteontem, em Washington.

Ao mesmo tempo, o presidente destituído tenta angariar apoio popular. Partidários do ex-presidente fizeram manifestações no interior do país e em regiões fronteiriças, como Ciudad del Este, que faz divisa com Foz do Iguaçu (PR), e Encarnación, na Argentina. A passagem pela Ponte da Amizade foi temporariamente interrompida. No Brasil, também houve mobilização de apoio, mas em Brasília.

Agindo em outra frente, integrantes de movimentos sociais, deputados e senadores entregaram ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, uma moção manifestando "repúdio" ao que classificaram de um "golpe de Estado" contra Lugo. O grupo demonstrou apoio ao posicionamento do governo brasileiro com relação à crise e solicitou que, como medida punitiva, Assunção também seja suspensa da Unasul. A frente sugeriu que, em virtude da suspensão paraguaia no Mercosul, a Venezuela "seja definitivamente incorporada" ao bloco, uma vez que tal participação já foi aprovada nos parlamentos de Argentina, Brasil e Uruguai. A única oposição era por parte do Paraguai.

Segundo o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, uma possível integração da Venezuela ao bloco do Cone Sul dependerá de uma solução sobre o Paraguai. "Individualmente, o Brasil apoia a entrada da Venezuela. Surgiu um fato novo, que é a projetada suspensão do Paraguai. É preciso que ela ocorra primeiro para se tomar qualquer atitude em relação ao conjunto das iniciativas do Mercosul."

"Já fiz o que tinha que fazer" O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou, na noite de terça-feira, que não tem mais tratamentos previstos contra o câncer. "Eu já fiz o que tinha que fazer", assegurou o mandatário, durante encontro com o colega de Bielorússia, Alexander Lukashenko, no Palácio de Miraflores. "Neste momento, no horizonte que vejo e que penso, não tenho previsto nada disso (exames e tratamentos). O que tenho previsto é batalhar e triunfar", declarou. Chávez se submeteu a três cirurgias e a sessões de quimio e radioterapia para combater um tumor. Em outubro passado, ele anunciou estar livre do câncer, mas a doença ressurgiu no começo deste ano.