Título: Sanções sobre a mesa
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2012, Mundo, p. 20

O governo brasileiro manterá, durante a reunião do Mercosul que começa hoje em Mendoza (Argentina), a defesa de sanções políticas — e não econômicas — ao novo governo paraguaio de Federico Franco. Segundo apurou o Correio, a presidente Dilma Rousseff não quer provocar prejuízos ao povo do Paraguai, um dos mais pobres do continente. O Brasil não concorda, por exemplo, com a ação do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que suspendeu o envio de petróleo para os paraguaios.

No entanto, a punição política será dura. O governo de Federico Franco não será reconhecido pelos países do bloco. Além disso, a participação do Paraguai nas reuniões do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) estará suspensa, até a realização de eleições no país e a posse de um novo governo. De acordo com interlocutores do Planalto, Franco foi avisado de que o Paraguai enfrentaria uma oposição feroz no continente, caso insistisse em destituir sumariamente o ex-presidente Lugo.

O recado foi dado na sexta-feira pelos chanceleres Antonio Patriota (Brasil) e Héctor Timerman (Argentina), por telefone. Eles haviam sido avisados sobre o processo de impeachment na quinta-feira, durante a Rio+20. Na manhã seguinte, os ministros entraram em contato com Franco. "Vocês não podem fazer um rito sumário desses", afirmou Patriota. "Vocês já fizeram o mesmo no Brasil (numa alusão ao afastamento de Fernando Collor em 1992)", devolveu Franco. Patriota retrucou: "O processo levou seis meses" e Franco insistiu: "Nós vamos fazer hoje".

Foi a vez de Timerman tentar uma saída. "Lugo se licencia por um período de três a seis meses, o clima melhora e, a partir daí, vocês analisam o afastamento." Como o então vice-presidente paraguaio não mudou de ideia, os dois chanceleres resolveram dar o ultimato e alertaram que ele teria que lidar com "sanções políticas pesadas". Franco mostrou-se irredutível. "Ele está arcando com as consequências", declarou uma fonte do governo brasileiro ao Correio.

Moderação Apesar da crise, os diplomatas brasileiros estão tranquilos. Alegam que adotaram um tom moderado no continente, menos agressivo do que as críticas feitas pelo venezuelano Hugo Chávez e pela argentina Cristina Kirchner. "A Cristina estava doida para arrumar uma desculpa para deixar de ser vista como a única governante que adota medidas ilegais", disse um integrante da cúpula do governo brasileiro.

A desistência do ex-presidente Lugo de participar da reunião do Mercosul foi encarada com naturalidade pelo Brasil. "Ele não é mais chefe de Estado, o que faria lá?" questionou um observador privilegiado da crise paraguaia. Mas a postura do ex-dirigente atraiu críticas dos companheiros de Mercosul. "Todos nós fomos contra o impeachment sumário. Mas, Lugo, em um primeiro momento, pareceu resignado e aceitou a decisão, dizendo que era legal. Isso tirou a força das nossas reclamações", justificou um diplomata brasileiro.

"Todos nós fomos contra o impeachment sumário. Mas, Lugo, em um primeiro momento, pareceu resignado e aceitou a decisão" Um diplomata brasileiro, em entrevista ao Correio, sob condição de anonimato