O globo, n. 31154, 23/11/2018. Economia, p. 19

 

Mais enxutos

Geralda Doca

Marcello Corrêa

23/11/2018

 

 

Bancos públicos vão diminuir de tamanho

Ao indicar os economistas de perfil liberal Pedro Guimarães, para o comando da Caixa Econômica Federal, e Rubem Novaes, para o do Banco do Brasil (BB), o presidente eleito, Jair Bolsonaro, reforçou a linha privatista que será o norte do novo governo. Os bancos públicos ficarão mais enxutos, terão cortes de despesas com pessoal e fechamento de agências e sairão de negócios que não são estratégicos.

Na semana passada, Bolsonaro já tinha sinalizado que o papel nos bancos públicos vai mudar ao indicar Joaquim Levy, saído da Escola de Chicago — assim como o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e Novaes —, para a presidência do BNDES. A instituição passará a se dedicar à estruturação dos processos de privatização e fomentar áreas mais específicas, como inovação e tecnologia.

— As palavras de ordem são enxugamento e eficiência. Enxugamento de despesas e de atividades — afirmou o futuro presidente do BB, Rubem Novaes.

O economista destacou que os bancos públicos foram muito mal conduzidos no passado, com ingerência política, o que afetou os resultados dessas instituições:

— A ideia é adotar uma administração mais técnica para obter melhores resultados.

Redução de quadros

Novaes afirmou que a holding (BB) não será privatizada, mas que várias atividades internas irão para a iniciativa privada de forma parcial ou integral. Áreas consideradas estratégicas, como o crédito rural, no entanto, serão preservadas.

O futuro presidente do BB disse que seria prematuro listar agora quais atividades da instituição poderão ser transferidas ao setor privado sob pena de prejudicar o banco, que tem ações em Bolsa. Mas, segundo interlocutores da equipe de transição do novo governo, entre as subsidiárias que poderão ser privatizadas estão BB DTVM, BB Tur, BB Leasing, BB Consórcio, área de cartões e BB Seguridade. A atual gestão chegou a cogitar a venda de participações no Banco Votorantim e no Banco Patagônia. Outra possibilidade seria se desfazer de participações do BB não relacionadas à atividade bancária, como na Neoenergia e na Kepler Weber.

Novaes antecipou que os braços do BB serão privatizados em operações de mercado e não mais no modelo antigo, em que grupos interessados formavam consórcios para a disputa em leilões. Este modelo, explicou, deu margem a críticas de que o governo interferia na formação de consórcios para favorecer determinados grupos:

—Vamos procurar fazer primeiro operações que mobilizem o mercado de capitais, com o máximo de transparência possível. Aquela fase de privatização em que você direcionava a venda para determinados compradores está ultrapassada. Hoje, a ideia é usar muito mais o mercado de capitais nas operações de privatização. Fazer IPOs (abertura de capital), vender partes e, então, partir para a privatização.

Nos últimos dois anos, o BB já vem passando por um processo de enxugamento, iniciado pelo ex-presidente Rogério Caffarelli. Com os programas de desligamento, houve uma redução o quadro de pessoal de 12.383 funcionários. No período, foram fechadas 662 agências. Mas ainda existem algumas no interior do país que são deficitárias. Elas poderão ser extintas.

Venda de loterias e jogos

A Caixa realizou entre 2017 e 2018 três planos de desligamento voluntário e reduziu o quadro em 8.600 empregados. Também fechou agências e unificou áreas administrativas. No caso da instituição, os planos são transferir para o setor privado as áreas de loterias/ jogos, seguros, cartões de crédito, transporte de valores e administração de fundos. A atual gestão do banco já vem preparando o terreno para essas medidas, com a criação de empresas específicas que poderão ser privatizadas.

Assim, a Caixa ficaria mais focada em atividades bancárias propriamente ditas, como crédito imobiliário, consignado e operações de saneamento, além de pagamento de benefícios sociais, entre eles, Bolsa Família, seguro desemprego e abono salarial.

Nos últimos governos, sobretudo na gestão petista, os bancos públicos foram sacrificados, como no caso das pedaladas da ex-presidente Dilma Rousseff em que a Caixa pagava os benefícios sociais e ficava no vermelho até o repasse da verba. Em 2012, Dilma forçou BB e Caixa abaixaram os juros, afetando os resultados das instituições. Em 2013, ela lançou o Minha Casa Melhor, linha de financiamento de móveis e eletrodomésticos para os beneficiários do programa Minha Casa Minha Vida, que resultou em prejuízos para o banco e teve que ser suspensa. Em 2009, depois de uma interferência do ex-presidente Lula, a Caixa ainda comprou parte do banco Pan (Panamericano) por R$ 739,3 bilhões. Menos de um ano depois, o BC descobriu que a instituição tinha um rombo, e o investimento acabou dando um prejuízo até hoje não recuperado.

De perfil liberal, Novaes é oriundo da Escola de Chicago e integrou o time de transição de Guedes, sendo responsável pela formulação do programa de desestatização do novo governo. Novaes esteve à frente de entidades patronais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), além de ter sido diretor do BNDES e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, era colaborador do Instituto Liberal-RJ.

Novaes foi indicado para o BB após o atual presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, perder força para o cargo.

—Missão a gente cumpre, né? — afirmou Novaes, quando questionado sobre a mudança de ideia.

Já Pedro Guimarães é sócio do banco de investimentos Brasil Plural e tem uma vasta experiência no mercado financeiro. Doutor em Economia pela Universidade de Rochester (EUA), especializouse em privatizações e participou de diversos processos de venda de empresas no Brasil, como a do Banespa.

Na mira dos processos de privatização

> BB DTVM: gestora de recursos e administradora de fundos

> BB Tur: agência especializada em gestão de viagens e eventos corporativos

> BB Leasing: subsidiária que faz arrendamento e leasing

> BB Seguridade: empresa de participações que atua em negócios de seguridade

> Participações: existe a hipótse de vender fatias de empresas como Neoenergia e Kepler Weber