Título: Pouco mudou em 20 anos
Autor: Sarapu, Paula; Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2012, Brasil, p. 8

Os 20 anos que existem entre a Eco-92 e a Rio+20 também separam dois mundos diferentes com preocupações distintas. Especialistas indicam que, neste tempo que passou, a força de protesto que marcou a primeira conferência para sustentabilidade em solo carioca perdeu espaço para o conformismo de que ainda falta muito para alcançar o sonhado mundo do desenvolvimento limpo e para todos.

O coordenador de campanhas da organização não governamental (Ong) Greenpeace, Márcio Astrini, lembra pequenas mudanças que eram exigidas na década de 1990 e que perderam força nesta edição da conferência, como a exigência de metas. "Se na primeira conferência queríamos colocar prazos e estipular números, nessa a preocupação não existiu", afirmou. Um dos indícios é a Agenda 21, lançada na Eco-92. O documento tinha a função de fazer com que os municípios assumissem um acordo para implementar a sustentabilidade e foi minguando a força a cada ano. Junto dela, também perdeu espaço o compromisso assumido com as florestas e a diminuição do corte de árvores. "Estamos diante uma gigantesca decepção. O que ficou foi o sentimento de impotência do país. As preocupações evoluíram, mas estamos tentando focar em como não retroceder."

Para o professor Elimar Nascimento, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, o que chama a atenção são os pontos que não entraram em nenhuma das edições da conferência. "Ninguém se preocupa com os oceanos. Essa é nossa última fonte de riqueza. Já existem 400 pontos onde não há vida nos oceanos e eles tendem a se expandir."

Para os especialistas, a percepção que ficou é de que a Rio+20 não evoluiu em comparação a Eco-92 e ela apenas afirmou o que já se sabia: o mundo está mudando devido à ação humana. "O foco era a garantir o direito de quem não tem comida, energia e água com o resultado do desenvolvimento sustentável, mas, a partir do momento em que se tira do texto essas soluções, nega-se o direito dessas pessoas", afirma Astrini.