O globo, n. 31136, 05/11/2018. País, p. 5

 

‘Elefante na sala’, aliado se lançou ao Senado pelas costas do capitão

Magno Malta

Patrik Camporez

Natália Portinari

05/11/2018

 

 

Perfil

Magno Malta/ Senador e Pastor

De cantor de pagode gospel a ‘vice dos sonhos’, político ganhou espaço a partir de polêmicas no Congresso e se aliando ao governo, seja PT ou PSL

O Brasil aguardava a primeira declaração oficial do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no último dia 28, quando este pediu que Magno Malta (PR) fizesse uma oração. “Os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados se mamão de Deus”, disse Malta. Segurou amã odo futuro chefe de Estado e rezou um Pai-Nosso.

O pastore senador seria“o vice dos sonhos”, segundo Bolsonaro. Mas, enquanto o capitão da reserva esperava uma definição, Malta já fazia campanha por sua reeleição ao Senado nas igrejas capixabas.

Quando O Globo revelou que o pastor não seria vice, em 11 de julho, Bolsonaro foi ao gabinete dele tirar satisfação. Malta contemporizou para não tornara recusa pública enquanto Bolsonaro buscava outro nome. Depois, lançou sua candidatura ao Senado em evento com 250 pastores.

A campanha de Malta, com gastos declarados de R$ 2,7 milhões, porém, naufragou. Sem mandato, foi chamado de “elefante na sala” pelo general Hamilton Mourão, vice-presidente eleito. De olho em um cargo, já declarou ter preferência pelos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. A previsão é que seja anunciado titular do Ministério da Família, oque pode ser afusão das pastas de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

—Ele foi um guerreiro pesadona campanha de Bolsonaro. Um dos motivos que o levaram a perdera eleição foi ter viajado par acima e par abaixo atrás do Bolsonaro. Foi um cara fundamental, aguerrido — diz Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Extrovertido

Malta nasceu em Macarani (BA) e se formou pastor em um seminário batista em Recife(PE ), em 1981. Era cantor da banda de pagode gospel Tempero do Mundo, com composições como “Aquele que cheirava já não corre atrás/Jesus Cristo venceu Satanás”. Seu primeiro cargo foi de vereador de Cachoeiro do Itapemirim (ES), em 1993.

Pulo upara deputado estadual do Espírito Santo, deputado federal e, por fim, senador. Ganhou notoriedade polemizando. Em 2008, levou um homem mascarado ao Senado. A jornalistas, disse que ele seria testemunha de que o traficante Fernandinho Beira-Mar planejava sequestrar sua filha. Afirmou estar ameaçado por ter ido “muito fundo” nas investigações da CPI do Narcotráfico, que presidia.

Na CPI da Pedofilia, em 2009, acusou o cobrador de ônibus capixaba Luiz Alves de Li made estuprara própria filha, de 2 anos. Após nove meses preso, o réu foi inocentado e processa o senador.

Malta apoiou Lula e Dilma Rousseff. E se aproximou de Aécio Neves, mas se afastou quando a imagem do tucano foi associada à corrupção.

—Será que leva tanto tempo para uma pessoa como Magno Malta saber que o PT é o demônio? Claro que não. Era oportunista — critica o deputado e pastor evangélico Marco Feliciano (Pode-SP).

Procurado, Malta disse que acreditou no sonho de acabar coma miséria vendido pelo PT e “se encantou” com Lula, para logo se desiludir:

— Quando colocaram milhões de pessoas no Bolsa Família, o diabo soprou no ouvido e falou: “Agora ninguém tira mais vocês, não”. Eles começaram um striptease moral. Começaram a ata caros valores da família e da fé. Quiseram legalizar o aborto, a droga, e aí veio a onda da ideologia de gênero, o ataque às famílias.

O deputado Carlos Manato (PSL-ES) disse, semana passada, que Malta será ministro:

—Ele é merecedor, por tudo o que fez pelo Bolsonaro. Segunda ou terça, deve ser confirmado. O presidente deixou claro: Magno estava cotado para ser ministro mesmo antes de senador.

Aliados dizem que Malta julgava estar eleito, e foi rodar o país com Bolsonaro. Visitou o aliado várias vezes no Hospital Albert Einstein e gravava vídeos conduzindo orações. Na reta final, ao perceber o risco de perder, despejou dinheiro na campanha, mas era tarde.