Título: Dupla ligada a Cachoeira volta à prisão
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2012, Política, p. 9

Dois integrantes da organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que estavam livres da cadeia desde 15 de junho por força de habeas corpus concedido pelo desembargador federal Tourinho Neto, voltaram a ser presos, na manhã de ontem, por agentes da Polícia Federal (PF). As prisões ocorreram nos municípios de Goiânia e Anápolis. O ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, um dos auxiliares mais ligados ao contraventor; Lenine de Araújo Souza, responsável por toda a contabilidade da quadrilha, capturados na Operação Monte Carlo, retornaram à prisão após o desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, revogar a decisão judicial anterior. Já Olímpio Queiroga Neto, controlador das casas de jogos ilegais localizadas no Entorno, que também será preso, está foragido.

Os dois foram levados ontem para a sede da Polícia Federal, em Brasília. Na segunda-feira, vão ser transferidos para o Presídio da Papuda, onde Cachoeira está detido. No mesmo despacho que mandou os dois novamente ao presídio, o desembargador Souza Prudente proferiu um novo mandado de prisão contra Gleyb Ferreira da Cruz, integrante do grupo criminoso. Ele foi encaminhado ao presídio durante a Operação Saint-Michel.

Na decisão que havia colocado Garcez, Lenine e Olímpio em liberdade, Tourinho Neto alegou que, com a prisão do contraventor, a quadrilha havia sido desfeita. Na ocasião, o magistrado ressaltou que todos os servidores públicos denunciados tinham sido afastados dos cargos e as casas de jogos de azar, fechadas. Para o desembargador, os acusados foram soltos porque não representavam mais nenhum risco à ordem pública. Tourinho Neto é o mesmo que votou pela anulação de todas as escutas telefônicas da Operação Monte Carlo e que concedeu habeas corpus a Carlinhos Cachoeira. Mas o bicheiro permaneceu preso porque existia uma outra determinação judicial contra ele.

CPI Os membros do grupo, capturados inicialmente em 29 de fevereiro, já prestaram depoimento à CPI do Cachoeira, que investiga as relações do bicheiro com empresários e políticos. Lenine e Garcez utilizaram apenas os 20 minutos iniciais que tinham direito para se defender e, depois, alegaram o direito constitucional de não responderem aos questionamentos dos membros da comissão. Os dois afirmaram que estavam sendo injustiçados e que não faziam parte da organização criminosa. Queiroga ficou calado e foi dispensado imediatamente pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

As interceptações telefônicas da Operação Monte Carlo flagraram o ex-vereador Wladimir Garcez conversando com o bicheiro sobre nomeações na gestão do governador de Goiás, Marconi Perillo. Na CPI, Garcez declarou que comprou uma casa de Perillo e, em seguida, como não tinha dinheiro, repassou ao empresário Walter Paulo. A mansão, vendida por R$ 1,4 milhão, foi paga com três cheques emitidos pela construtora Alberto e Pantoja, empresa fantasma do esquema Cachoeira, que recebeu R$ 30 milhões da empreiteira Delta, no foco do escândalo.