Título: Racha partidário em Maceió
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2012, Política, p. 4

Em uma década, Maceió saltou do oitavo lugar entre as capitais brasileiras com maiores taxas de homicídios para um desonroso primeiro lugar, segundo o relatório Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari, especializado no tema. Isso faz da segurança pública um tema inevitável na disputa pela prefeitura da capital alagoana neste ano. Em 2000, foram registrados 360 assassinatos na cidade. Em 2010, 1.025. "Esse cenário é um resultado de vários fatores. A cidade não oferece opções de emprego e está extremamente favelizada. Dá para dizer sem erro que 80% dos imóveis da capital, hoje, são ilegais, não possuem escritura", diz o professor de arquitetura da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Alexandre Toledo.

O crescimento da violência na capital se reflete em todo o estado e é um do pontos que pesa contra a popularidade do governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), principal cabo eleitoral do candidato tucano à prefeitura de Maceió, Rui Palmeira. Membro de uma linhagem de políticos — o avô homônimo foi senador pelo estado, o pai, Guilherme Palmeira, além de senador foi governador de Alagoas — Rui Palmeira enfrenta problemas em sua base de apoio.

Ele conta, por exemplo, com o PP em sua aliança, e para selar o acerto indicou o vereador Marcelo Palmeira como vice. Mas o atual prefeito de Maceió, Cícero Almeida, que é do partido, abandonou o barco do tucano. Rompido com Teotonio desde o início de seu mandato, Almeida estava de braços dados com o principal oponente de Palmeira na disputa, Ronaldo Lessa (PDT), na convenção que lançou sua candidatura. E deve deixar o PP tão logo termine a campanha.

Empenho em dúvida O cenário para 2014 é outro fator que faz os oponentes de Palmeira desacreditarem do empenho de Teotonio em eleger o colega de partido. O governador se prepara para disputar a vaga hoje ocupada por Fernando Collor (PTB-AL) no Senado Federal e precisa costurar alianças. Uma participação intensa na campanha pela prefeitura de Maceió o colocaria na linha de tiro do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e de Collor, dois apoios importantes para sua candidatura ao Senado. "Ninguém acredita que ele vá trocar o projeto pessoal pela eleição em Maceió. Ele está fraco no governo e, se comprar briga agora, estará morto politicamente", analisa um assessor da campanha de Lessa.

Mesmo com autorização do PP para atacar o prefeito Cícero Almeida, Palmeira ainda exibe cautela. "A cidade sofreu muito com o aumento da violência gerado em gestões passadas e que, infelizmente, não conseguimos combater", discursa. Além da questão da segurança pública, seu plano de governo se concentra no setor de saúde. "Não existem postos de saúde em quantidade suficiente na cidade, o que faz com que todos os casos deságuem no Hospital de Urgência e Emergência de Maceió. Vamos construir entre oito e 10 novas unidades básicas de saúde", promete.

A queda de braço entre Lessa e Palmeira deve marcar uma das disputas eleitorais mais polarizadas entre as capitais do Nordeste, e também uma das mais próximas em refletir o cenário político nacional. Ex-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa foi a segunda opção de sua coligação. A preferência era pelo secretário municipal de Infraestrutura de Maceió Mosart Amaral, filiado ao PMDB.

O perfil técnico do secretário, contudo, não colaborou nas pesquisas de intenção de voto e sua pré-candidatura naufragou no nascedouro. Bem avaliado nas pesquisas, mesmo sem estar em cargo eletivo desde 2006, Lessa foi o ungido e, em busca de uma base eleitoral ampla, aliou-se até ao desafeto Fernando Collor, com quem disputou o governo de Alagoas em 1986. "Foi Collor que nos procurou para oferecer apoio. E apoio ninguém recusa", diz um aliado de Lessa. Preterido, Amaral deixou o cargo para compor a chapa como vice. (KC)

1.025 Homicídios registrados em Maceió em 2010, o que coloca a cidade em primeiro lugar na edição mais recente do Mapa da Violência