Título: Briga pelo segundo turno
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2012, Política, p. 4

Senador Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí, é escalado para enfrentar o favoritismo do deputado estadual tucano Firmino Filho em Teresina. Pesquisa indica que o novo prefeito não será conhecido na primeira votaçãoNotíciaGráfico

Apenas 10 dias se passaram entre a reunião do Diretório Nacional do PT para definir a situação do partido em Teresina e a convenção que oficializou a candidatura do senador Wellington Dias à prefeitura da capital piauiense. "Em política, isso é algo feito a jato", reconhece o petista. A pressa no lançamento da candidatura de Dias se explica pela necessidade do partido de minar o favoritismo do deputado estadual tucano Firmino Filho, que chegou a aparecer nas pesquisas como forte candidato a vencer o pleito pela prefeitura de Teresina no primeiro turno.

Levantamento do instituto de pesquisa Captavox pouco depois das convenções que formalizaram as candidaturas municipais em todo o país já trouxe os resultados da movimentação petista, ao apontar para um segundo turno na eleição de Teresina. O candidato do PSDB apareceu com 31,7% das intenções de voto, enquanto Wellington contabilizou 25,6% na preferência do eleitorado. "Dá para dizer que o Elmano Ferrer (atual prefeito, candidato à reeleição pelo PTB), o Beto Rego (radialista e apresentador de tevê, candidato pelo PSB) e eu trabalhamos para evitar que a disputa se resolva no primeiro turno", diz o senador, escolhido pelo PT muito pelo currículo que inclui dois mandatos de governador do Piauí com avaliação positiva entre o eleitorado.

Dificuldade de aliança A decisão de última hora, contudo, criou problemas para a composição de alianças em torno da candidatura do petista, que conta com o apoio de PDT, PR e PMN. A cúpula petista, ainda assim, optou por uma chapa pura, com o deputado estadual Cícero Magalhães como o vice — escolha feita pelo PT antes mesmo de se definir a cabeça de chapa em Teresina.

No outro pólo da campanha, Firmino Filho conseguiu reunir seis legendas no apoio à sua candidatura — PPS, DEM, PSC, PSDC, PSD e PT do B — e escolheu como vice o vereador Ronney Lustosa (PSD). "PSDB e PSD têm a primeira e a segunda maior bancada na Câmara de Vereadores, o que aumenta a governabilidade de qualquer candidato", diz Filho. "Vai ser uma campanha dura, eu sei. Já comprei dois pares de tênis para bater perna pelos bairros e tentar ganhar votos no corpo a corpo", admite Dias.

Independentemente do tamanho da coligação ou das relações com a prefeitura atual, os candidatos terão que apresentar soluções para o crescimento desordenado da capital piauiense e o trânsito caótico da cidade. "A mobilidade urbana é, hoje, uma das principais dores de cabeça do morador de Teresina", diz a coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Nícia Bezerra Leite.

Na avaliação da especialista, a infraestrutura urbana da cidade não acompanhou o crescimento do número de veículos particulares na capital. Teresina viu sua frota particular crescer de 123.002 veículos, em 2002, para os atuais 326.650, de acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Segundo Nícia, as áreas de maior problema de congestionamento são o centro urbano e a Avenida Frei Serafim, principal artéria da cidade e eixo de ligação entre a área leste e o centro da capital. "O investimento em transporte público é fundamental. A frota que temos é nova, mas não tem quantidade suficiente para suprir a demanda", diz a professora. Os acidentes de trânsito com vítimas são outro efeito colateral perverso do aumento de veículos nas ruas. Só em 2010, aconteceram 5.488 acidentes com feridos na cidade.

Outra deficiência apontada está no saneamento urbano. Apenas 20% dos domicílios da cidade têm acesso à rede de esgoto, segundo Nícia. O restante das habitações utiliza fossas sanitárias. A cidade também não dispõe de um aterro sanitário.