Título: Uma CPI à beira do abismo
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2012, Política, p. 9

A CPI mista do Cachoeira estará em uma encruzilhada decisiva nesta quinta-feira, última sessão administrativa antes do recesso parlamentar, marcado para iniciar em 17 de julho. A aprovação dos requerimentos de convocações do ex-superintendente do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e do dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, é vista como a última possibilidade de evitar que a pausa dos trabalhos no Congresso sepulte a investigação sobre a quadrilha comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

A avaliação dos parlamentares é de que a CPI ainda não encontrou uma porta de saída e, sem fatos novos, não há como mantê-la viva. A derrota representada pela presença de Cavendish, ameaça concreta para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e para o governo federal, ambos parceiros da Delta em dezenas de contratos, já foi contabiliza pela base aliada. Mesmo que compareça, ele poderá permanecer calado. O empreiteiro é suspeito de ter Cachoeira como sócio oculto na construtora. Segundo a Polícia Federal, a Delta irrigava empresas de fachada ligadas ao bicheiro. Além disso, a imprensa publicou fotos do empresário se divertindo com Cabral em Paris.

Pagot avisou que quer falar e diz ter informações comprometedoras contra integrantes da oposição e governistas, principalmente. Ele foi demitido do Dnit no ano passado, suspeito de participar de um suposto esquema de pagamento de propina a integrantes do PR, partido do qual era filiado. Em entrevistas, ele afirmou que deixou o cargo por não atender a interesses da Delta.

Relator do colegiado, deputado Odair Cunha (PT-MG) vem se esquivando do tema. Assim como a maioria dos seus correligionários, no entanto, ele já deixou claro que não medirá esforços para impedir a convocação de Pagot, visto como o personagem que pode empurrar o Palácio do Planalto para o centro das apurações. "A CPI deve se concentrar, exclusivamente, no que se propôs: investigar as ligações de Cachoeira. Por isso, não vejo nenhuma razão para convocar Pagot ou Cavendish. Seria transformar uma investigação em devassa. Não há nada que comprove a relação deles com a quadrilha", afirmou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Líder do PSol no Senado, Randolfe Rodrigues (AP) defende a ida de Cavendish. "Primeiro, tem gente na própria base aliada que não tem tanta segurança assim de que ele não vai falar. E, ainda que fique em silêncio, não é fácil para ninguém ser exposto no centro daquela mesa, na salada de uma CPI, principalmente para o dono de uma das maiores construtoras do país. Com tantas suspeitas contra ele, o mínimo que temos de fazer é convocá-lo", argumentou.

Recesso à vista Além das disputas partidárias, que deverão chegar ao auge na próxima quinta-feira, o recesso parlamentar é o maior obstáculo para o sucesso da CPI. Ao contrário do que alguns parlamentares defendiam, sobretudo os da oposição, são mínimas as chances de a comissão continuar em atividade durante as férias do meio do ano. O regimento comum (do Congresso) é omisso em relação a essa possibilidade, por isso valem as regras do Senado, que vedam o desrespeito ao recesso. Isso significa que, mesmo convocados, Cavendish e Pagot só iriam à comissão em agosto, contribuindo para o esfriamento da CPI, como quer a tropa de choque do governo.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), pretendia votar a continuidade dos trabalhos entre 17 de julho e 1º agosto. Se aprovada a proposta, ela deixaria a decisão para o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP). Nesta terça-feira, estão previstos depoimentos de quatro testemunhas: Joaquim Gomes Thomé Neto, ex-agente da PF acusado de monitorar e-mails para quadrilha de Cachoeira; Roseli Pantoja da Silva, sócia da empresa Alberto & Pantoja, uma das que recebia recurso da Delta; Ana Cardozo de Lorenzo, que recebeu depósito de empresas de fachada de Cachoeira; e Edivaldo Cardoso de Paula, ex-diretor do Detran-GO, na qual, apontam as investigações, o esquema tinha forte influência.

"A CPI deve se concentrar, exclusivamente, no que se propôs: investigar as ligações de Cachoeira. Por isso, não vejo nenhuma razão para convocar Pagot ou Cavendish" Cândido Vaccarezza (PT-SP), integrante da CPI

"Com tantas suspeitas contra ele (Cavendish), o mínimo que temos de fazer é convocá-lo" Randolfe Rodrigues (PSol-AP), integrante da CPI

Depoimentos previstos para terça-feira

» Joaquim Gomes Thomé Neto, ex-agente da Polícia Federal acusado de monitorar e-mails e repassar informações sobre operações da corporação para a quadrilha de Cachoeira;

» Roseli Pantoja da Silva, sócia da Alberto & Pantoja, segundo a PF, emporesa de fachada pertencente a Cachoeira, e uma das que recebia recursos da construtora Delta;

» Ana Cardozo de Lorenzo, de acordo com a PF, recebeu depósito de empresas de fachada de Cachoeira;

» Edivaldo Cardoso de Paula, ex-diretor do Detran de Goiás, onde, apontam as investigações, a organização criminosa tinha forte influência.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 30/06/2012 04:39