O Estado de São Paulo, n. 45670, 01/11/2018. Política, p. A10
Cid Gomes e rede articulam bloco de oposição sem PT
Renan Truffi e Mariana Haubert
01/11/2018
Irmão de Ciro e Randolfe Rodrigues, respectivamente, senadores eleito e reeleito, lideram movimento; Câmara também forma grupo
Reunião. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Cid Gomes (PDT-CE) discutiram bloco ontem
A exemplo do que já vem ocorrendo na Câmara dos Deputados, partidos que serão oposição ao governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), articulam um bloco para isolar o PT também no Senado. O movimento tem sido feito pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro Gomes, e pelo senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
A ideia é formar uma “bancada” de oposição composta por Rede, PDT, PSB, PPS e PSB. Juntos esses partidos terão ao menos 13 senadores. Já na Câmara, os líderes do PCdoB, PDT e PSB voltaram a se reunir ontem para articular uma frente de oposição sem a participação do PT.
Ao formar o bloco no Senado, os partidos reunirão um número de parlamentares maior do que o próprio MDB, o maior partido da Casa, com 12 senadores a partir da próxima legislatura. Além disso, a ideia do grupo é se diferenciar do PT, que teria uma bancada menor, de seis senadores a partir de 2019. O cálculo leva em conta os cincos senadores eleitos pela Rede, os quatro do PDT, e mais quatro de PSB e PPS, que contam com dois parlamentares cada. Há ainda a possibilidade de o bloco ganhar um 14.º integrante, caso o senador Reguffe (sem partido-DF) aceite convite para atuar em conjunto.
A intenção dos partidos ao articular um bloco é se diferenciar dos petistas na oposição a Bolsonaro, como estratégia para quebrar a hegemonia que o PT sempre teve no campo progressista. A ideia vai ao encontro do discurso que o pedetista Ciro Gomes tem adotado desde que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) evitou criticar a formação do bloco, mas ironizou o viés ideológico da bancada. “É um movimento mais de centro. A gente é de esquerda”, disse.
A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, também minimizou o isolamento do partido, mas seguiu o mesmo tom de Lindbergh. “Nós não temos problema de autoestima, somos de esquerda. Nós vamos fazer resistência. E nos momentos que pudermos estar juntos, vamos estar”, afirmou.
Encontro. Cid e Randolfe se reuniram ontem, no Senado, para discutir os detalhes da formação do grupo. Durante o encontro, o pedetista brincou ao dizer que Randolfe é o “mestre” e ele, o “aprendiz”. Uma das possibilidades é de que o senador da Rede seja o líder da bancada. Para Cid, os partidos terão conduta de um “bloco progressista”, mas sem apostar no “quanto pior, melhor”, em crítica indireta ao PT.
Randolfe exaltou a união nas redes sociais. “Oposição responsável e unida pelo Brasil e pelos trabalhadores! Muito obrigado pela visita, amigo. Que nos próximos anos possamos buscar juntos o melhor para o nosso povo”, escreveu ao publicar foto da reunião.
Câmara. Na Câmara, segundo o líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), o bloco também terá uma ação independente em relação aos petistas, mas deixou claro que a sigla poderá se juntar ao grupo quando a pauta convergir com o interesse dos partidos. “Seremos todos oposição, mas a nossa maneira pode se diferenciar em alguns momentos. Não queremos hegemonismo de nenhuma parte”, disse Figueiredo.
O líder do PCdoB, deputado Orlando Silva (SP), classificou o PT como um partido importantíssimo e disse que o grupo terá “muitas pontes” com a legenda. “Pretendemos aqui fazer uma oposição firme a Bolsonaro. O Brasil precisa ter alternativas para sair dessa crise.”
O grupo realizou anteontem um primeiro encontro para iniciar as discussões. Segundo o líder do PSB, deputado André Tadeu (PE), a formação de um bloco parlamentar ainda é discutida, mas as três siglas atuarão em conjunto.
‘Responsável’
“Oposição responsável e unida pelo Brasil e pelos trabalhadores! Muito obrigado pela visita, amigo. Que nos próximos anos possamos buscar juntos o melhor para o nosso povo.”
Randolfe Rodrigues​, SENADOR (REDE-AP)
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Comissão adia votação sobre ampliar lei antiterrorismo
01/11/2018
Relator. Malta está cotado para integrar governo Bolsonaro
Uma manobra da oposição no Senado conseguiu adiar ontem a votação de proposta que endurece a lei antiterrorismo, uma das bandeiras de campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para criminalizar a atuação de grupos sociais como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O projeto estava na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas a votação foi adiada.
O relator é o senador Magno Malta (PR-ES), que não foi reeleito, mas está cotado para integrar o governo de Bolsonaro. Malta não conseguiu a maioria dos votos para barrar requerimento proposto pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) para realizar audiência pública sobre o tema. Por 9 votos a 4, a maioria dos senadores da CCJ aprovou que sejam ouvidos especialistas antes da apreciação da matéria. A audiência deve ser marcada nas próximas sessões do colegiado.
A aprovação do requerimento foi uma vitória da oposição. Senadores do PT, Rede e PCdoB querem impedir que a proposta seja aprovada ainda neste ano, antes de Bolsonaro assumir. A ideia é forçar o novo presidente a patrocinar publicamente a proposta.
“O crime de terrorismo já está tipificado na nossa legislação. O que querem com este projeto, na verdade, é estender qualquer tipo de crime para os movimento sociais. É um ato de censura, de combate ao direito de ir e vir e à liberdade de manifestação, conceituado na Constituição. Se o governo do Jair Bolsonaro quer fazer isso, que coloque as mãos nisso a partir do ano que vem, mas não neste ano”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Malta tentou reagir à proposta da audiência pública. “Você quer debater que queimar patrimônio publico é crime ou não? Eu não sei mais o que posso pensar. Por isso a minha palavra como relator, eu me posiciono contra (a audiência pública), por não achar necessário. Quem se dispõe a incendiar um bem público não está fazendo isso de boa fé”, disse.
A lei antiterrorismo foi editada em 2016 pela então presidente Dilma Rousseff, mas teve vetados trechos com conteúdos “excessivamente amplos” ou “imprecisos”, na avaliação da petista. Esses trechos foram recuperados em projeto de autoria do senador Lasier Martins (PSD-RS).