Título: Dólar cai 3,2% e volta aos R$ 2
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Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2012, Economia, p. 20

Acordo para socorrer bancos na Europa animou os investidores. Intervenções do BC também contribuíram para a redução

Refletindo o otimismo dos investidores com a decisão das autoridades europeias de fortalecer os mecanismos de socorro aos bancos da região, além das intervenções do Banco Central no mercado nos últimos dias, o dólar teve uma queda de 3,2% ontem, voltando ao patamar de R$ 2. O recuo anulou a valorização acumulada durante todo o mês pela divisa norte-americana, que terminou junho registrando queda de 0,38%. Desde o início do ano, no entanto, a moeda ainda mostra alta de 7,56%.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, afirmou que o movimento de baixa refletiu o acordo fechado na reunião de cúpula da União Europeia, na quinta-feira, para permitir que o fundo de resgate da Zona do Euro injete dinheiro diretamente em bancos problemáticos, a partir do ano que vem, e que intervenha nos mercados de títulos públicos para dar suporte aos países em dificuldade. "A queda reflete as decisões europeias. Isso é bom", disse Mendes, após participar de um evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Os mercados consideraram que a medida é um movimento decisivo para a solução da crise europeia, que já dura três anos. Além de aliviar as pressões que poderiam resultar numa ruptura de grandes dimensões da moeda única, a decisão foi acompanhada pela promessa dos líderes de criar um órgão único de supervisão dos bancos da Zona do Euro. Seria um primeiro passo rumo a uma união bancária que poderia amparar a Itália e, sobretudo, a Espanha, onde o sistema financeiro carrega um volume superior a 100 bilhões de euros de créditos problemáticos, a maioria financiamentos imobiliários.

Teto

A repercussão positiva do acordo fez com que o euro ganhasse quase 2% ante o dólar, que perdeu terreno também frente a uma cesta de divisas. No plano doméstico, as ações do Banco Central nos últimos dias também contribuíram para a valorização do real. Na quinta e na sexta-feira, o BC realizou duas operações de swap cambial, que equivalem a uma venda direta de moeda estrangeira, no valor de US$ 6 bilhões. A autoridade monetária também permitiu que os exportadores tomem financiamentos bancários no exterior para antecipar receitas de exportação, o que vai ajudar a irrigar o mercado.

Mendes não quis comentar a decisão. Durante o evento na Firjan, ele foi provocado pelo economista Carlos Langoni, para quem as seguidas intervenções do BC no mercado indicariam que a política de câmbio flutuante teria sido abandonada e que a instituição estaria trabalhando com um teto e um piso para as cotações do dólar. O diretor negou. "Não existe qualquer taxa específica ou banda de câmbio que seja perseguida pelo Banco Central, que não teve nem tem meta para câmbio... tanto é que ele vem oscilando", disse. "Em momentos em que há excesso de liquidez no mercado, o BC se coloca como comprador de dólares; no momento em que há redução da liquidez, o BC é vendedor", afirmou.

Pibinho preocupa

Apesar da melhora do clima no exterior, especialistas do mercado alertam que a perspectiva de baixo crescimento da economia brasileira, mesmo com as medidas de estímulo que o governo vem adotando, pode impedir a continuidade da queda do dólar ante o real. Isso porque a fraqueza da economia pode se refletir em juros menores, mais estímulo fiscal e potencial inflação.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 30/06/2012 04:44