Título: Feito sob medida para atrair o eleitor
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2012, Política, p. 4
É início de noite de quinta-feira em Teresina (PI) e o músico Lázaro José da Silva apressa-se para encontrar uma plateia de políticos, assessores, cabos eleitorais e outros membros usuais que gravitam em torno dos palanques em ano de campanha municipal. Eles aguardam para ouvir Lázaro explicar como fazer um bom "chiclete de ouvido", título da palestra que ele já repetiu oito vezes, por todo o país. Lázaro do Piauí, como é conhecido no meio político, é um especialista em jingles. Compôs o "Deixa o Homem Trabalhar", que marcou o segundo turno da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva pela reeleição em 2006. E, desde então, nunca mais deixou de ter clientes.
"À primeira vista, todo político é igual. O que eu faço é captar a essência dele e dar um jeito da mensagem colar no ouvido do eleitor em 30 segundos", diz o compositor, que jura já ter atendido 130 clientes só no período de pré-campanha do pleito deste ano. "E estou negociando com outros tantos", afirma. Não revela preços ou nomes de clientes, para evitar que as querelas políticas se transformem em empecilho para os negócios de sua empresa, a Pé Quente Comunicação. Mas dá dicas de alguns. "O jingle de Wellington Dias (senador pelo PT-PI e candidato à prefeitura de Teresina), por exemplo, tá pronto no meu coração. É só ele querer que eu vou lá, cantar para ele", diz em tom de confidência.
De acordo com Lázaro, o trabalho de quem faz jingles é um caminho cheio de reveses. Em 2010, por exemplo, teve de refazer às pressas o do senador Fernando Collor (PTB-AL), que disputava o governo do estado proclamando a amizade com Lula e com a então candidata à Presidência, Dilma Rousseff. "É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma pelos mais carentes/ É Lula apoiando Dilma, é Dilma apoiando Collor para o bem da nossa gente", dizia o verso. Adversário de Collor, o pedetista Ronaldo Lessa – que tinha o PT em sua coligação – conseguiu barrar a música na Justiça.
Disputas Brigas por jingles são comuns. Em Salvador (BA), meca do marketing político, o compositor Gerônimo entrou com ação na Justiça contra o DEM alegando uso indevido do jingle "ACM, meu amor", um clássico eleitoral em terras baianas, criado para a candidatura de Antônio Carlos Magalhães ao governo do estado, em 1990. Em 2008, o deputado ACM Neto voltou a usar o jingle e o imbróglio começou. Gerônimo pleiteia R$ 500 mil. O DEM alega ter comprado os direitos autorais da música. A batalha rola na 10a vara cível da Justiça estadual.
Por via das dúvidas, a inevitável referência ao avô é bem mais sutil na peça composta para a campanha de ACM Neto à prefeitura de Salvador neste ano. "Tem que ter Neto/Neto, sim senhor/ACM Neto/Tá no sangue, meu amor", dizem os versos criados pelo diretor de arte da agência de publicidade Propeg, Alisson Percontini. "O jingle expressa uma saudade de ACM, sim, e também da antiga Salvador, sem tantos problemas como tem hoje", diz Alisson, que levou pouco mais de uma semana para escrever esse que é o seu primeiro jingle político. "É mais difícil do que outro tipo de jingle, sem dúvida. Na política, cada palavra, cada vírgula, tem um peso enorme, um significado em potencial. Foram várias idas e vindas até o produto ficar bom mesmo", conta.
A maior parte dos compositores evita falar publicamente sobre seu trabalho. Criação de uma equipe, o jingle do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP), José Serra , só foi divulgado no dia da convenção que oficializou a candidatura do tucano. Uma adaptação do hit "Eu quero tchu, eu quero tcha", o jingle pegou de surpresa os próprios intérpretes da música, a dupla João Lucas e Marcelo. "A negociação foi feita diretamente com a gravadora Som Livre", limita-se a dizer o coordenador de imprensa da campanha de Serra, Fábio Portela. No outro pólo da disputa, a equipe do marqueteiro João Santana, responsável pela campanha de Fernando Haddad, também faz mistério sobre o jingle do petista, que chegou a ter uma peça composta exclusivamente para o anúncio de sua candidatura.
Longe dos holofotes de São Paulo, mas com igual discrição, o marqueteiro Duda Mendonça compôs, junto com o músico Péri Nogueira, o jingle da campanha do petista Elmano de Freitas, candidato à prefeitura de Fortaleza (CE). "Sentou todo mundo junto para pensar nas frases que definem o Elmano, falar sobre o transporte, sobre como apresenta-lo para o eleitorado", conta um assessor da campanha. O resultado será apresentado neste fim de semana. "Jingle bom é o que só serve para o seu candidato, para mais ninguém", diz o petista. Urna musical
Confira alguns jingles das campanhas deste ano José Serra (PSDB-SP) Eu quero Serra, eu quero já Eu quero Serra já, eu quero Serra já É Serra já!
Gabriel Chalita (PMDB-SP) Ele tem palavra E cumpre com seu juramento, Ele é o cara para unir São Paulo, Chalita é São Paulo 100% Chalita prefeito O nosso sonho não pode parar Chalita prefeito É São Paulo em primeiro lugar
Fernando Haddad (PT-SP) Resolver problemas difíceis É com ele, você já viu Mandou bem, nota mil Em São Paulo e no Brasil Ha-a-a-addad Um tempo novo para essa cidade
ACM Neto (DEM-BA) Tem que ter fé Tem que ter amor E uma história de coragem Pra defender Salvador Tem que ter Neto Neto, sim senhor ACM Neto Tá no sangue, meu amor