Título: Demóstenes decide falar
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2012, Política, p. 5

Após procurar reservadamente vários senadores na tentativa de convencê-los de sua inocência, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), no foco das denúncias envolvendo o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tenta a última cartada, a partir de hoje, para salvar o mandato: ele decidiu romper o silêncio e falar. O parlamentar goiano vai ocupar a tribuna do Senado e proferir uma série de discursos até 11 de julho, data em que o pedido de cassação do mandato aprovado pelo Conselho de Ética por unanimidade deve ser votado em plenário. Vai usar um tom emocional para sensibilizar seus pares.

A informação foi confirmada, na tarde de ontem, pela defesa de Demóstenes. O senador utilizará o tempo das sessões ordinárias para rebater todos os pontos da acusação. A estratégia é totalmente diferente da que vinha sendo adotada até o momento. Apenas em 6 de março, uma semana após as primeiras denúncias, o parlamentar goiano ocupou a tribuna. Na ocasião, negou qualquer ligação com negócio ilegais do bicheiro. Foi aparteado por 44 senadores. Todos demonstraram confiança e solidariedade. No entanto, após divulgação de novas interceptações telefônicas nas quais ficava explícita a intimidade com Cachoeira, a situação ficou insustentável. O senador recolheu-se e adotou o silêncio como estratégia. Só voltou a falar durante depoimento no Conselho de Ética. Na CPI, calou-se novamente.

Nos discursos que fará a partir desta semana, Demóstenes vai repetir que quer ser julgado pelo que fez, e não pelo que falou. Vai tentar mostrar aos parlamentares que não mentiu e, por isso, não quebrou o decoro quando fez o primeiro discurso, em março.

Para Demóstenes ser cassado, são necessários 41 votos num universo de 80, pois ele não tem direito a se manifestar. Levantamento realizado pelo Correio no mês passado mostrou que, dos 64 parlamentares ouvidos (16 não foram localizados), 43 prometeram votar pela cassação. O levantamento revelou um Senado absolutamente constrangido. Apenas 29 senadores abriram o voto. Ninguém declarou abertamente que votaria contra a cassação. Não se posicionaram, alegando os mais diversos motivos, 34 parlamentares.

Na quarta-feira, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) deve aprovar o pedido de cassação encaminhado pelo Conselho de Ética. Na CCJ, os integrantes vão observar os aspectos constitucionais do processo. O presidente do colegiado, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), e o relator, senador Pedro Taques (PDT-MT), já deixaram claro que todos os pontos legais foram respeitados. Após aprovação, pelo regimento, é preciso esperar três dias úteis para proceder a votação no Senado.

CPI Amanhã, estão previstos, na CPI do Cachoeira, depoimentos de quatro testemunhas: Joaquim Gomes Thomé Neto, ex-agente da PF acusado de monitorar e-mails para quadrilha de Cachoeira; Roseli Pantoja da Silva, sócia da empresa Alberto & Pantoja, uma das que recebia recurso da Delta; Ana Cardozo de Lorenzo, que recebeu depósito de empresas de fachada do contraventor; e Edivaldo Cardoso de Paula, ex-diretor do Detran-GO, na qual, apontam as investigações, o esquema tinha forte influência.