Título: Amargo regresso
Autor: Craveiro, Rodrigo; Milliano Melo, Max
Fonte: Correio Braziliense, 02/07/2012, Mundo, p. 14

Depois de 12 anos, o PRI deve voltar ao poder com os desafios de conter a violência sem precedentes e combater a corrupção. Enrique Peña Nieto, candidato do partido, lidera as pesquisas de boca de urna Rodrigo Craveiro Max Milliano Melo

Durante mais de sete décadas, foi o Partido Revolucionário Institucional (PRI) quem deu as cartas no México. Em 2000, depois de sucessivos governos lembrados principalmente pelo alto índice de corrupção, o partido finalmente perdeu a hegemonia no Palácio Nacional, na Cidade do México. Até o fechamento desta edição, a expectativa era de que o PRI recebesse de volta o poder que por tanto tempo reteve nas mãos. Depois de uma eleição marcada pelo forte esquema de segurança e pelas denúncias de compra de votos, o advogado Enrique Peña Nieto, de 45 anos, deve ser confirmado como presidente da república. Uma pesquisa de boca de urna, divulgada às 22h de ontem (hora de Brasília), pelo instituto GEA-ISA Milenio, confirmava os prognósticos: Peña Nieto aparecia com 42% dos votos, contra 31% para López Obrador.

A 60º pessoa a sentar-se na cadeira presidencial terá a difícil tarefa de colocar a economia mexicana na rota de crescimento e lidar com a violência, que ceifou a vida de 50 mil mexicanos nos últimos seis anos. O processo eleitoral começou com chuvas e com longas filas. As 143 mil seções foram abertas às 8h (10h em Brasília), quando os primeiros dentre os 79,5 milhões de eleitores começaram a votar na eleição de turno único. A menos que ocorra uma reviravolta sem precedentes, Peña Nieto, líder nas sondagens, deve bater o rival, Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), com uma diferença de 17 pontos percentuais. Obrador é dissidente do PRI e perdeu as últimas eleições por 0,56% dos votos.

Confiante na vitória, Peña Nieto foi o primeiro a votar, na cidade de Atlacumulco, no subúrbio da capital mexicana. Estava acompanhado da mulher, a atriz de telenovelas Angélica Rivera, e dos filhos. "Que o povo do México seja o vencedor", declarou, entre acenos. López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, votou na capital e pediu à população que comparecesse às urnas. "O voto é a única arma que os cidadãos têm para conseguir a mudança", disse, em referência ao clima de "já ganhou" instaurado em torno do candidato do PRI, que poderia desestimular os eleitores.

Provavelmente, o principal derrotado nestas eleições, o Partido da Ação Nacional (PAN), do presidente, Felipe Calderón, não conseguiu emplacar sua candidata, Josefina Vásquez Mota. Embora tenha aparecido empatada com López Obrador em alguma sondagens, ela fracassou em desvincular sua imagem do governante. Apesar da expectativa de derrota de seu partido, Calderón considerou o pleito tranquilo. "Na maior parte do país, as votações se desenrolam com normalidade. Esperamos que o povo do México siga se manifestando pacificamente para escolher nossos governantes", disse, após depositar o voto.

Policiais patrulham a região de Tlaxcala, 200km a leste da capital

Analistas Javier Oliva Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidad Nacional de México (Unam), acredita que o provável retorno do PRI ao poder se deve ao fato de que nem o direista PAN nem o Partido da Revolução Democrática (PRD) tiveram a capacidade de se manter competitivos. O especialista alertou ao Correio que o PRI precisará abandonar seu velho estilo de governo. "O PRI antigo terá que reconhecer que seu tempo passou. O México necessita voltar ao cenário internacional, pois tem carecido de uma política externa própria e eficiente", explicou. "Com o partido de Penã Nieto, o país será obrigado a ter uma política social mais qualificada, distanciando-se das condições impostas pelo mercado e pelos capitais especulativos", acrescentou.

Mas há quem pense que o PRI não esteve alheio ao poder nos últimos 12 anos, dominados pelo PAN. "O PRI não desapareceu por completo do governo. Ele seguia exercendo sua influência em dois terços dos estados mexicanos", explicou Vicente Sánchez Munguia, cientista político do Colégio da Fronteira Norte, em Tijuana. Segundo o analista, esse entrincheiramento permitiu ao PRI se recuperar. O desgaste e a inépcia do governo de Calderón em realizar transformações importantes nas instituições do Estado e em melhorar as condições de vida da população também beneficiaram o partido. "Muitas pessoas gostam mais do PRI do que do PAN, e consideram seus dirigentes mais aptos a governar, ainda que sejam igualmente corruptos", comentou. Munguia admite, porém, que uma parcela mais jovem e educada da população exercerá pressão sobre o novo governo. "A provável vitória de Peña Nieto não será um cheque em branco ao portador", advertiu.

Que o povo do México seja o vencedor" Enrique Peña Nieto, candidato do PRI

"O voto é a única arma que os cidadãos têm para conseguir a mudança" Andrés Manuel López Obrador, candidato do PRD

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