O Estado de São Paulo, n. 45678, 09/11/2018. Política, p. A10

 

Dez deputados são presos no Rio em investigação sobre propina

09/11/2018

 

 

Segundo apurações, parlamentares da Alerj cobravam 'mensalinhos' para votar a favor dos interesses de Cabral

 

Roberta Pennafort / RIO

Dez deputados foram presos ontem no Rio na Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato. Segundo as investigações, os parlamentares votavam de acordo com interesses do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e, em troca, recebiam “mensalinhos”, que podiam chegar a R$ 900 mil, e o direito de nomear apadrinhados para cargos em órgãos como o Detran-RJ e em empresas terceirizadas. O esquema teria movimentado pelo menos R$ 54,5 milhões em pagamentos de propina entre 2011 e 2014.

Além dos parlamentares, outras 12 pessoas foram presas, incluindo o presidente do Detran, Leonardo Jacob, o ex-presidente do órgão Vinicius Farah, recém-eleito deputado federal, e Affonso Monnerat, secretário de Governo de Luiz Fernando Pezão (MDB) – que não é investigado.

Os crimes investigados são pertencimento a organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. O esquema, segundo o procurador da República Carlos Aguiar, transformou a Alerj em uma “propinolândia”.

“Esses personagens lotearam o Estado para viabilizar seus interesses políticos, numa relação absolutamente promíscua, de ‘toma lá, dá cá’”, disse.

Segundo as investigações, o deputado com maior volume de recursos era o ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani (MDB), que está em prisão domiciliar: R$ 16 milhões. Paulo Melo, que estava preso, teria ficado com R$ 14 milhões. Melo receberia o “mensalinho” mais gordo: R$ 900 mil – o que indica que seria responsável pela distribuição para colegas. Para André Correa (DEM), também preso, foram mais de 30 transações detectadas. Sétimo mais votado no Rio nas últimas eleições, Correa foi líder de Cabral na Alerj. Cinco dos dez deputados presos acabam de ser reeleitos.

Paulo Melo teria feito 40 nomeações para aliados; Luiz Martins (PDT), preso ontem, 137. Chiquinho da Mangueira (PSC), também preso, 74. Chiquinho é presidente da escola de samba Mangueira e, no carnaval de 2014, de acordo com as investigações, teria usado R$ 3 milhões para custear o desfile.

“O Executivo cooptou o Legislativo e isso gerou a falência dos serviços públicos e dos mecanismos de controle”, afirmou a procuradora Renata Baptista.

Procurados, os deputados André Correa, Jorge Picciani, Edson Albertassi e Chiquinho da Mangueira negaram as acusações. Paulo Melo, Coronel Jairo (SD), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Abrahão (Avante) e Marcus Vinícius “Neskau” (PTB) não se manifestaram, assim como o ex-presidente e o atual chefe do Detran. A defesa de Cabral não se manifestou.

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Ex-chefe do MP estadual é preso por elo com Cabral

09/11/2018

 

 

Denunciado por quebra de sigilo funcional e corrupção ativa, Claudio Lopes foi preso em sua casa, no Rio

Acusado de participar de esquema de propinas liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB), o ex-procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Claudio Lopes foi preso ontem, em sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio. A informação foi confirmada pelo Ministério Público do Estado do Rio.

Como procurador-geral, Lopes chefiou a instituição no Estado entre 2009 e 2012. Em outubro foi denunciado pelo próprio órgão por formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva e quebra de sigilo funcional. No mesmo processo, que tramita em segredo de Justiça, também foram denunciados Cabral, o ex-secretário estadual de Governo Wilson Carlos e Sérgio de Castro Oliveira, suposto operador financeiro do ex-governador.

Na denúncia, porém, o único que teve a prisão pedida pelo Ministério Público foi Lopes. O ex-procurador-geral é acusado pelo ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes e pelo exsubsecretário executivo da mesma pasta Cesar Romero de ter vazado para ambos a realização de operação de busca e apreensão que seria realizada na casa de Romero, a pedido do MP, em novembro de 2010.

A busca foi feita, mas não foram encontrados documentos comprometedores porque, no dia anterior, Romero destruiu o material que poderia incriminálo, usando até um triturador de papel, segundo contou à Justiça.

Segundo um ex-operador do ex-governador, Carlos Miranda, Lopes também recebeu mesada a mando de Cabral, enquanto este governava o Estado e Lopes chefiava o Ministério Público. O Estado procurou representantes de Lopes para que se manifestassem sobre sua prisão, mas não conseguiu contato até a conclusão desta edição.