Título: Lula foi vigiado no governo Collor
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Política, p. 3
Logo após o político alagoano subir a rampa do Palácio do Planalto, arapongas da Secretaria de Assuntos Estratégicos passaram a monitorar o rival petista JOSIE JERONIMO
Documentos da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) tornados públicos ontem no acervo do Arquivo Nacional abrangem 161 relatórios de monitoramento das atividades de Luiz Inácio Lula da Silva durante o primeiro ano do governo de Fernando Collor de Mello, 1990, poucos meses após o alagoano vencer o rival na disputa pelo Palácio do Planalto. Os informes relatam supostas viagens de Lula, reuniões internas do PT e uma eventual proximidade do petista com a empreiteira Andrade Gutierrez, que teria arcado com despesas de viagem e procedimento médico do ex-presidente e sua filha.
"Relatório versa sobre vinculações entre Luiz Inácio Lula da Silva, a construtora Andrade Gutierrez e a Editora Jorues, ressaltando que, durante a campanha presidencial de 1989, aquela editora e sua sócia Marília Furtado de Andrade e Felipe Belisário Wernus pagaram despesas de viagens aéreas de Lula. Marília Furtado também pagou as despesas com cirurgia plástica e viagem para Paris da filha de Lula, Lurian", traz o documento da SAE, atualizado em 1994.
Os relatórios de monitoramento das atividades de Lula à frente do "governo paralelo", nome dado ao grupo de opositores que criticava a administração de Collor, também trazem informe sobre a discussão de manifestação política contrária a Paulo Maluf na disputa eleitoral de 1989. "Embora tenha manifestado disposição de participar de comícios contra Paulo Salim Maluf, Luiz Inácio Lula da Silva não pretende apoiar publicamente Luiz Antônio Fleury, outro candidato à sucessão paulista pelo PMDB", registrou a SAE.
Supostas viagens de Lula à Áustria e à Itália e a participação em um curso de planejamento ministerial promovido por uma entidade da Alemanha em Atibaia (SP) foram acompanhadas por agentes do governo Collor. Os responsáveis por seguir os passos de Lula obtiveram até mesmo estudos produzidos por assessores do petista que criticavam o texto de uma medida provisória que Collor queria emplacar para promover alterações no regime da Previdência. "Teor de estudo contrário à Medida Provisória n° 255 que trata dos benefícios da Previdência Social, produzido por assessores de Luiz Inácio Lula da Silva, julga que a Medida Provisória n° 255 não é urgente nem relevante. Na conclusão dos assessores, a MP 255 procura confundir a opinião pública, fazendo com que conquistas sociais asseguradas pela Constituição passem a ser dádiva do presidente da República", diz trecho do documento.
Sarney Antecessor de Collor na cadeira presidencial, José Sarney também foi monitorado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos. Em 1990, poucos meses após a eleição do peemedebista para o Senado, informes da movimentação política de Sarney foram enviados ao governo. "Na busca de efetivar sua liderança, o senador eleito e alguns de seus colaboradores e amigos mais importantes já estão tentando influenciar na elaboração das normas para a composição da Mesa Diretora do Senado. Salienta-se que, durante o desenvolvimento dos trabalhos legislativos, José Sarney deseja firmar-se como um líder político nacional e, para tanto, pretende contar com o respaldo de seus colaboradores objetivando assumir as funções de relator da futura revisão constitucional."
A leitura dos documentos que tratam de assuntos de Estado até então secretos foi desburocratizada com a aprovação da Lei de Acesso à Informação. Desde que a norma foi sancionada, o Arquivo Nacional passou a ser altamente demandado por pesquisadores, profissionais da imprensa e estudantes. A demanda, no entanto, vai cessar, porque a partir de hoje os servidores do órgão entrarão em greve por tempo indeterminado.
"Embora tenha manifestado disposição de participar de comícios contra Paulo Salim Maluf, Luiz Inácio Lula da Silva não pretende apoiar publicamente Luiz Antônio Fleury, outro candidato à sucessão paulista pelo PMDB" Trecho de documento da Secretaria de Assuntos Estratégicos de 1990
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