Título: Documentos serão digitalizados
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Política, p. 3

A Comissão Nacional da Verdade irá pedir ao governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), que digitalize os documentos guardados no Conselho de Direitos Humanos do estado (Conedh-MG), com depoimentos e informações sobre a ditadura. Esses arquivos estão empilhados em caixas de papelão e o colegiado teme que eles estraguem e se percam. Nessas caixas, estava guardado o relato da presidente Dilma Rousseff sobre a tortura que sofreu em Juiz de Fora (MG), fato desconhecido até ser revelado pelo Correio e pelo Estado de Minas.

Segundo o coordenador da Comissão da Verdade, Gilson Dipp, o intuito é preservar os documentos, que podem ter informações históricas relevantes, e não estão acomodados de forma adequada. "(As informações) da presidente a gente já sabe o que é. Mas precisamos que o governo dê um tratamento adequado àquela joia, àquela preciosidade. Pode ser até que não tenha tanta coisa, mas não dá para subestimar. Um laudo, um negócio, que não seja novidade, mas que para a história seja importante", avalia Dipp. Ele frisa que os documentos são propriedade do estado mineiro, mas não descarta a possibilidade de, em um acordo futuro, solicitar que sejam disponibilizados também no Arquivo Nacional.

O grupo designou a historiadora Heloísa Starling, que é assessora da comissão e pesquisadora pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para avaliar a natureza do acervo e as condições de armazenamento. Segundo ela, além de digitalizar, o ideal seria acondicionar os originais em armários próprios para isso, com controle de umidade e luz. "As condições de armazenamento não são das melhores. O Conedh-MG foi heroico no sentido de conservar esses documentos da melhor maneira possível. Mas eles devem ter uma condição melhor, até para serem acessíveis à sociedade, aos pesquisadores e, inclusive, à Comissão da Verdade", sustenta.

Além de Heloísa, um grupo de 19 estudantes coordenados por ela estão conduzindo projetos de pesquisa avaliando os documentos. Os arquivos não virão fisicamente a Brasília. Serão analisados pelo grupo, que vai tirar cópias e enviá-los à Comissão da Verdade quando encontrar informações importantes. A historiadora conta que ainda não viu todo o acervo, mas que já pode perceber que muitas informações inéditas podem sair desses arquivos. "O que já está evidente nesse acervo é o fato de que ele é inédito. Certamente, vai trazer informações novas sobre eventos importantes, como a greve de Contagem, o massacre de Ipatinga e a greve de João Monlevade", diz.

Araguaia O Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), coordenado pelos ministérios da Defesa e da Justiça, além da Secretaria de Direitos Humanos, foi recebido pelos integrantes da Comissão da Verdade ontem. A reunião foi um primeiro contato entre os dois grupos. O GTA convidou os integrantes da comissão a participarem das expedições realizadas na região do Araguaia e pediu ajuda para a aquisição de tecnologia a fim de fazer exames de DNA nas ossadas encontradas na área do conflito.

"Mesmo que a nossa Polícia Federal tenha um instituto de tecnologia, uma perícia técnica muito avançada, no aspecto de DNA, nós podemos fazer uma requisição para os Estados Unidos. As ossadas descobertas se desintegraram. Alguns exames são feitos logo que a terra é aberta, mas por mais cuidado que se tenha para deslocar essas ossadas, elas se desintegram como pó, devido à terra úmida e ao calor intenso", explica Dipp. Na reunião, também foi criada uma subcomissão de trabalho, a de Comunicação Externa, que ficará responsável por divulgar periodicamente a produção do colegiado.

"Os documento devem ter uma condição de armazenamento melhor, até para serem acessíveis à sociedade, aos pesquisadores e, inclusive, à Comissão da Verdade" Heloísa Starling, assessora da Comissão da Verdade