O globo, n. 31139, 08/11/2018. País, p. 9

 

Equipe de transição sofre primeira baixa

Igor Mello

Jussara Soares

08/11/2018

 

 

Responsável por comunicação digital da campanha, Marcos Aurélio Carvalho foi criticado por Carlos Bolsonaro após entrevista ao GLOBO. Empresário diz que seguirá colaborando com o presidente eleito como voluntário

Três dias depois de empossada, a equipe de transição de Jair Bolsonaro teve ontem sua primeira baixa, o empresário Marcos Aurélio Carvalho. O anúncio foi feito pela equipe presidencial um dia depois do especialista em marketing, responsável pela campanha digital de Bolsonaro nesta eleição, dar entrevista ao GLOBO. Dono da agência AM4, ele afirmou que não ocuparia um cargo no governo, mas gostaria de atuar como assessor informal para Bolsonaro.

As declarações de Carvalho provocaram desconforto no núcleo próximo ao presidente eleito e irritaram Carlos Bolsonaro,de Jair e vereador no Rio, que acusou Carvalho de querer se promover às custas do futuro governo. Ele usou seu perfil no Twitter para compartilhara reportagem e atacar o empresário. Ao compartilhara reportagem, o filho do presidente eleito ironizou: “Marketeiro digital? Tem uma galera quen ã ose cansa de querer aparecer e usando títulos que não refletem em uma linha de verdade! Todo mundo querendo sedar bem de algum jeito!”, escreveu Carlos.

As equipes de Bolsonaro e Carvalho apresentaram razões diferentes para a saída. Na manhã de ontem, um dos assessores de Jair Bolsonaro divulgou nota confirmando o desligamento do especialista em marketing digital: “Autointitulado conselheiro e marqueteiro digital de Bolsonaro, função que nunca ocupou, Marcos Aurélio Tavares foi exonerado do gabinete de transição de Bolsonaro no dia seguinte à sua nomeação”, diz o texto, que chama Carvalho de “Tavares”.

O empresário divulgou uma nota na qual afirma que pediu para ser exonerado do cargo, que lhe daria uma remuneração mensal de R$ 9,9 mil. Carvalho afirmou que seguirá colaborando coma equipe de Bolsonaro como voluntário: “Em função de notícias publicadas na imprensa envolvendo o meu nome, esclareço que minha participação na equipe de transiNão ção do governo federal se dará de forma voluntária. No dia de hoje (ontem), formalizei pedido para abrir mão de receber qualquer remuneração. Colaboro coma e quipede transição por acreditar no futuro governo e no intuito de contribuir com o meu país”.

A presença de profissionais de estratégia digital na campanha contrariava Carlos Bolsonaro, que administra as contas do pai nas redes sociais. Integrantes da campanha chegavam a pedir à imprensa quen ã ousasse apalavra“marqueteiro” paranã o irritar o filho do presidente eleito. Apesar de Carlos negar que a campanha tivesse uma equipe de marketing, a AM4 recebeu R$ 650 mil para serviços de internet e produção de programas de televisão.

Na entrevista, Carvalho disse que iria cuidar da comunicação da transição.

— Vou auxiliar na melhor comunicação desse processo de transição —resumiu. —É um processo natural. A gente ficou imerso na casa do Paulo Marinho convivendo com uma equipe reduzida, convivendo com os cabeças do partido. Para mim, foi difícil o dia seguinte. Você está naquela adrenalina, como você volta para o cotidiano normal do seu escritório?

Polêmicas no Twitter

O estrategista foi apresentado a Bolsonaro em janeiro deste ano, após procurar o então presidente do PSL, Gustavo Bebianno, e Flavio Bolsonaro. Por outro lado, Carlos Bolsonaro foi responsável pela gestão das páginas pessoais do pai nos últimos anos, quando ele se transformou em um fenômeno nas redes sociais.

éa primeira vez que Carlos usou seu perfil na rede social para torpedear aliados de seu pai. Em setembro de 2017, quando Jair articulava sua ida para o PSL, o filho atacou Bernardo Santoro, então um dos principais colaboradores da pré-campanha presidencial: “Ou Bolsonaro se descola de Bernardo Santoro e companhia ou sua essência poderá se acabar”, escreveu.

Segundo assessores próximos a Jair, outro rompante ocorreu em julho deste ano, e teve como alvos Gustavo Bebbiano, então presidente do PSL, e Julian Lemos, vice-presidente do partido, embora seus nomes não tenham sido citados. Na ocasião, o vereador alfinetou: “Tem muito vagabundo que chegou ontem e acha que está enganando alguém como guias de Jair Bolsonaro. Jamais caiam nesta narrativa, pois sempre foi autor de suas próprias ideias”.

No dia 18 de outubro,em meio ao segundo turno, Marcos Aurélio Carvalho já havia sido repreendido por Carlos: “Inventaram marketeiro, depois marketólogo e agora surge o “estrategista digital” de Bolsonaro. Muitos querendo lugara o solde maneira não republicana! A força de Bolsonaro está na identidade coma população e com boas pessoas em volta e estas são as que menos querem aparecer”, disse.