O globo, n. 31139, 08/11/2018. País, p. 10

 

Ciro e Marina articulam bloco de oposição a Bolsonaro sem o PT

Catarina Alencastro

08/11/2018

 

 

Objetivo é criar frente de centro-esquerda no Congresso; ex-ministro critica petistas e diz que democracia não corre risco

Os ex-ministros Ciro Gomes (PDT)e Marina Silva (Rede), que concorreram à Presidência este ano, se reunir amontem em Brasília primeiro passo para a formação de uma frente de oposição no Congresso ao governo do presidente eleito, Jair Bolso n aro( PSL), sema participação do PT. O objetivo da articulação é agregar partidos de centro-esquerda que se contraponham de maneira “programática” à futura gestão do Palácio do Planalto.

Iniciado pela cúpula do PDT no fim do primeiro turno, o processo de distanciamento em relação ao PT tem o objetivo de abrir caminho à candidatura de Ciro a presidente em 2022. Ao relatara conversa que teve com Marina, o pedetista fez questão, no entanto, de dizer que os dois não trataram de projeto eleitoral. Segundo ele, a conversa girou em torno de uma agenda comum de oposição pontual a Bolso naro,s ema desconfiança de que o novo governo represente uma ameaça à democracia.

—Eu e Marina somos muito amigos e partilhamos de algumas preocupações. Fui propor a ela uma rotina de diálogo. Precisamos criar uma frente não oportunista de guarda dos interesses da institucionalidade democrática, porque o PT introduziu uma retórica de que a democracia brasileira estava em risco. Nós não vemos assim até o presente momento —disse Ciro.

Ação programática

Segundo ele, a intenção do futuro bloco é reconhecer a legitimidade do presidente eleito e desejar que ele “acerte a mão” na condução do país. Enquanto isso, a frente fará uma “oposição programática” seguindo alguns princípios comuns, como a vigília às instituições e a defesa dos interesses dos mais pobres.

— Eu, com a chancela do meu partido, acho que a hegemonia pouco crítica que o PT nos impôs nesses 20 anos já deu, passou da conta e fez muito mal ao Brasil. Não existiria Bolsonaro sem o antipetismo. E o antipetismo foi introduzido por eles, petistas. Seria uma impertinência falar em 2022. O esforço que devemos ao paí sé de unidade. Eleição divide —afirmou.

Marina se pronunciou sobre o encontro por meio das redes sociais: “Trocamos ideias sobre o desafio de uma oposição democrática, que seja comprometida com o desenvolvimento sustentável, a defesa das instituições e do interesse nacional”, escreveu.

No Senado, já está em curso a construção, a partir da articulação do senador eleito Cid Gomes (PSB-CE), irmão de Ciro, de umblo co formado por PSB, Rede, PPS e PHS. Na Câmara, outro bloco montado por PDT, PSB e PCdoB, com potencial de adesão de PV e PPS, também é discutido.

—Nós não enxergamos que as instituições estejam correndo um risco. O PT é sempre assim: eles imaginam um monstro e depois querem aparelhar todos para derrotar o monstro que eles mesmos criaram —ironizou Cid.