Título: Ação contra a rasteira em Minas
Autor: Cipriani, Juliana; Alessandra, Melo
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Política, p. 6

Belo Horizonte — A decisão de quem será o candidato do PT a prefeito de Belo Horizonte pode parar na Justiça. Dois dias depois do rompimento com o PSB de Marcio Lacerda, chefe do Executivo municipal que tentará a reeleição, o atual vice-prefeito, Roberto Carvalho (PT), escolhido candidato do partido em convenção, registrou seu nome para concorrer ao cargo e ameaçou acionar a Justiça em caso de intervenção. Isso porque a Executiva Nacional entrou no processo para homologar, hoje, a troca do seu nome pelo do ex-ministro Patrus Ananias. A tentativa de mudança, no entanto, vai ser uma tarefa difícil, já que, de acordo com a legislação eleitoral, um nome já registrado só pode ser trocado se for indeferido, o candidato renunciar ou morrer.

Carvalho registrou sua candidatura a prefeito com o nome do secretário do PT, Geraldo Arcoverde, como vice para que, caso haja aliança com PMDB, PRB e PDT, o companheiro de chapa seja substituído. "Essa tentativa de mudança é um desrespeito, uma palhaçada de quem perdeu e não sabe reconhecer a derrota. Coloquei para a direção nacional que essa é a candidatura legal, legítima e aprovada em convenção. Está registrado, só troca se eu concordar", afirmou Carvalho. Sobre a possibilidade de abrir mão para Patrus, o vice-prefeito disse ter conversado com o ex-ministro há um ano e que o próprio Patrus não queria entrar na disputa. Agora, uma mudança de postura só ocorreria se decidida com a militância. "Mas o nome de Patrus não está colocado. Já estou preparando para quinta-feira um ato de lançamento da minha candidatura", afirmou. O argumento da Executiva mineira da legenda é que, pelo estatuto interno, apenas a opção de ter candidatura própria foi válida. Como a capital tem mais de 200 mil eleitores, a escolha do candidato teria que ser feita pelos 500 delegados, com análise posterior da cúpula nacional. Como não há tempo para realizar um novo encontro com os militantes, a única palavra será do grupo encabeçado pelo presidente nacional, Rui Falcão.

A candidatura de Patrus Ananias foi defendida ontem pelo presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, e pelo deputado federal Miguel Corrêa Júnior, duas horas depois de Marcio Lacerda anunciar Josué Valadão (PP) como candidato a vice. Hoje, petistas mineiros se reúnem com Rui Falcão em São Paulo, quando explicarão a situação em Belo Horizonte. Em coletiva no início da tarde, eles fizeram um apelo para que Roberto Carvalho desista da disputa em nome da "unidade" partidária. "Esse é o modelo que retratará a totalidade do PT", afirmou Miguel Corrêa, que se dispôs a compor a chapa com Patrus. Até então, ele havia sido indicado para vice de Lacerda.

Roberto Carvalho considerou ilegítima a coletiva dos dirigentes feita antes da reunião da Executiva Estadual, marcada para três horas depois. "Acho que lideranças que foram enganadas pelo PSB e disseram até sábado de manhã que haveria coligação de vereadores — que não ocorreu — deveriam ter humildade de assumir que erraram, enfiar a viola no saco e ajudar o PT", afirmou.

De acordo com Reginaldo Lopes, a opção por Patrus tem o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. A direção estadual ainda deixou claro que o partido está "tranquilo" e com "disposição total" para sair às ruas pedindo votos para Patrus. A legenda iniciou no domingo conversas com PRB, PRP, PCdoB, PDT e PMDB na busca de apoio. No início da noite, os integrantes da Executiva Estadual aprovaram o texto que será entregue hoje a Rui Falcão.

Traição

O rompimento do PT com o PSB tem como pano de fundo a decisão dos socialistas de não se aliarem com os petistas na disputa pelas 41 cadeiras de vereador. Essa era a condição do PT para se manter na coligação. A atitude dos ex-aliados foi classificada como uma "traição", pois em 9 de abril, o presidente estadual do PSB, Walfrido dos Mares Guia, encaminhou uma carta ao Grupo de Táticas Eleitoral (GTE) do PT em que disse textualmente: "Com relação ao estabelecimento de coligação proporcional com o PSB, manifestamos nossa aceitação em fazê-la com o PT e os outros partidos aliados, com os quais estabeleceremos as condições após o fechamento da chapa majoritária".

No sábado, a versão foi outra: "O PSB de Belo Horizonte decidiu lançar chapa própria para eleição de vereadores". A discussão sobre a chapa para a Câmara Municipal se estendeu até as 4h de sábado — último dia para as convenções partidárias. "Nós avisamos que o descumprimento de um acordo por escrito traria graves consequências", contou Reginaldo Lopes. Poucas horas depois, ele acompanhou Miguel Corrêa e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, na convenção do PSB. Os três não participaram do encontro petista, marcado para o início da tarde do mesmo dia. As especulações são que durante a tarde, por pressão do PSDB, que não concorda com a aliança proporcional entre PT e PSB, os socialistas recuaram.

Crise Os problemas entre o PT e o PSB não dissolveram alianças somente em Belo Horizonte. Em Recife e em Fortaleza, cidades em que a união dos partidos é histórica, a teimosia das legendas em apresentar candidatos próprios provocou irritação de ambos os lados. Na capital pernambucana, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos, aliou-se ao antigo desafeto Jarbas Vasconcelos (PMDB) e lançou o nome de Geraldo Júlio. Em contrapartida, o PT formulou uma chapa puro-sangue com Humberto Costa e João Paulo. Em Fortaleza, foi a prefeita Luizianne Lins (PT) que liderou divisão, insistindo no nome de Elmano de Freitas, a contragosto do governador Cid Gomes (PSB), que reagiu apoiando Roberto Cláudio, de seu partido.

Patrus quer apoio de Dilma e Lula» Baptista Chagas de Almeida » Daniel Camargos

Belo Horizonte — O ex-ministro Patrus Ananias (PT) já articula discurso de candidato e quer no seu palanque os principais caciques do PT, citando a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É preciso uma ampla maioria para enfrentar uma campanha difícil, que conta com a estrutura municipal e estadual", afirma o ex-ministro do governo Lula e ex-prefeito de Belo Horizonte. Os outros dois principais candidatos para a prefeitura de Belo Horizonte também são da base aliada do governo Dilma: Leonardo Quintão (PMDB) e Marcio Lacerda (PSB). Patrus se reuniu por duas horas na manhã de ontem com o deputado federal Miguel Corrêa Júnior, escolhido para ser o vice de Lacerda e também conversou com presidente do PT nacional, Rui Falcão, e com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. "Uma candidatura como a minha só tem sentido se for na perspectiva de unidade, de consenso ou ampla maioria", afirmou. O ex-ministro disse que ficou surpreso com a possibilidade de ser candidato, mas ressalta que existem várias questões para serem acertadas. A principal é não romper com Roberto Carvalho (PT), com quem tem uma amizade de mais de 40 anos, anterior à criação do PT. "Da época de movimentos sociais, muitos ligados à Igreja", lembra Patrus. A relação dos dois — agora rivais pelo posto de candidato do PT para a prefeitura de Belo Horizonte — é familiar, com amizade entre as esposas, inclusive. Patrus diz que não haverá uma imposição do PT pelo seu nome. "É um processo de diálogo. Não podemos colocar tudo ou nada. Na política, como na vida, existem posições que devem ser mediadas."

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 03/07/2012 04:42