Título: Campanha política, só depois da crise
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Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Economia, p. 11
Diante do oitavo corte seguido da previsão do PIB, Dilma Rousseff passa missão Eleições Municipais para o vice. A presidente teria contratado instituto para monitorar popularidade
Preocupada com o fraco crescimento do país em 2012, a presidente Dilma Rousseff mandou avisar: não vai participar de campanha política até que garanta um desempenho mais forte para a economia. Os indicadores apresentados pela equipe econômica à presidente — sobretudo as análises do Banco Central impressas no último Relatório Trimestral de Inflação — causaram ao Palácio do Planalto a sensação de que os esforços do governo têm sido em vão. O mercado, ainda mais pessimista, revisou ontem pela oitava semana seguida a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país). Derrubou de 2,18% para 2,05% — uma clara mensagem de que não acredita nas medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda.
A presidente, em conversas com integrantes da base aliada, tem dito que sua prioridade é o crescimento do país e que por isso não deve entrar na campanha. A missão de pisar nos palanques foi transferida ao vice-presidente, Michel Temer. Os partidos da base, no entanto, garantem não ter se frustrado com a notícia. "Isso não preocupa, é um comportamento correto e responsável da presidente, ainda mais em meio a essa crise internacional", disse Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara. Preocupada com os impactos do fraco desempenho econômico sobre sua popularidade e ciente de que uma economia ruim pode transformar em vilão qualquer presidente, Dilma teria contratado um instituto para avaliar a percepção população de seu governo com maior constância.
Pessimismo
Analistas e empresários têm se queixado de que as medidas do governo são pontuais, de curto prazo e que atendem apenas os setores que têm lobby organizado. Reclamam ainda que o consumidor está altamente endividado, o que tem travado as vendas. "As medidas impediram apenas que o pior se estabeleça", disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. "A indústria precisa recuperar a competitividade que perdeu frente aos importados, mas isso não se faz apenas com desvalorização do câmbio", observou. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a decisão do governo de acelerar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a prorrogação do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzido para produtos de linha branca e móveis também não surtirão efeito. "Não será suficiente para reanimar as expectativas de crescimento econômico. O mercado aposta, inclusive, que o BC terá de desacelerar o ritmo de queda de juros", argumentou.