O globo, n. 31138, 07/11/2018. País, p. 12

 

'Marqueteiro' digital da campanha quer virar conselheiro informal

Bruno Abbud

Igor Mello

07/11/2018

 

 

Sócio da empresa que promoveu redes de Bolsonaro ganha R$ 10 mil na transição, mas diz refutar cargo no governo

Rosto por trás da estratégia de comunicação que conduziu Jair Bolsonaro à Presidência, o especialista em marketing digital Marcos Aurélio Carvalho, de 36 anos, não se vê ocupando um cargo no governo. Porém, diz que aceitaria o papel de conselheiro informal — função já exercida por nomes como Duda Mendonça, João Santana e, atualmente, por Elsinho Mouco.

Um dos sócios da agência AM4, que recebeu R$ 650 mil pela campanha de Bolsonaro, Carvalho é um dos 28 integrantes da equipe de transição, com salário de R$ 9,926,60. No grupo, irá atuar como uma espécie de marqueteiro do novo governo, embora não se descreva dessa forma. O convite para integrar o time da transição veio na última quinta, através de Onyx Lorenzoni.

— Vou auxiliar na melhor comunicação desse processo de transição — resume. — É um processo natural. A gente ficou imerso na casa do Paulo Marinho convivendo com uma equipe reduzida, convivendo com os cabeças do partido. Para mim foi difícil o dia seguinte. Você está naquela adrenalina, como você volta para o cotidiano normal do seu escritório?

Apesar da nomeação, o empresário — que rejeita o rótulo de marqueteiro — diz não ter vontade de fazer parte do governo, mas admite que aconselharia o presidente sobre sua estratégia de comunicação.

— Acho que não (teria cargo). É um ritmo diferente, tenho família, sou pai de três filhos. Uma coisa é assumir um compromisso de dois meses, outra é assumir um de quatro anos. Mas me sentiria à vontade em dar conselhos, me sentiria prestigiado se alguém me chamasse para dar qualquer tipo de conselho.

O primeiro contato com Jair Bolsonaro se deu através de Gustavo Bebianno, àquela altura presidente do PSL, e seu filho Flavio. Foi a AM4 que os procurou com a intenção de participar da eleição.

— Eu me afastei da direção do grupo AM4 e estamos produzindo um acordo de acionistas para criar uma quarentena de ficar quatro anos sem prestar nenhum serviço novo para governo federal. Vai sair caro, mas prefiro ter essa condição para que não se crie conflito.

Fundada em 1999, a AM4 dispõe de 130 funcionários distribuídos entre a sede, em Barra Mansa, e as filiais em Brasília, Campinas, Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Durante a campanha, teve de aliar esforços nas redes sociais de Bolsonaro com o filho do meio do presidente eleito, Carlos Bolsonaro, desde 2014 responsável pelas contas do pai na internet.

— O Carlos é o grande responsável pelo crescimento ao longo dos últimos quatro anos das redes pessoais do Jair. Ele conseguiu editorialmente captar de forma muito empírica, mas genial, o que as pessoas estavam almejando e desejando ouvir. A gente entrou já sabendo que era essa a estética.

Investigação de caixa 2

O empresário diz que só voltaria a trabalhar com eleições “a pedido do capitão”. Apesar de ter coordenado uma campanha vitoriosa, rejeita a imagem de ser um novo João Santana.

— Eu não acredito que existe um novo João Santana, isso não vai ser um negócio. Virou uma missão, a gente levou até o fim e graças a Deus ganhamos. Pelo desgaste, os cabelos brancos e os quilos que ganhei faria de novo por um pedido do capitão — garante.

Segundo Carvalho, a estratégia da campanha para o WhatsApp passou pela criação de aproximadamente 250 grupos estaduais. Ele rebate as denúncias de que a campanha recebeu recursos por meio de caixa 2 para o pagamento de disparos em massa no aplicativo. O assunto é investigado pela Polícia Federal.

— Quem entende um pouco dos movimentos da internet sabe que isso não para em pé — afirma.

“Não acredito que existe um novo João Santana, isso não vai ser um negócio. Virou uma missão, a gente levou (a eleição) até o fim e graças a Deus ganhamos”

Marcos Carvalho

Sócio da empresa de marketing digital que atuou para a campanha de Jair Bolsonaro